José Renato Nalini (*)
O artigo 225 da Constituição da República, se fosse cumprido, garantiria boa qualidade de vida para os brasileiros de hoje e de amanhã. Mas somos pródigos em produzir belas normas e em ostentar condutas miseráveis.
Não faltaram avisos de que a mudança climática estava em curso acelerado e que, depois de décadas de advertências científicas, agora iríamos ouvir a natureza. Continuamos surdos a seus recados. É surreal como a humanidade é insensível, egoísta e burra.
Todos sabemos que as alterações do clima derivam de excessiva emissão dos gases causadores do efeito-estufa. Mas continuamos a incentivar a compra e o uso de carros. Continuamos a acreditar que petróleo tem de continuar a abastecer as frotas e que a transição energética é um discurso estéril.
Quando às queimadas – também criminosas – adiciona-se temperatura elevada, o bom senso mandaria reduzir o uso do automóvel. Por que não se intensificar o rodízio, de dificultar a formação dessa massa nociva de veículos transitando devagar e emitindo veneno pelo escapamento? Mas ninguém tem coragem de decretar isso. Valeria a proibição de se lavar calçadas como acontece na capital e em todas as cidades. À ignorância dos que trabalham na limpeza dos condomínios, acrescenta-se a omissão dos síndicos e dos moradores, que querem suas residências impecáveis.
Incentivar-se-ia o trabalho remoto, a suspensão de aulas, o incentivo a que não haja grandes concentrações. Não. Prefere-se deixar que cada um se cuide. A proposta de uma intensificação nos alertas à população foi levada ao Gabinete de Crise da Prefeitura de São Paulo. A Secretaria Executiva de Mudanças Climáticas fez suas sugestões e o acolhimento delas auxiliará a cidadania a suportar mais essa crise grave.
Enquanto isso, beba-se muita água, tenha-se vasilhas com água dentro de casa, ensopem-se toalhas para umidificar o ambiente. E reze para que venha chuva, nada obstante a falta dela constituir uma resposta à nossa insensatez e nossa insanidade. Sim, é preciso estar enfermo para não enxergar que tudo é causado por nossa omissão ou cumplicidade ao lado dos dendroclastas, dos insensíveis, dos detratores da natureza.
(*) É Reitor da UNIREGISTRAL, docente da Pós-graduação da UNINOVE e Secretário-Executivo das Mudanças Climáticas de São Paulo.