Teste o seu Português (743)

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Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman (*)

UM OLHAR EM TRÍADE: CAMINHOS ABRINDO ESPAÇOS (continuação)

Dante Alighieri, um dos maiores poetas de todos os tempos: o poeta da esperança. Visionário, precursor e pai da língua italiana. Vivendo na Idade Média, o seu espírito adiantou-se muitos séculos em relação aos contemporâneos e, ainda hoje, os seus rasgos de modernidade nos deixam surpreendidos. Sua obra monumental, A Divina Comédia (1822), uma visita imaginária ao além-túmulo. É uma das glórias da literatura universal, cuja importância radica-se na mensagem que contém, segundo a qual o homem deve explorar o íntimo de sua alma, olhar o próprio coração e erguer-se acima do pecado e da tentação, para se tornar digno da sociedade. Escrevendo numa época semelhante à nossa, plena de convulsões, o poeta faz um apelo ao homem, em prol da ordem e da paz. Vislumbra um mundo unido, conceito que faz dele o primeiro europeu de mentalidade moderna. Aponta-nos um caminho: é durante a vida terrena que o homem decide o seu destino. Em seu último e sonoro verso, assegura-nos de que o sol e as outras estrelas são movidas pelo Amor.
E um olhar de Ana Maria, escritora, e outro de Elisabeth, ilustradora, nos fazem ler e ver que a selva escura, repleta de pecadores, de animais ferozes, de anjos de cara feia, de gente que mal se mostra, de demônios, de hipócritas vestidos de capuzes de frade, pode ter um Virgílio, símbolo da razão, uma Beatriz, símbolo da Fé (observe-se o olhar lateralizado de Dante, parecendo procurar a amada). Assim, rompendo o caminho do obscurantismo, pode-se encontrar uma estrada.

Ao exaltarmos o grande poeta florentino, celebramos o nascimento do homem moderno. E eis Carlos Drummond de Andrade, com sua pedra no meio do caminho. Poema que tanto escândalo e divergência provocou, quando publicado. E mesmo depois, a tal ponto que o próprio poeta organizou, em 1968, uma antologia, Uma Pedra no Meio do Caminho – Biografia de um Poema, onde reuniu tudo o que se publicou a respeito, ou se fez, parodiando seus versos.

Nunca me esquecerei desse acontecimento
na vida de minhas retinas tão fatigadas.
Nunca me esquecerei que no meio do caminho
tinha uma pedra
tinha uma pedra no meio do caminho
no meio do caminho tinha uma pedra.

Verso livre, linguagem coloquial, poema de circunstância e da captura do cotidiano, tornado assunto poético. Obra de estreia do poeta, Alguma Poesia, datada de 1930, marcou-se pelo senso de humor, pela ironia. Eis a polêmica causada pelo poema “No meio do Caminho”. A selva escura de Dante, a pedra de Drummond. O olhar frontal do poeta para a imensidão… papel e caneta na mão. O não recuo. A coragem de ir além. Voltar é regredir, é não dizer sim ao plano de maturação do movimento modernista dos anos 30. Drummond, sabendo-se intelectual e responsável pelo desenvolvimento da cultura brasileira, dá vida às palavras de Bosi (1978, p. 491):

[…] o peso da tradição não se remove nem se abala com fórmulas, (…) mas pela vivência sofrida e lúcida das tensões, que compõem as estruturas materiais e morais do grupo em que se vive.

Antônio Carlos Brasileiro de Almeida Jobim, maestro da bossa-nova, introdutor de arranjos que renovaram as estruturas tradicionais da música popular brasileira. Pianista, maestro arranjador, compôs canções ao mesmo tempo sofisticadas e acessíveis ao gosto popular. Águas de março (1972), composição inspirada na natureza e da qual nasce o questionamento primeiro de Abrindo o Caminho.
E a perspicácia do olhar de Ana Maria fecha a primeira tríade:

“Era pau.
Era pedra.
Era o fim do caminho?”
No meio do caminho de Tom tinha um Rio… de Janeiro a ser transformado, a ser arquitetado pela música inebriante e renovadora: a bossa-nova. Era preciso abrir caminho. A luz da manhã, a aurora, traria o “fim da picada”, as águas de março fechariam o verão e trariam vida, renovação à música popular brasileira. Seu olhar lateralizado busca a outra margem… foi preciso ultrapassar o rio… e a história da música popular brasileira mudou de rumo, graças a ele, Tom.

