Reginaldo Galli (*)
De passagem pelo Brasil, distinguem-me, tanto o meio científico quanto as publicações especializadas, com pedidos de um depoimento, ainda que superficial, acerca das recentes propostas do governo deste país, especialmente sobre a prometida redenção dos famélicos e desnutridos. Indagam-me a respeito da viabilidade e dos eventuais desdobramentos, imediatos e mediatos, dessa ambiciosa idéia-força. Sabem todos quantos tiveram acesso a minhas obras e conferências que meu currículo é o de biólogo e economista, ciências estas às quais dediquei o melhor de meus estudos e pesquisas. Tornei-me biólogo por causa de mamãe, que me oferecia o farto seio. (risos) A meu pai, que me ensinou a palavra NÃO, atribuo a vocação de economista. (risos) Todavia, permitam-me iniciar com a frase de um poeta, o sensível e místico Giovanni Pascoli: “Quanta fame ha patito il genere degli uomini!” (de quanta fome já padeceu a humanidade!). Tomara que os políticos locais encaminhem sustentáveis soluções para o milenar e terrível problema, que quase remonta a Adão, Eva, Caim, Abel e ilustre dinastia. (risos) Segundo me asseveraram, ainda não está propriamente formulado um programa FOME ZERO, conquanto existam generosas intenções e o compromisso de iniciar o combate, principiando-se devagar, isto é, pelo assistencialismo TÓPICO. Se está embrionário, se é apenas projeto, ele próprio quase um zero, deixo, por ora, de enfrentá-lo e analisá-lo objetivamente. Afigura-se-me como um possível ou até provável BEM, mas ainda totalmente desconhecido. O que não me furto a garantir, entretanto, da parte dos milhões de habitantes do planeta, é que o MAL é conhecidíssimo, tem fotos estampadas em todas as delegacias de polícia do sistema solar.(risos) Pouco importa que sua captura pareça UTÓPICA, fica sempre a promessa de gorda recompensa a quem o encontrar, vivo ou morto, porca miséria! (risos)
À míngua de robustos elementos sobre o assunto, tentarei aproveitar a grata oportunidade deste encontro para externar minhas preocupações com o imoral, desumano pauperismo nos países ditos emergentes – muito mais, por certo, nos imergentes! – (risos) e as contribuições da medicina a ricos e pobres, desde os albores do que chamam de “civilização”. Permitam-me pois, em rápidas pinceladas, um painel de aspectos correlatos.
“Do ponto de vista da planificação social, o investimento é usualmente benéfico: se der “cara”, ganho eu, se der “coroa”, “perde você”, ironizava Joan Robinson, há quarenta anos. No entanto, prosseguia: “os valores mensuráveis em termos de dinheiro não são os únicos que devem contar”. Profeticamente, revelou-nos duas imagens, duas verdades, duas faces da filosofia e da pragmática do capitalismo vigente: DAVOS (fórum econômico) e PORTO ALEGRE (fórum social). Tornar-se-ão convergentes os hostis, ambos preocupados com o índice de felicidade “per capita”?(risos) Ou seja, segundo a ótica do lobo moderninho, que já não quer devorar o cordeiro mas apenas tosquiá-lo, e os anseios do cordeiro sindicalizado, que promete voluntariamente abastecer o rendoso comércio exportador de seu ex-algoz, mediante vantagens pacífica e mutuamente acordadas. “Poupando-me a vida, ofereço-me para ser seu sócio. Existe água limpa à disposição de nós dois. Com uma condição: conter seus instintos e distribuir melhor a sua riqueza!”(risos). Que cena comovente! Verdadeira fábula de Esopo: os dois amiguinhos, de patas dadas e orelhas coladas, (risos) torcendo para que o mercado de confecções de lã prospere continuamente e não venha a sofrer barreiras alfandegárias nacionalistas, chantagens e protecionismos político-eleitorais ou uma repugnante, impensável, ruinosa concorrência de similares sintéticos.
O subdesenvolvimento, este raquitismo anatômico e fisiológico de colônias e ex-colônias, despreza os contraceptivos da fórmula de Malthus, entre os quais a conhecida camisinha demograficamente correta.(risos) Não que seja ela a mágica solução das soluções, mas é óbvio que quanto maior o número de bocas e de cidadãos sem eira, nem beira, nem feira, mais lenta e onerosa será a erradicação da penúria. Dogmas inquisitoriais, emoções farisaicas, atos de fé compungidos externam, “do fundo do coração”, profunda (mas irresponsável) piedade pelos doentes e esquálidos mortos-vivos.. Só lhes falta pregar o onanismo dos adultos para evitar o nanismo dos que…….deixarão de nascer!(risos) Em sentido oposto, os métodos científicos oferecem-se como extremamente valiosos às camadas mais desvalidas, desde que não sejam contaminados por conceitos metafísicos. Recordemo-nos de que, para explicar os fenômenos naturais, os homens primitivos recorriam ao sobrenatural. E às bruxas! Querem exemplo mais recente? Previno-os para que não me venham com Ptolomeu, que lhes sapecarei Galileu e Copérnico! (risos) A que inferno foi reduzida a África pelo contágio de moléstias sexualmente transmissíveis?! Crer de verdade em um criador e enaltecer um só DEUS, universal, misericordioso, ESSENCIALMENTE BOM, é contabilizar em prol da inteligência por ELE doada a estas SUAS maravilhosas criaturas, independentemente de quaisquer rançosos preconceitos: 1) hindus – precursores da cirurgia plástica; 2) chineses – com experimentos nas áreas de anestesia, terapêutica herbácea, vacinação antivariólica e acupuntura; 3) egípcios – valorizadores da higiene para prevenção das moléstias infecciosas, incomparáveis nas técnicas de embalsamamento e imobilização de membros fraturados; 4) gregos – observação direta do doente e dos sintomas e fenômenos mórbidos, conforme descrições de Hipócrates; 5) romanos – cuja figura exponencial, Galeno, com estudos aprofundados sobre plantas medicinais, legou-nos a descrição exata de muitos órgãos e respectivas funções; 6) árabes – introdutores na terapêutica de novas drogas e fundadores de escolas de medicina. Etc etc etc. Não me perguntem se eram ateus, agnósticos, monoteístas ou quantas divindades cultuavam. Havia DEUS neles e estava com eles.(aplausos). Muito obrigado.
(*) É professor, advogado e colaborador do JA.