O homem também é um dependente

Marilene Volpatti

Ele acaba precisando da parceira para tudo. Quer ajuda profissional, psicológica e financeira, não consegue ficar só. Não é fácil conviver com um homem com essas características.

É difícil definir a dependência. Tem quem confunde com amor verdadeiro – aquele que, segundo as músicas dor-de-cotovelo, principalmente as sertanejas, até mata quando abandonado. Precisar de outra pessoa não é apenas bom, é necessário. Mas a carência em excesso causa sérios danos. A pessoa que é adorada (não amada) se sente sufocada. Quem não conhece uma mulher que precisa do namorado ou marido para ter auto-estima e não consegue tomar uma decisão – seja ela qual for – sem o veredito do amado? O homem age da mesma maneira. Mas, a mulher, não dá muita importância para esse comportamento. Considera prova de carinho e, só vai acordar para esse fato quando estiver esgotada, exaurida em socorrê-lo em tempo integral.

O homem é menos dependente que a mulher. Mas, por mais que estudos sociológicos demonstrem que mulheres sozinhas – principalmente as mais velhas e viúvas – são mais saudáveis do que os homens nessas mesmas condições, elas insistem em acreditar que a dependência é uma característica feminina. Para provar o equívoco basta ir até uma casa de repouso para idosos. Enquanto os homens ficam perdidos, demonstrando uma dificuldade enorme em fazer amigos, as mulheres se reúnem para bater papo, fazer crochê, mostrar fotos da família, jogar baralho…

Identificar o “grude”

Não é difícil entender a que extremo pode chegar um homem dependente, por exemplo, aquele que espanca sua mulher. Segundo alguns psicólogos, esse falso valentão pode ser definido como um menino que precisa do apoio da “mamãe”. A raiva e a violência são a válvula de escape que esses indivíduos encontram para lutar contra suas dependências. Isso explica porque não suportam que a mulher tenha qualquer tipo de autonomia, social ou profissional.

Os homens não enganam as mulheres. Algumas são atraídas por autoritários e problemáticos cujas fraquezas explodem em forma de violência verbal e física.

A maioria prefere dar demonstrações de carinho menos violentos. Nem por isso se livra de problemas.

Se para os homens é difícil admitir que são dependentes, para as mulheres fica ainda mais, separar o amor e grude. Edna, estudante de engenharia civil, achava que os professores não levavam seus trabalhos tão a sério quanto de seus companheiros de classe. Andava tão deprimida, até que seu colega Fabiano deu sua opinião favorável. O elogio foi como um raio de luz. Começaram a passar todo tempo possível, juntos.

Nunca duas pessoas se sentiram tão próximas, imaginava Edna. Num domingo, à tarde, comunicou que ia à sorveteria mais próxima de sua casa. Fabiano quis ir junto. Na verdade, Edna queria ficar um pouco sozinha, mas não disse nada. Tempos depois, sua irmã foi visitá-la. Combinaram ir a um restaurante. Fabiano fechou a cara quando percebeu que não fazia parte. Edna cedeu novamente. No fundo, estava contente. Aquilo soou como interesse do namorado em se aproximar de sua família, representada no momento pela irmã.

Final da história. Edna descobriu que aquele homem forte e supostamente seguro, tinha verdadeiro pânico de ficar sozinho. Ela o deixou. Em menos de uma semana Fabiano estava com outra – e todo mundo passou a dizer que nunca tinha visto um casal tão unido, tão perfeito…

Dependência gostosa

Os melhores relacionamentos possuem suas áreas de dependência. Henrique se apoia na noiva para comprar roupas e decoração de seu escritório. Não compra uma camisa ou um quadro sem consultá-la. Eduardo não viaja de avião se a esposa não estiver em sua companhia. Esses casais funcionam porque a dependência fica confinada a uma determinada área e porque o homem também serve de ponto de apoio quando necessário.

Não é fácil para a mulher se livrar de um “grude” que está acabando com ela – é preciso alguma objetividade para sacar que a carência apaixonada não é amor. Os homens conseguem diferenciar esse sentimento com maior facilidade que as mulheres. Vera, 34, dentista, conta que cada vez que quer ajudar o namorado a resolver problemas banais conta até 5000, abre um livro e lê até a vontade passar e diz a seguinte frase para o namorado: “Se você não pode viver sem mim, por que continua vivo?”.

É muito bom ter alguém para se apoiar, principalmente nos momentos de dificuldade que todo ser humano passa pela vida. O que não pode é sufocar o outro com inseguranças. Nascemos sozinhos e temos que aprender a caminhar sozinhos. Todos estão sujeitos a ganhos e perdas. Faz parte de nossa existência.

Serviço

Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236-9225.

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