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Intelectual tem medo?

O referendo sobre a proibição de vendas de armas de fogo foi instrumento legítimo da democracia, mas errou o alvo, conforme apontam intelectuais ouvidos pela Folha.

Na FSP, a antropóloga Alba Zaluar, professora do Instituto de Medicina Social da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, diz que o referendo foi um “equívoco”. Para ela, há questões muito mais importantes a serem discutidas no país sobre a segurança. Ela lembra que menos de 5% dos domicílios brasileiros possuem arma de fogo, enquanto nos Estados Unidos esse índice atinge 34%. Em cidades consideradas violentas, como São Paulo e Rio de Janeiro, esses índices são de 2,5% e 4,5%, respectivamente.

Não é daí que provêm as armas dos criminosos, conclui Zaluar, mas do exterior e de arsenais da polícia e das Forças Armadas.

Para José de Souza Martins, professor de sociologia da USP, o “governo propôs uma questão grande e fez uma pergunta pequena, o que confundiu os votantes”.

Para Ronaldo Vainfas, professor de história da Universidade Federal Fluminense, “é totalmente descabido” submeter o comércio de armas e munições a plebiscito. Trata-se de uma “ilusão de cidadania”.

Senhora e senhores intelectuais, o povo acabou votando Não como maneira de gritar ao governo (em todos os níveis e especialmente ao federal) que está inseguro, extremamente castrado em seu direito constitucional de ir e vir e cansado de esperar o retorno dos filhos que saem às ruas para o lazer e podem encontrar a morte. O povo não aguenta tanta corrupção, verbas mal-empregadas e polícia mal preparada, mal paga e com vícios danosos à sociedade. Não dá para honrar tributos além do bom senso quando o governo prioriza um superávit primário para, em prejuízo das políticas públicas que são a salvação de um povo carente, pagar a impagável dívida externa que, transformando juros em parcelas do principal, certamente teria sido paga há muito tempo.

O Não representa um alerta aos agentes políticos que atuam em nome do povo, o detentor do poder. O mandato é efêmero, a história eternizará a (o)missão de V.Exas.

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