As dificuldades encontradas no decorrer dos caminhos de Dante, Drummond e Tom, revestiram-nos de coragem, de fé e assim…

“Cada um no seu canto.
Com seu canto
nos chamou.
E nenhum de nós,
nunca mais, ficou sozinho.”
Sentindo-se chamada, Ana Maria reescreveu a história das três histórias, já agora no tempo do mundo narrado:
“No meio do caminho de Dante teve uma estrada.
No meio do caminho de Carlos teve um túnel.
No meio do caminho de Tom teve uma ponte.”
Três homens. Três vidas. Identidade de busca: a Arte como forma de ver o mundo, como forma de dizer o mundo, como forma de cantá-lo e encantar-nos.
O dito na estante da leitora: Divina Comédia, Bossa-Nova, Drummond… o visto nas mãos da leitora: a intersecção do ontem e do hoje. A certeza de que o convite a avançar para águas mais profundas deve ser discernido através de dificuldades encontradas, em cada caminho humano. O dar… e o receber… o receber e novamente dar… círculo constante da vida. O olhar da leitora… o olhar do pássaro… o olhar transformador através da janela. Na doação, o fim da solidão. (Continua na próxima edição).

Teste seu Português:

1 – A moqueca capixaba leva __________.
a ( ) urucum;
b ( ) urucu.

2 – Eu comi um delicioso cuscuz. Se tivesse comido dois, como diríamos?
a ( ) dois cuscuz;
b ( ) dois cuscuzes;
c ( ) dois cuscuizes.

3 – Eu vou ___________ minha roupa na mala e sumir no mundo.
a ( ) introuchar;
b ( ) entrouchar;
c ( ) introuxar;
d ( ) entrouxar.

4 – Qual frase abaixo está correta?
a – Aquele automóvel custou uma micharia.
b – Aquele automóvel custou uma mixaria.
E então, a ou b?

5 – Era um _________. Não tinha boca para nada.
a ( ) pascássio;
b ( ) pascáçio;
c ( ) pascácio;
d ( ) pascásio.

6 – Vamos __________ o amor nos corações humanos!
a ( ) insuflar;
b ( ) ensuflar;
c ( ) insulflar;
d ( ) ensulflar.

7 – O americano adora envolver-se no ___________ do samba.
a ( ) xacoalho;
b ( ) xocalho;
c ( ) chacoalho;
d ( ) chocalho;
e ( ) chacoalio;
f ( ) chocalio.
ATENÇÃO: existem duas alternativas corretas.

(*) Pesquisadora do GEPEFA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Famílias – UNESP/Franca. (até março de 2024).

RESPOSTAS

Resp 1.: a – b – A moqueca capixaba leva urucum / urucu.
Ambas as formas são corretas.
Urucum / urucu (= fruto em forma de cápsula vermelha ou amarela, coberta de pontas longas, secas e com polpa que envolve numerosas sementes).
Resp 2.: b – Eu comi dois deliciosos cuscuzes.
Cuscuz (= bolo salgado feito de farinha, geralmente de milho ou arroz, sardinha, camarão ou galinha).
Cuscuz plural, cuscuzes.
Resp 3.: d – Eu vou entrouxar minha roupa na mala e sumir no mundo.
Entrouxar (= empacotar).
Resp 4.: a – b – As duas frases estão corretas.
a – Aquele automóvel custou uma micharia.
b – Aquele automóvel custou uma mixaria.
Micharia / mixaria (= pequena quantidade de dinheiro). Cf. Borba 2004 Dic. UNESP do Port. Contemp.
Resp 5.: c – Era um pascácio. Não tinha boca para nada.
Pascácio (= indivíduo muito simplório, tolo, bobo).
Resp 6.: a – Vamos insuflar o amor nos corações humanos!
Insuflar (= incutir, infundir).
Resp 7.: c – d – O americano adora envolver-se no chacoalho / chocalho do samba.
Chacoalho / chocalho (= agitação, balanço).

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Tribuna do Norte – Natal (RN), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra – Tangara da Serra (MT).

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