Pedro Benedito Maciel Neto (*)
Afirmamos tantas vezes, repetindo dentre outros Norberto Bobbio, que a crise permanente do Capitalismo está na sua crônica incapacidade de distribuir riquezas produzidas pela atividade do homem, e faze-lo de forma equilibrada, justa e fraterna entre todas as pessoas. Essa incapacidade causadora da miséria material e moral na qual está mergulhada a sociedade moderna, e toda a sua inútil tecnologia precisa ser denunciada e substituída por ações capazes de alterar esse fato. Essa é a missão maior do futuro Presidente: vencer a mediocridade do moderno e as suas falácias.
Essa sociedade moderna, a sociedade industrial, a sociedade tecnológica mostra-se incapaz e medíocre para, a partir das suas verdades, aumentar o prazer e reduzir o sofrimento da humanidade – como querem os filósofos utilitaristas deste Benthan. Exemplo disso é o fato de em oito anos o governo liberal do PSDB ter sido tão capaz de multiplicar os números de telefones de 4 para 49 milhões de acessos, mas ter sido incapaz de desenvolver políticas públicas para a criação de emprego, trabalho e renda para 54 milhões de pessoas que estão em estado de miserabilidade… Isso corre porque a lógica do mercado, está a serviço do não-humano, mas da entidade (ou poder estrutural como quer Robert Kurz) que regula de forma invisível, mas perceptível, todas as relações em sociedade: O PRÓPRIO MERCADO.
O estado de crise permanente do Capitalismo é inegável; hoje o mundo vive às voltas com as incertezas produzidas por esse sistema econômico que desconsidera a própria limitação da vida no planeta, expondo a atual e as futuras gerações a riscos dos mais significativos, do descaso com a questão ambiental.
A realidade que a burguesia oligárquica, provinciana e caolha teima em não ver, revela a decadência e o declínio daquilo que convencionou-se denominar MODERNIDADE.
O ideal moderno de progresso, sustentado na filosofia liberal, fracassou. Vivemos o que Heidegger e Nietzche, por exemplo, chamam de massificação e mediocridade da técnica. O mercado, sustentado pelo liberalismo, coloca o SER numa condição de absoluta irrelevância diante do consumo sem fim que realimenta um sistema completamente insaciável: O CAPITALISMO.
Mas como denunciar e superar essa condição de abandono do SER? Como debater temas como segurança, meio ambiente, cultura, desenvolvimento, dentre outros, a partir de uma perspectiva que inova e que leve em conta o SER e não o MERCADO? Como fazer isso numa economia de Mercado? Como fazer isso numa democracia de Mercado?
O Desafio de Luis Inácio Lula da Silva é construir, a partir da sociedade, pela sociedade e para a sociedade uma linguagem capaz de responder, sob novos e necessários paradigmas, as questões citadas e outras tantas. A “construção” de uma nova linguagem significa restabelecer a comunicação com a essência do SER, significa: superar a lógica dominante e negar as certezas do liberalismo que sustenta o Mercado, para ao negar, afirmar novas certezas, colocando o Mercado como instrumento ou caminho a serviço do SER e não como fim inócuo e causador de tantas distorções e contradições.
Essa nova linguagem revelará a todos a nossa missão: superar a mesmice cacarejante, a lógica contraditória que atende a interesses corporativos apenas, e que por isso mesmo não atende as demandas, e mais, uma lógica que é incapaz de olhar a realidade visível pela janela…
Acredito que o pensar autêntico numa nova e necessária forma de comunicação, numa nova linguagem será a recuperação da possibilidade de construção de um mundo para hoje e para tanto tempo quanto seja possível, um mundo para o SER, e não para o Mercado.
(*) É advogado, Pós Graduado em Direito Processual Civil PUC-SP e Direito Empresarial FGV, Mestrando em Filosofia Social PUCC, Professor Universitário (UNIP), autor do livro Globalização Reflexões, ed. Caminho Editorial (2001).