Antonio Delfim Netto (*)
Atividade econômica em queda, redução do salário real em quase todos os setores de atividade e índices de desemprego em alta, formam uma combinação explosiva. Creio que poucas pessoas têm dúvida da influência decisiva desses fatores no resultado das eleições de outubro último. O desemprego já atingira níveis dramáticos em 1998, quando o presidente Fernando Henrique conquistou seu segundo mandato. Ele tinha plena consciência da gravidade do problema, tanto que na campanha da reeleição seu principal slogan continha a promessa: “quem terminou com a inflação, vai terminar com o desemprego”. Naquela oportunidade o desemprego atingira 8.3% da população economicamente ativa, o que era apresentado como conseqüência inevitável da política de estabilização que tinha reduzido a taxa de crescimento da inflação a 1.7% ao ano, um resultado festejado pela sociedade .
Infelizmente o segundo governo de FHC não foi capaz de cumprir o compromisso enunciado na campanha e ao seu final entrega o país com uma taxa de desemprego jamais registrada desde que se começou a calcular o índice, há quarenta anos. Devido ao viés anti-crescimento de sua política econômica, negligenciou os investimentos no estratégico setor da energia, perdendo-se mais uma vez a oportunidade de retomar o desenvolvimento do país, o que inviabilizou a prometida recuperação dos empregos . A massa de desempregados continuou pressionando o mercado, acentuando a queda do rendimento real dos trabalhadores nestes últimos quatro anos, medida pelo IBGE e confirmada pelos registros do DIEESE para as diversas categorias de assalariados.
Baixo crescimento econômico, desemprego, salário real aviltado e uma formidável dívida interna e externa, são os itens mais visíveis da herança que o presidente Fernando Henrique deixa para o próximo governo administrar. Piorando o quadro, no apagar das luzes deste mandato, a inflação começa a apresentar alguns sinais desagradáveis, em decorrência dos reajustes dos preços administrados, do aumento da volatilidade cambial e de uma certa complacência monetária. O IGP-M do mês de outubro terminou em 3,87%, o maior aumento registrado desde o início do plano Real. A expectativa inflacionária está mudando e isso significa dificuldades maiores lá na frente. Isto tem que ser olhado agora, porque o custo social para recuperar o controle da inflação é crescente, inclusive em termos de emprego.
Esses fatos sugerem como terá que ser competente, cuidadoso e duro o sucessor de FHC para manter a inflação anual no intervalo de 8% a 9% e a dose de paciência que será exigida de uma política capaz de reverter o medíocre crescimento e recuperar os empregos perdidos em todos esses anos.
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