Inspiração íntima
Texto: Carolina Marques PopTevê
José Wilker fala do peso de fazer Juscelino Kubitschek na minissérie global
José Wilker estava fora do Brasil quando soube, por uma nota de Internet, que iria interpretar o personagem-título de “JK”. “Nunca me passou pela cabeça interpretar JK em cinema, televisão ou teatro. Foi uma surpresa muito boa. Mas de grande responsabilidade também”, diz o ator. A partir daí, dezenas de pessoas se ofereceram para ajudá-lo na empreitada de encarnar o presidente conhecido por sua ousadia, magnetismo e projetos grandiosos. “Me ofereceram fotos, quiseram me contar histórias dele. Também li que gente muito próxima à família recebeu com surpresa minha indicação, mas depois teriam se acalmado porque, se fisicamente não somos parecidos, talvez com talento eu pudesse compensar”, revela o ator, que também narra a história. “É um trabalho feito com muita emoção”, garante.
Wilker, na realidade, não é desses atores que fazem intensas pesquisas para interpretar um papel. Por isso, não procurou a família de Juscelino, não andou pelas ruas de Diamantina – terra natal do presidente -, e só foi à Brasília no lançamento da minissérie, onde já chegou com pinta de estadista acenando para todos no melhor estilo JK. “Não sou ávido em procurar informações. Espero que elas cheguem lentamente, que sejam absorvidas. Não tenho furor em ver fotos, ouvir discursos. Nem saberia o que fazer com isso. Processo de criação é um nome muito pomposo para o que eu faço”, avalia.
De qualquer forma, além do texto de Maria Adelaide Amaral e Alcides Nogueira, o ator chegou a ler dois livros, “Brasília Kubitschek de Oliveira”, de Ronaldo Costa Couto, e “JK: O Artista do Impossível”, de Cláudio Bojunga. “Sempre leio a respeito, mas o que me dá suporte é o roteiro”, observa o ator, que acabou sucumbindo a alguns documentários e revistas da época. Wilker também prestou especial atenção à interpretação de Wagner Moura, que viveu Juscelino na primeira fase. “Ele é um grande ator. Minha preocupação é estar fazendo direito o que ele começou”, derrama-se, com certa modéstia.
Até agora, a continuidade parece estar dando certo. Mas a responsabilidade em viver uma personalidade tão aclamada e que faz parte da história recente do país, deixou Wilker tenso. “É evidente que quando se trabalha com uma figura pública, da História, a qual milhões de pessoas têm informações e certezas, é mais difícil. Mas acredito no meu trabalho como forma de me divertir e divertir o público. Aí essa tensão tende a diminuir”, explica ele, que no cinema viveu outro lendário personagem, Tenório Cavalcante, no filme “O Homem da Capa Preta”, de Sérgio Rezende, nos anos 80.
Aos 58 anos, 30 deles como ator, tempo em que construiu mais de 100 papéis entre cinema, tevê e teatro, José Wilker tem poucas lembranças da “Era JK”. “É uma pena que os anos de ditadura tenham feito a gente perder um pouco dessa memória”, lamenta o ator, que não parece adotar o ufanismo que anda embalando a memória do antigo presidente. “Não tenho com relação a nenhum político uma atitude sagrada. Tenho com relação aos políticos uma atitude sempre de desconfiança. Eu diria que vejo JK hoje com simpatia. Respeito as pessoas que sonham, que têm um projeto e que criam as condições para realizar tudo isso”, argumenta ele, defendendo a característica empreendedora e sonhadora do homem que interpreta na tevê. “Sou um ator. Tenho grandes expectativas para o amanhã, para a próxima hora”, assume.