Antonio Delfim Netto (*)
A principal objeção a uma política industrial mais ativa, desde há muitos anos, tem sido que “é muito difícil escolher os vencedores”, de forma que é melhor deixar o setor privado correr seus riscos, sem qualquer suporte governamental.
Essa postura foi defendida durante cinco anos no governo passado, quando a política econômica se resumiu em trocar a inflação obscena por um crescimento econômico medíocre e pelas indecentes dívida interna e dependência externa.
Já no final do governo, o Presidente Fernando Henrique foi convencido a fazer uma experiência de “política industrial”, iniciando em 2000 o Moderfrota. O programa se destinava a corrigir o sucateamento dos equipamentos agrícolas, a ser realizado através do BNDES, com juros fixos e prazos adequados. Se tivesse sucesso, seu custo seria amplamente compensado pelo aumento dos impostos (IPI e ICMS na comercialização dos equipamentos), pelo aumento dos impostos gerados pelo incremento da produção agrícola e pela redução do seu custo real. O programa foi um absoluto sucesso, como mostram os números abaixo:
Máquinas Agrícolas Automotrizes
Mercado Interno
Importados e Nacionais
Unidades Físicas Exportações
USD.1000 Mercado Interno
Importados
Unidades Físicas
1999 24.696* 450.377 653
2000 31.062 +25,7% 465.009 +3,2% 526 -19,4%
2001 35.523 +14,3% 547.617 +17,8% 271 -48,5%
2002 42.564 +19,8% 642.853 +17,4% 94 -65,3%
Comparando os Janeiros
2002 2.289 45.594 11
2003 1.498* -34,6% 58.618 +28,6% 9 -18,2%
* Moderfrota sem operação.
O efeito mais significativo foi que, graças ao aumento da quantidade produzida (e à economia de escala), as indústrias instaladas no Brasil trouxeram para cá o “estado da arte” da produção de máquinas agrícolas automotrizes. A sofisticação do produto brasileiro se compara hoje à dos melhores do mundo (processadores eletrônicos, autodiagnóstico de falhas, sincronismo e economia na aplicação de defensivos, cabines climatizadas, etc.). Sem o Moderfrota nossa dependência externa não teria sido diminuída, como foi, pelo saldo comercial da agricultura. Mas o mais importante: o quadro mostra o aumento das exportações e a diminuição das importações!
É a isso que se chama de vantagem comparativa criada! O êxito do programa deve motivar o atual governo a ampliar os financiamentos aos demais setores fabricantes de implementos agrícolas. Afinal, foi a agricultura, ajudada pelo Moderfrota, que livrou o Brasil de um segundo “default” ainda” no governo FHC.
(*)E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br