Carta aberta à população de Araraquara

Francisco de Paiva Lima Neto (Chiquinho) (*)

De que me vale acordar calado, se na calada da noite eu me dano. (Chico Buarque de Holanda)

Dirijo-me à população de Araraquara, e em especial às 969 pessoas que a mim confiaram o seu voto no pleito legislativo do ano passado, para esclarecer a minha desfiliação do Partido dos Trabalhadores, pois julgo que no mínimo essas pessoas me deram crédito e merecem pelo menos o respeito de ter o direito de esclarecimento.

Tenho uma história de vida pautada pela militância em prol da justiça, da solidariedade e da paz, valores imprescindíveis para os que fizeram opção pelo Reino de Deus.

Materializei essa opção em várias áreas de atuação tanto na vida pessoal quanto na vida em comunidade. Desenvolvi ações concretas na Igreja Presbiteriana Independente (Berço do Projeto Cursinhos Populares, para os que não perderam a memória), na militância Sindical (Apeoesp), em ONG(s) de ética incontestável, como o PROEAJA (que acaba de ser reconhecido com instituição de utilidade pública municipal) e na militância política, ajudando a construir uma frente política em Araraquara cuja denominação era FRENTE POPULAR E DEMOCRÁTICA, a qual na sua terceira versão excluiu a palavra DEMOCRÁTICA e se transformou na FRENTE POPULAR DE ARARAQUARA. Espero que no futuro a palavra POPULAR também não seja excluída.

Ao levar a sério os objetivos de minha opção participei do Governo de Araraquara ocupando o cargo de gestor de projetos na Secretaria Municipal de Educação de Araraquara, procurando na prática ser coerente com o discurso, pois tenho dificuldades em dizer às pessoas: Esqueçam o que eu disse, esqueçam o que eu escrevi.

Levar essa opção a sério me custou aprender a viver no ostracismo e constatar as mudanças bruscas de opinião e prática dentro de um governo que se dizia democrático.

Por solidariedade com as pessoas que conhecem a minha história de vida, mais uma vez lancei minha candidatura ao legislativo municipal, prezando os mesmos princípios de sempre, sem pedir financiamento a Mefistófeles, para poder ter sempre a independência que tive e terei. Estou satisfeito porque concorrendo com candidaturas milionárias, cujas origens de financiamento são obscuras, por duas vezes fui primeiro suplente, lembrando que desta última vez não fui eleito pelo fato da JUSTIÇA ELEITORAL diminuir significativamente as cadeiras no legislativo municipal.

Mesmo assim confiando no dito popular a esperança é a última que morre, ingenuamente acreditei ser possível o milagre da conversão e da mudança de postura do atual governo. Ledo engano. As velhas práticas teimam em continuar. Decisões importantes para a sociedade e também para o partido são tomadas sem uma discussão democrática, chegando ao absurdo de pessoas do governo, do partido e até mesmo vereadores da situação tomarem ciência dessas decisões de última hora, sem ao mesmo serem consultados, e concordando ou não aceitam e apóiam em nome da ética partidária. É pública e notória a opção feita pelo governo, cujas conseqüências são visíveis, que vão desde a derrota da candidata do PT à presidência da câmara municipal (diga-se de passagem, a vereadora mais votada da cidade, para o incômodo de alguns) até a crise interna vivida no partido dos trabalhadores, conseqüência dessa postura arbitrária do governo municipal e da resistência do diretório do PT, o qual quer e tem o direito de fazer discussões de maneira independente sem a ingerência do aparelho de governo.

Sabe-se que o futuro do PT e dos petistas é uma incógnita, pois há duas situações claras: de um lado um governo que tenta se equilibrar diante de uma prefeitura cuja dívida não lhe permite dar conta das demandas sociais, restando-lhe governar com marketing, o qual na vida concreta não resolve os problemas nodais da sociedade (falta de investimentos na saúde, na educação, no funcionalismo público, etc.), restando-lhe usar o Orçamento Participativo para dar satisfação, ainda que incompleta, das frustrações e lamúrias governamentais, e de outro lado tendo o partido consciência clara do contexto vivido, porém impossibilitado pela ética partidária de realizar uma discussão com a sociedade, externa ao partido e ao governo.

Entre os muitos exemplos que poderíamos mencionar dessa prática está o fato de o governo alardear nos outdoors e panfletos que a educação começou com doze novas obras; e também a triste realidade vivida na educação, como o início das aulas na Escola do Campo do Assentamento Bela Vista sem a contratação de quatro professores (Língua Portuguesa, Ciências, Educação Artística e Educação Física), e com o começo de uma crise com a viação Paraty, a qual poderia inviabilizar o transporte de alunos e professores; bem como o fato de a primeira aula do Programa de Alfabetização de Adulto (MOVA) ter-se iniciado no Parque Residencial São Paulo sem que a Secretaria Municipal de Educação tivesse acertado o local onde elas seriam ministradas, restando a membros da diretoria do Proeaja intermediar esse impasse.

Respeito a liberdade de opção do governo e do partido, no entanto tenho também liberdade de opção. Optei por desatar minhas mãos e discutir com sociedade que escuta claramente o grito dos excluídos e não sabe o que fazer, excluídos cuja história antecede à do PT.

Eu e o governo somos dois teimosos. O governo teima em se fazer surdo, cego e silencioso, e eu teimo em viver o cotidiano dos excluídos e não ficar indiferente a isso.

(*) Francisco de Paiva Lima Neto (Chiquinho), é suplente de vereador.

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