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Teste o seu Português nº 59

Terezinha Bellote Chaman (*)

"É a intenção que batiza as nossas obras, chamando-as de boas ou más".

Suzana Gutierrez passa-nos, no texto abaixo, uma brilhante noção do que somos, em algumas circunstâncias. As partes, título de seu texto, retrata uma realidade vivida por alguns casais. Leia-o com atenção.

Tem dias que levantar cedo não dói. Hoje foi um e não me perguntem por quê. São 8h agora e eu já cataloguei fotografias de 1973… por aí, até 1992, ufa… Lembranças, algumas até meio amarelando, de coisas vividas e que passaram. Passaram? Umas sim e outras não. Coisas que marcam, como o mar azul de Tainhas, contrastando com o laranja do bote inflável cheio de boinhas de braço.

É… navegávamos com crianças… e como crianças, na segurança que a juventude dá. Éramos indestrutíveis, aptos a levar bebês para o alto mar num bote de dois metros. Estranho que o mar azul, um bote e as lembranças das muitas “indiadas” rumo ao sol, ao vento, ao mar e à aventura me tenham trazido, de repente, de volta ao passado mais recente. Mais precisamente segunda-feira, a última.

Não tinha nem mar azul, nem mesmo céu, pelo menos não olhei para o alto. Só coisas de cor cinza. Cinza era o prédio, a roupa da advogada, cinza era o chão, as portas, cinza sobriedade, cinza impessoal, cinza tapa sujeira, e depois dizem que blue é que é triste. Não éramos mais os jovens aventureiros arriscadores de bebês, desbravadores dos cafundós de qualquer praia paradisíaca. Éramos “as partes”. Cheguei a olhar para trás quando a oficial de justiça disse:

– As partes podem entrar.

Olhamo-nos. Como bons ex-aventureiros fomos juntos pra poupar os carros, mesma advogada, pra economizar, também. Um olhar e bastou. Olhos azuis nos outros olhos azuis: estes somos nós, “as partes”.

Sentamos, mãos geladas. E sentamos errado. Era para ser em lados opostos e sentamos lado a lado. Incrível que, depois de tanto tempo, a nossa segurança ainda era enfrentar aquilo juntos. A juíza, o único elemento de cor no recinto, balançou os ombros e as pulseiras e voltou os olhos para o texto. A pastinha laranja-bote contrastando com o azul-mar de sua blusa.

E nos resumiu…

– Vocês, “as partes”, são fulano e fulana, vocês têm isso, aquilo, aquilo outro e mais dois filhos.

Meus lindos bebês, que escaparam de morrer afogados no mar de Santa Catarina, sucumbiram à lei, coisificados junto com automóveis e apartamentos.

– Confere?

Que íamos dizer?

– Confere…

– A parte “tal” fica com isso… Confere? E a parte “outro tal” fica com aquilo… Confere?

– Confere…

Repartimos até os nossos bebês. Como se fosse possível repartir vida! Como se os sonhos dele não estivessem para sempre colados nos meus.

Sorte que não pensei em nada na hora. Acho que ser chamada de “parte tal” me anestesiou. Firulas legais foram recitadas. E eu ali esperando o “então vos declaro…” Mas não tem. E não tem música. E ninguém nos beijou na saída.

– “As partes” podem se retirar.

Cruzamos o corredor cinza e descemos pelo elevador cinza, a advogada cinza sempre falando, coisas de cor cinza.

Na rua enfim o sol. E eu rezando para que, pelo menos, um bote laranja me trouxesse pra casa.

Voltamos juntos, falando dos nossos bebês. Olhos azuis nos outros olhos azuis, eu ainda sei o que aqueles olhos pensam.

Estranhamente, desde lá eu venho pensando em mar, em botes, em vento…

E em bebês.

Vamos ao nosso "Teste o seu Português" de hoje.

1 – Onde devemos usar dia a dia ou dia-a-dia, nas frases abaixo:

a – O ___________ do casal é um verdadeiro paraíso.

b – _____________ faz sempre a mesma coisa.

