A redução de 150 pontos na taxa básica de juros (de 26% para 24,5% aa.), sem viés de baixa, decidida pelo COPOM esta semana, era o mínimo que se poderia esperar. Mostra, contudo, que o Banco Central não consegue se libertar do viés anticrescimento que herdou do governo anterior. Podia ter baixado 200 pontos e reduzido o “compulsório” que nada de mal aconteceria. Pelo contrário, estaria ajudando a estimular as pessoas a pensarem em retomar investimentos mais rapidamente.
No início do governo o Banco Central fez o que devia ser feito, agindo energicamente: impôs uma forte política monetária juntamente com uma política fiscal extremamente restritiva. Isso era necessário porque o Brasil estava perdendo o controle da inflação, que já rodava a uma taxa anualizada de 30%. O sucesso dessa política, como não podia deixar de acontecer, cobrou um alto custo social ao reduzir dramaticamente o nível da atividade econômica. A partir de agora, no entanto, é preciso explorar o êxito, aproveitando com mais ousadia o espaço para baixar os juros e criar as condições para a retomada dos investimentos na produção.
Reduzir a taxa Selic obviamente não é suficiente para estimular o crescimento. Mesmo tímida, contudo, essa queda de 1,5% vai ajudar a melhorar o câmbio, favorecendo a retomada dos investimentos do setor exportador que já vem enfrentando problemas no curto prazo. É preciso acelerar o processo de queda das taxas de juro ao setor privado, com medidas que permitam a redução dos spreads bancários e ampliem a oferta do crédito, de modo a convencer os empresários que a opção pela retomada do crescimento é um dado real e não apenas figura retórica.
Quem faz o desenvolvimento é o setor privado. Ele só se realiza quando se desperta o “espírito animal” (animal spirit) dos empresários, que resolvem tomar riscos e decidem realizar os investimentos: um começa a investir, outro vem em seguida, desperta o senso de oportunidade de um terceiro, criam-se novas perspectivas de negócios e isso vai contagiando a todos, produzindo o crescimento. Principalmente produzindo empregos.
Ao governo cumpre adotar políticas que despertem esse estado de espírito. Controlada a ameaça de inflação, tem mesmo que reduzir os juros, apoiar projetos que aumentem a utilização da mão-de-obra, dar suporte ao setor exportador e à agricultura e procurar melhorar as facilidades externas ao chão-de-fábrica, conservando rodovias, aparelhando portos e garantindo a oferta de energia. (Delfim Netto)