Desembargador José Renato Nalini (*)
Todos costumamos ser céticos ao chamado de salvar o Brasil, imerso na rapina e na gatunagem dos que se apoderaram do patrimônio público.
A primeira reação é argumentar sobre nossa impotência, insuficiência e insignificância diante do mal de que se impregnou a República, incapaz de fazer frente à metástase das suas entranhas. Mas um pouco de coragem levará à constatação de que governo precisa ser reduzido à sua missão original: instrumento de realização individual e coletiva. Meio e não fim! Ferramenta, não finalidade.
A cidadania é que deve tomar as rédeas.
Impor as políticas públicas saudáveis. Não pactuar com a malandragem, sob qualquer de suas formas. Não admitir malfeitos, seja quem for o malfeitor. O momento é de sacrifício e prudência. Reabilitar a ascese, que significa viver com menos. Consumir menos, gastar menos, pensar num amanhã que pode ser bem pior do que se imagina. Reduzir gastos, fazer mais com menos, exercer a criatividade. Inovar. Redesenhar estilos de vida. Valorizar o que se tem e não alimentar ilusões quanto ao amanhã.
Há irracionalidades que poderiam cessar de imediato, assim o quisesse a população. Pense-se em dispêndio desnecessário.
Quanto se gasta com a conservação de jardins e praças públicas? E com sua limpeza?
E com a pintura e preservação de estabelecimentos de ensino e próprios públicos destinados a outras finalidades?
Se as comunidades de bairro adotassem esses equipamentos e cuidassem de mantê-los em ordem, haveria orçamento para aperfeiçoar o sistema de saúde, o saneamento básico, a infraestrutura.
Houvera maior zelo por parte da cidadania e as cidades não estariam a oferecer esse espetáculo deprimente de sujeira, abandono, descaso e ocupação por um despossuído que perdeu (primeiro do que a matéria), a sua autoestima, o seu senso de dignidade. Quando nos acostumamos com a podridão, com a imundície e com a falta de estética e ética é a estética d’alma pouco pode fazer o Estado. Pois ele atende às aspirações da maioria, como deve ser no regime democrático. E se a maioria não tem capacidade de se indignar, continua a acreditar que o governo é o responsável por tudo e que na Constituição da República só há o capítulo dos direitos, excluída a tábua dos deveres, então não haverá mais jeito. Mergulhar no abismo e deixar a civilização muito longe é fácil e caminhamos, aceleradamente, nessa direção.
Mas a vontade humana é mais forte do que a inércia. Reajamos! Acordemos o inconformismo e o ímpeto de mudar! Façamos nossa parte! Assumamos nossas responsabilidades perante nossa descendência e retomemos as rédeas desta Nação, cuja trajetória não pode ser o de besta desgovernada, mas a de povo bom e suficientemente adulto para conduzi-la até sua nobre predestinação.
Nós sabemos que isso é possível! Basta querer com intensidade e converter a vontade em ação.
(*) É presidente do Tribunal de Justiça de São Paulo