O tempo passou e o carnaval quase acabou. Agora era uma ida para Itápolis onde o tal nem existia. Era uma turma de ricos, no salão, que esnobava nos confetes, serpentinas e lança-perfumes. Mas, de carnaval, nada tinham além das marchas e sambas. Era quando eu fugia para Araraquara e brincava o quanto podia. Já nem tinha a mesma graça de então. Me formei, casei e fui para São Paulo. E lá também, só via carnaval pela televisão. Na realidade nem podia brincar, pois quando de lá saia vinha para Itápolis que quase nada tinha. Foram muitos anos sem quase brincar. Vieram os filhos, um depois outro e, finalmente, o terceiro. E o carnaval foi ficando de lado, como se não existisse. O casamento foi o fim de todos os meus anseios e sonhos. Tudo foi por água abaixo. E, como tinha quer ser, acabou de repente. Fiquei desquitado e dono de novo do meu nariz, quando fui convidado para conhecer o Camisa Verde, a escola de samba das mais famosas de São Paulo. Logo fui apresentado ao Chuchu, sambista consagrado da escola como letrista. Em pouco tempo estávamos fazendo o nosso primeiro samba-enredo e fomos competir com um enorme grupo de sambistas da escola. Nosso samba agradou o povo da escola que começou a cantá-lo, principalmente o refrão. Lá estava eu enfiado no samba e no carnaval de novo e, em nova fase, como letrista. A disputa era dura com os outros concorrentes, mas, fomos passando todos eles e chegamos a final. Era a glória, o primeiro samba feito por mim e pelo Chuchu chegava a final na quadra da escola Camisa Verde. Foi para as rádios, televisão e era ouvido em toda São Paulo. Juntos, fomos a uma casa de samba na Rua Augusta onde estava cantando o Jamelão. Demos a letra pra ele, e ele o transformou numa jóia de samba-enredo, sem modificar nada. Além da voz e tonalidade. Nosso intérprete estava, também, na casa ouvindo o Jamelão e aprendeu depressa a maneira de cantá-lo. Nosso amigo Jamelão cantou muitas vezes no salão da casa de samba e foi estourar na quadra da Camisa Verde, onde todos adotaram o estilo dele. Eu senti na alma coisa que nunca havia sentido. Não sabia se queria nascer ou morrer de tão entusiasmado que estava com aquele samba. Voltou o carnaval de novo, diferente, pois, era na escola de samba onde milhares de pessoas cantavam e vibravam.