Brasil perde César Lattes

Agência Fapesp

Um dos cientistas brasileiros que mais próximo chegaram ao Prêmio Nobel, por ter descoberto na prática, na altitude dos Andes da Bolívia, em 1947, a existência dos mésons pi, morreu nessa terça-feira (8/3), em Campinas.

Cesare Mansueto Giulio Lattes, ou simplesmente Cesar Lattes, entrou para a história muito antes de morrer. Discípulo de outros físicos como Gleb Wataghin e Giuseppe Occhialini – “com o (Cecil) Powell aprendi apenas inglês”, disse Lattes certa vez –, o pesquisador, que vivia em sua casa próximo à Universidade Estadual de Campinas, era do time que implantou e desenvolveu a física no Brasil.

Aos 80 anos, com a saúde debilitada há algum tempo – o cigarro era um companheiro sempre presente, assim como sua língua sempre afiada –, Lattes ainda era capaz de lembrar com precisão de suas pesquisas e de suas opiniões.

Em 2000, em uma longa entrevista concedida a partir de sua poltrona predileta, ele disparou para o repórter: “A televisão é uma máquina de emburrecimento”. O assunto se desenrolou para vários temas. Até da máquina do fotógrafo ele quis saber mais detalhes. A vivacidade do pesquisador, nascido em Curitiba em 11 de julho de 1924, ainda impressionava.

Sempre precoce, aos 23 anos, participou da fundação do Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), no Rio de Janeiro. No ano seguinte, já estava produzindo, ao lado do norte-americano Eugene Garden, o méson pi, a partir da aceleração das partículas alfa, no cíclotron da Universidade da Califórnia em Berkeley, nos Estados Unidos.

Lattes não gostava muito da pós-graduação. Ele não escondia isso de ninguém, apesar de concordar que era sempre preciso dar uma certa ordem à carreira de um jovem pesquisador. Achava que era coisa “da América do Norte”.

Acreditava na espiritualidade e se dizia adepto de todas as religiões. Defendia mais um ambiente criador do que um curso calcado no formalismo puro e simples. Daí vinha o gosto de reproduzir a frase de Pasteur: “Não há ciência pura e ciência aplicada, há ciência e aplicações da ciência”.

Sobre o Prêmio Nobel – a que o próprio Lattes, sempre humilde, nunca deu muita importância –, talvez os louros tivessem sido apenas mais um fardo para a vida do pesquisador, avesso a qualquer tipo de badalação. Mesmo quando falava de seu senso apurado de observação – e de sua astúcia científica quando decidiu fazer os experimentos nos Andes -, Lattes era comedido, sem nenhuma ponta de arrogância.

Muito se falou sobre ele. Muito se falará ainda. O próprio Isaac Asimov, na obra Gênios da Humanidade dedicou alguns parágrafos para o físico brasileiro, que se graduou em física e matemática pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras da Universidade de São Paulo em 1943.

O enterro do pesquisador, que não resistiu a uma terceira parada cardíaca, foi em Campinas, no jazigo da família.

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