E então: dia a dia ou dia-a-dia?

2 – Qual das duas frases está adequada:

a – Ele faz novos planos para o futuro.

b – Ele faz novos projetos para o futuro.

3 – Renato é ___________. Não bebe mais. Agora, só come com farinha.

a ( ) abstêmico;

b ( ) abistêmico;

c ( ) abstêmio;

d ( ) abistêmio;

e ( ) abs-têmio.

4 – Aponte a frase adequada:

a – Aquele garoto é de menor.

b – Aquele garoto é menor.

c – Aquele garoto é di menor.

Ouve-se isso, sempre, nas ruas de nossa cidade.

Qual a frase adequada?

5 – Nas frases abaixo, existe apenas uma que não leva hífen.

Você é capaz de dizer qual delas?

a – O jogador faz marcação homem-a-homem.

b – Ele é um homem-da-rua, cidadão comum.

c – Eu respeito um policial, afinal é um homem-da-lei.

Qual delas não leva hífen?

6 – Aquele artista caiu no ____________, depois de tanto sucesso.

a ( ) ostracismo;

b ( ) ostrassismo;

c ( ) hostracismo;

d ( ) hostrassismo.

7 – A frase abaixo está adequada?

Eu adoro conviver junto com o meu marido, apesar da goteira no teto da nossa casa.

a ( ) sim.

b ( ) não.

8 – É admirável a __________ do diretor da sua empresa.

a ( ) cizudes;

b ( ) sisudes;

c ( ) sizudez;

d ( ) cisudes;

e ( ) sisudez.

9 – Juvenal, às vezes, parece um __________, um ___________. Com todo o respeito!

a ( ) fenório – deboxado;

b ( ) finório – debochado.

10 – Você é capaz de apontar duas inadequações na frase abaixo?

A viúva do falecido teve de encarar de frente a realidade.

(*) Professora de Língua Portuguesa, com especialização em Lingüística de Texto. Mestre em Comunicação pela UNESP de Bauru – SP e Doutoranda em Comunicação e Semiótica pela PUC SP, Jornalista e produtora do quadro "Teste o seu Português", Programa "Chef" Allan, o Mestre-Cuca – CNT – Central Nacional de Televisão e RFTV – Rede Família de Televisão.

Respostas

Resp 1.: a – O dia-a-dia do casal é um verdadeiro paraíso.

b – Dia a dia faz sempre a mesma coisa.

Dia-a-dia (= rotina) substantivo.

Dia a dia (= diariamente) advérbio.

Resp 2.: Nenhuma das duas frases está adequada. Diga:

a – Ele faz novos planos.

b – Ele faz novos projetos.

Afinal: Alguém faz planos ou projetos para o passado?

Resp 3.: c – Renato é abstêmio. Não bebe mais. Agora, só come com farinha.

Abstêmio (= pessoa que não ingere bebidas alcoólicas).

Resp 4.: b – Aquele garoto é menor.

Menor (= de idade).

Resp 5.: A frase que não leva hífen é ( c ):

Eu respeito um policial, afinal é um homem da lei.

Homem da lei (= policial).

Resp 6.: a – Aquele artista caiu no ostracismo, depois de tanto sucesso.

Ostracismo (= esquecimento, desprezo).

Resp 7.: b – Não. A frase não está adequada. Prefira:

Eu adoro conviver com o meu marido, apesar da goteira da nossa casa.

Obs.: Conviver (só pode ser junto). Goteira (só pode ser no teto).

Resp 8.: e –É admirável a sisudez do diretor da sua empresa.

Sisudez (= seriedade, sobriedade).

Resp 9.: b – Juvenal, às vezes, parece um finório, um debochado. Com todo o respeito!

Finório (= astuto, ladino).

Debochado (= zombeteiro).

Resp 10.: As inadequações: viúva do falecido e encarar de frente.

Prefira dizer: A viúva teve de encarar a realidade.

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Tribuna do Norte – Natal (RN), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra – Tangará da Serra (MT).

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