Nhô Pedro

Cinqüenta anos de vida muito bem vividos. Cheios de sonhos e ideais. Tudo que um homem quis fazer eu fiz com a maior boa vontade, cheio de garra, ilusões e alegria. Havia, também, a tristeza mas era passageira. Com o tempo, tudo era festa e alegria, mesmo as coisas mais descabidas que eu vivia. Fui campeão de futebol, natação, fui um aluno querido e brilhante no grupo, ginásio, científico e finalmente na faculdade. Cansei de participar de festas íntimas e coletivas. Vivi aqui e em São Paulo na maior tranqüilidade. Fui compositor de escola de Samba. Tenho seis sambas enredos gravados. Amei como só um louco pode amar, mulheres de todas as cores e idades. Viajei muito conhecendo várias cidades e costumes. Tudo que um homem tinha direito de ser eu fui, gostei e me dei inteiramente. Durante trinta anos, aos sábados, domingos e feriados, fui dentista da casa transitória para mulheres faveladas e crianças excepcionais. Voltei para minha terra para curtir o que havia de melhor no fim da vida. Mas, também, continuei fazendo tudo aquilo que gostava. Pesquei muito, peguei peixe de todos os tamanhos e qualidades. A vida era uma festa. E que festa! De repente, como um apagão, tudo se transformou e a tal alegria se foi e nem sequer tenta voltar. Há uma escuridão total, a mente se esqueceu de tudo o que foi bom e no momento só se lembra da tristeza da nova fase da vida. Se é que se pode chamar vida. Só restou o passado, aquilo que nem sequer posso fazer, nem sonhar, nem pensar, nem fazer castelos como fazia antes. Você tem carro e nem pode viajar. Tem filhos e nem pode visitá-los… mesmo os amigos vão ficando de lado, pois já nem podemos acompanhá-los. A churrasqueira está parada, nem há feijoada e nenhuma comida gordurosa. Andar o mínimo, exercícios nada, nem subir escada. O meu wisky de sábado, domingo e em alguma festa ficou proibido. Bebida nem por brincadeira e comida só de regime. Sopa todos os dias, no jantar o mínimo de comida. Ah! o almoço permite verduras e frutas, essas nem todas. Cigarro só pra saber: de 100 passei a fumar 20 e olhe lá até não fumar mais. Remédios mais de 28 por dia, de manhã, no almoço e ã noite. Médicos a toda hora, exames e mais exames, tudo pra dizer que você vai indo. Se continuar neste apagão poderão passar ainda muitos anos. Qual o sentido disto, ainda eu nem sei. Talvez logo eu me acostume e esse apagão em vez de ser tão escuro talvez se clareie e eu possa ser feliz de novo. É o que peço pra DEUS.

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