João Baptista Galhardo
Não sei quem inventou a “lua de mel” ou viagem de núpcias. Deve ter sido alguma agência de turismo. Antigamente entre as famílias mais humildes o homem roubava a moça que com ele passava uma noite fora de casa. Isto significava que eles iriam se casar. Era uma lua de mel antecipada. A viagem de núpcias é um momento único vivido pelos nubentes. Inesquecível. Geralmente a preferência é por lugares calmos e aprazíveis. E sempre de acordo com os recursos financeiros do casal.
Difícil é a “lua de mel” sem dinheiro.
Quando casei fui de ônibus para São Paulo e daí para Santos, onde passamos uma semana numa pensão escolhida a dedo por incluir na diária o café da manhã, o almoço e o jantar. Passar a lua de mel em Santos era chique. Até hoje sinto na boca o gosto da maionese de batatas com marisco, servida em todas refeições. Vão gostar de maionese assim… Havia ainda a faculdade de assistir televisão numa sala coletiva. Se retrocedesse no tempo não faria lua de mel. Iria da Igreja para casa, o novo lar. Trancaria as portas, colocando pelo lado de fora “não perturbe”.
Um casal foi fazer a lua de mel. Viajando de trem passaram por um túnel comprido e escuro. O maridinho disse para a mulher: “se soubesse que era tão longo assim eu teria feito amor”. A mulher assustada falou: “quer dizer que não foi você?”.
Mas a viagem de núpcias é necessária para que o casamento seja completo. Com fotografias e história para ser lembrada e contada. Como a que ouvi reiteradamente e com detalhes por parte do Frederico e da Natália. Quando casaram eles foram para uma estância isolada no alto de um morro. A cidade mais próxima, praiana, com pouco mais de cem mil habitantes, ficava quinze quilômetros dali. À noite resolveram visitá-la. De porte médio, mas muito agitada. Passam por um Restaurante que anunciava “HOJE SHOW DO TABOSA”. Proibido para menores de vinte e um anos. Jantar incluído no ingresso. Num recinto o “self service”. Depois se dirigiam para um pequeno teatro ao lado com um auditório de quarenta lugares. Pequeno palco em forma de meia lua, escondido por um cortinado vermelho. No auditório pouca iluminação. De repente abre a cortina vermelha. No centro do palco um colchão redondo sobre um estrado. Chega o Tabosa, trajando apenas um vistoso roupão azul. Cumprimenta a platéia curvando-se em direção ao público. Já pelado, num ritual de acasalamento mantém relações sexuais simultâneas com três donzelas. Uma loira, uma morena e uma mulata. O público comportado. Sem assobios. Sem gracejos. Sem sacanagem. Era mais um espetáculo de virilidade e saúde, do que propriamente pornográfico. E naquele tempo não havia energético algum. Para terminar o espetáculo um assessor coloca no palco uma pequena mesa e sobre ela três nozes, que são rachadas pelo Tabosa, com sua ferramenta de trabalho. O público aplaude em pé. E o artista de roupão posto, retira-se respeitosamente. Ele já passava dos quarenta anos. Falavam que se apresentava há mais de dez e que seria o proprietário do estabelecimento. Fred e Nat contaram a história dezenas de vezes.
Para comemorar bodas de prata, vinte e cinco anos depois, resolveram fazer aquele mesmo percurso. A mesma estância. E naquela cidade, tiveram a curiosidade de passar em frente ao Restaurante. Para surpresa estava ali o cartaz “NÃO PERCAM O SHOW DO TABOSA”.
– Não é possível, disse o Fred. Compraram ingresso e entraram. Idêntico espetáculo. É claro que as moças eram outras. Tabosa o mesmo. Já com fortes entradas na testa, cabelos brancos e compridos, penteados a “rabo de cavalo” amarrado atrás. Um pouco mais magro. Devia beirar os setenta anos. Com a mesma performance e desempenho repetiu o show. Só o final foi diferente. No lugar de três nozes, ele quebrou três cocos verdes. Um de cada vez, com certeiras cacetadas. Fred e Nat não agüentaram. Foram ao camarim pedir autógrafo. Tiveram curiosidade de lhe indagar o porquê de não utilizar mais as nozes. Já vestido, colocando a mão no ombro do Fred disse: “a idade meu senhor. A idade. Com o tempo a vista vai enfraquecendo. Um dia não consegui acertá-las. Daí em diante passei a quebrar cocos. São maiores e bem visíveis”.
Na despedida Tabosa aconselhou: – filho, você ainda é jovem. Cuide da vista enquanto é moço. A velhice não perdoa…