Teste o seu Português (734)

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Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman (*)

Mário Chamie quer reinaugurar o debate poético.

“Neste campo
quando um gato olha, feche os olhos.
Os olhos do gato são a íris
das narinas que farejam o crime.

Mas
abra os olhos, quando um homem olha.
Os olhos do homem são o gato cego,
a pupila recolhida.
Feche e abra a mira
para a ave de rapina e seu morcego.”
(TELES, 1976, p. 361).

Prosseguindo com José Castello, no caminho crítico da poesia brasileira, aproximamo-nos de Mário Chamie, que conversa com seu público, após meio século de sua estreia, em 1955, com Espaço Cultural, prenúncio da instauração práxis de 1962. Ele prova que os sonhos não envelhecem e, segundo o crítico Castello, está cheio de fôlego e de amor à poesia, apontando-a como a “linguagem das linguagens” (2001, p. D1), privilegiando o poema como o espaço próprio de defesa da palavra, corpo vivo e não simplesmente vítima passiva dos contextos.

Acompanhando o processo de uma civilização tecnológica e respondendo às exigências de uma sociedade, impelida pela rapidez das transformações e pela necessidade de uma comunicação cada vez mais objetiva e veloz, surgem a poesia concreta e a poesia – práxis. Esta valoriza a palavra dentro de um contexto extralinguístico, concretizando-se pela periodicidade e repetição das palavras, cujo sentido e dicção mudam.

Mário Chamie, criador e principal poeta da poesia – práxis, cujo Manifesto Didático foi lançado em 1961, deseja, com força total, reinaugurar o debate poético. Desconfiando de todo e qualquer consenso, trabalha num inédito, Horizonte de Esgrimas. Em entrevista (Instituto Moreira Salles, 2001), muito bem conduzida pelo crítico jornalista Castello, Chamie revela, semelhantemente ao poeta de pedra, Cabral, um mal-estar com o ambiente que o cerca, tecendo severas apreciações, citando nomes, deixando entrever uma crítica, de sensibilidade habituada, laudatória, à qual nomeia: celebração seletiva. Defende a poesia que combina com a cultura da época: de fragmentação e estilhaços.

Castello permite-se mais sugerir que revelar, deixando ao poeta e ao tempo continuar a não cultivar igualdades apaziguadoras; ao leitor o espaço crítico-reflexivo de uma linguagem que pode ser uma força desestabilizadora. E aí, novamente, o campo dialogal por excelência se revela: Jornalismo x Literatura.

Num momento em que obras são mercadorias em busca de consumidores, em que a indústria cultural está presente na vida das pessoas e mobiliza tanto o interesse econômico, dir-se-ia que a reinauguração do debate poético por Chamie é extremamente saudável. Só os poetas sabem que a palavra abre-se a uma inesgotável infinidade de momentos de fruição, momentos esses que fogem de qualquer tentativa de se enclausurar o discurso definitivo. Como esclarece Chamie, no seu manifesto didático:

“O poema-práxis remodela o duo autor-leitor. O autor só é autor, enquanto no exercício da condição; enquanto pratica o ato de compor. […]

O ato de consumir é, para nós, o ato da leitura ao nível da consciência dos leitores. Não significa que devamos escrever para o leitor segundo a sua educação e o seu alcance intelectual, numa sociedade de privilégios. Não se trata disso. Trata-se de atender ao modo de ser dessa consciência projetada em dada situação. Qual é, hoje, esse modo de ser? É a utilidade. E o que é a utilidade para essa consciência? É tudo aquilo que ela pode usar e auferir ao nível dos seus fins.” (in Instauração Práxis, vol.I, p. 31 e 38, Edições Quiron, São Paulo, 1974).

Em Lavra Lavra, denominado por Noigrandes “Ladra Ladra”, janeiro de 1962, Chamie proclama a instauração práxis e contempla o poema-práxis como o que se organiza segundo três circunstâncias ativas: o ato de compor, a área de levantamento da composição, o ato de consumir. Identifica este com o ato da leitura, transformando cada leitor em coautor. Proposta que se prende à de Obra Aberta (1965) de Umberto Eco. Devido ao íntimo contato do autor práxis com a matéria que problematiza, sua consciência é a do objeto de seu texto. Sendo as áreas de problemas humanos o objeto do texto práxis, o autor passa também a leitor, e vice-versa.

E se é nas manifestações simbólicas da cultura que o homem preenche o abismo que o separa das coisas, de si próprio e dos outros, permitindo-se o acordar da consciência reflexiva, é pela linguagem e na linguagem que o homem se reconcilia consigo mesmo e por extensão, com o mundo. Nessa linha de pensamento, Castello nos mostra uma crítica literária/jornalística digna dela mesma, instalada no seio de uma sociedade em crise, entretanto disposta a passar alguma reflexão, desde que o leitor perceba a argumentatividade inscrita nas entrelinhas.

Teste o seu Português:

01 – A prática de fazer o bem chama-se:
a ( ) benemerência;
b ( ) benefisciência;
c ( ) beneficência;
d ( ) benefisência.

02 – Com o novo técnico, a seleção brasileira vai ___________ aquele velho e bom toque de bola?
a ( ) reçussitar;
b ( ) ressucitar;
c ( ) ressussitar;
d ( ) ressuscitar.

03 – Vou dar-lhe mais uma ______________. Cuidado ao atravessar a rua!
a ( ) admoestasão;
b ( ) admoestassão;
c ( ) adimoestação;
d ( ) adimoestasão;
e ( ) admoestação.

04 – Eu disse para ele não fazer aquele __________ na janela. Deu no que deu, um grande __________.
a ( ) escândalo – bafafá;
b ( ) iscândalo – ba-fa-fá;
c ( ) escândalo – bafafa.

05 – Foi um ___________ o comportamento daquele rapaz.
a ( ) vexami;
b ( ) vexame;
c ( ) vechame.

06 – Sete a um. Um verdadeiro ___________ o resultado daquele jogo.
a ( ) abisurdo;
b ( ) absurdo;
c ( ) abissurdo.

07 – Não se deve fazer um ___________ tão demorado.
a ( ) discurço;
b ( ) discursu;
c ( ) discurso.

08 – A ____________ é própria de quem não conhece o assunto.
a ( ) digressão;
b ( ) digreção;
c ( ) digresão.

(*) Pesquisadora do GEPEFA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Famílias – UNESP/Franca.

RESPOSTAS:

Resp 1.: c – A prática de fazer o bem chama-se: beneficência.
Beneficência (= caridade, filantropia).
Resp 2.: d – Com o novo técnico, a seleção brasileira vai ressuscitar aquele velho e bom toque de bola?
Ressuscitar (= voltar à vida, reaparecer).
Resp 3.: e – Vou dar-lhe mais uma admoestação. Cuidado ao atravessar a rua!
Admoestação (= advertência, aviso, conselho).
Resp 4.: a – Eu disse para ele não fazer aquele escândalo na janela. Deu no que deu, um grande bafafá.
Escândalo (= tumulto, cena).
Resp 5.: b – Foi um vexame o comportamento daquele rapaz.
Vexame (= vergonha).
Resp 6.: b – Sete a um. Um verdadeiro absurdo o resultado daquele jogo.
Absurdo (= disparate, tolice).
Resp 7.: c – Não se deve fazer um discurso tão demorado.
Discurso (= exposição didática de um assunto).
Resp 8.: a – A digressão é própria de quem não conhece o assunto.
Digressão (= desvio de assunto, divagação).

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra.

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