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Na ante-sala do caos

Roberto Paulino (*)

Fui solicitado a socorrer um amigo que passava apuros por um incêndio na mata que se aproximava do seu sítio.

Liguei para os bombeiros e fui informado que não há, no destacamento do

Corpo de Bombeiros em São Carlos, viatura disponível para combate a

incêndios.

O bombeiro disse-me para procurar o prefeito e pedir que cedesse o caminhão-tanque com bomba para apagar o fogo. Tentei fazê-lo entender que era dele a responsabilidade de, dalí para frente, conduzir o assunto pois, de minha parte eu havia chegado à instância competente à qual devem os cidadãos se dirigir em casos de incêndios: o destacamento militar do corpo de bombeiros. E que, se por quaisquer motivos a Polícia Militar / Bombeiros não tivesse condições de cumprir com suas obrigações, deveria ela buscar alternativas com outras autoridades, mesmo porque seria melhor e mais prontamente atendida em casos como o que se

apresentava, do que o pedido de um simples cidadão que nada tem a ver com fogo, a não ser aquele que o atual (des) governo lhe põe diariamente no rabo.

Como o diálogo começou a virar polêmica e discussão e, principalmente por eu ter me dado conta da má vontade do meu interlocutor, resolvi agradecer e desligar.

Pensei então que encontraria disposição e boa vontade junto à Polícia

Florestal, mesmo porque parte da mata que estava sendo queimada era área de reserva. Equivocado, fui informado que aquele órgão nada tinha a ver com o assunto. Da responsabilidade do D.P.R.N. seria exigir do proprietário o reflorestamento da área queimada após tomar ciência através de ocorrência feita pela Polícia Florestal e informar a Promotoria Pública para as ações competentes.

Na ânsia de ajudar meu amigo a impedir um acidente ambiental com queimada, cujo fogo teve início fora de sua propriedade, liguei para a Polícia Florestal e relatei tudo o que estava acontecendo. Sentia-me orgulhoso em ser útil.

O policial que me atendeu, porém, informou-me que a Policia Florestal não é Corpo de Bombeiros: não apaga incêndios nas matas. Eu disse que sabia disso, mas que diante dos fatos relatados eu estava prestando uma informação de incêndio e pedindo ajuda pois, seguramente, a Polícia Florestal saberia onde buscar socorro em casos de perigos iminentes de acidentes ambientais além do que, meu amigo, que não era o causador do incêndio e nem tinha como detê-lo, poderia ser multado e processado.

Disse-me ele que era assim mesmo : que os proprietários da área atingida pelo incêndio seriam multados e posteriormente processados criminalmente pois a responsabilidade de policiar e preservar as matas é exclusivamente deles, proprietários.

Já no desespero e sentindo-me mais uma vez um cidadão brasileiro impotente, disse ao policial que era de uma incoerência e irracionalidade total o que eu estava ouvindo pois tratava-se de um acidente que estava acontecendo naquele instante originado em fatos ainda desconhecidos e colocava em risco matas de reserva ambiental. O proprietário de uma área ainda não atingida pelo fogo pediu ajuda aos bombeiros e o destacamento informava que não tinha viaturas; informa a Polícia Florestal e esta o ameaça com multas e processo em vez de ajudar a procurar formas de conter o incêndio.

Nessa altura da conversa o policial perguntou-me se eu era eleitor.

Perguntei-lhe o que tinha isso a ver com o assunto. Ele respondeu-me que se eu fosse, na próxima eleição eu deveria votar em deputados que soubessem escrever e fazer leis porque eles só cumprem as leis que os deputados fazem. Desliguei. Eu estava estupefato. Completamente desnorteado.

Vivo em um país onde a saúde e a justiça só existem para quem tem dinheiro; onde a polícia não propicia segurança e às vezes até pelo contrário. Onde os bombeiros não apagam incêndio; os professores de escolas públicas na grande maioria já não dão aulas; as universidades públicas caminham para o fim e onde são ridículas as verbas para pesquisas; os funcionários públicos estão há 7 anos sem aumento salarial; onde a Procuradoria do Estado está falida e já não pode mais cumprir suas funções em favor dos mais necessitados. Onde os funcionários do INSS mais uma vez preparam greve geral do sistema; o desenvolvimento nacional está comprometido por insuficiência de energia elétrica; o Sistema Financeiro Nacional já não mais é controlado por nacionais; onde um governo que se diz social, mas, que está comprometido com o capitalismo internacional comandado por americanos do norte toma o patrimônio de brasileiros para doar a multinacionais que aqui se instalam livres de impostos. Vivo em um país onde as principais empresas brasileiras que representavam a nossa soberania foram transferidas para mãos estrangeiras sob mentirosas alegações de governantes incompetentes de que o governo não tinha capacidade de investir. Uma vez vendidas nossas empresas, sob o pretexto de modernizar, o governo está tratando de alterar matéria concernente ao mercado de capitais com vis objetivos de garantir lucros aos investidores externos com o sangue dos que aqui nasceram e vivem. Nem sempre trabalham porque não têm onde.

Quero descontrair e ligo a TV. De passagem na TV Senado noto que está

havendo acirrada discussão para decidir se o aeroporto do Acre deve continuar com o nome de Presidente Médici ou mudar para Chico Mendes.

E o fogo na mata continua ardendo. E meu amigo, preocupado com a iminência do fogo que pode destruir seu sítio, talvez não esteja percebendo – como quase a totalidade dos brasileiros – que a falta de patriotismo está fazendo arder outros 8.500.000km2 deste solo.

A sociedade civil brasileira deve organizar-se com urgência. Ela não pode e não deve ficar apática e anestesiada enquanto querem nos tirar o que ainda nos resta, como a Amazônia. E poucos sabem da gravidade e da verdade deste fato.

Estamos fazendo nossa parte. Venha você também juntar-se a nós através do Movimento REAGE Brasil.

(*) É presidente do Movimento REAGE Brasil.

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