“Como fica a Alca (Área de Livre Comércio das Américas) depois das recentes eleições nos EUA e no Brasil?”. Essa foi a pergunta do economista Paulo Nogueira Batista Junior, também pesquisador visitante do Instituto de Estudos Avançados da USP e professor da FGV-EAESP,em artigo publicado no Jornal Folha de S.Paulo, no último dia 14.
A população já disse “não” à Alca quando, na Semana da Pátria, somou mais de 10 milhões de votos de eleitores de 16 anos em plebiscito.
O próximo passo dos militantes sociais será dado em janeiro, quando voltarão a realizar debates e protestos no Fórum Social Mundial, e deverão incentivar um abaixo-assinado com toda a população brasileira, para exigir que o novo governo saia das negociações e que se convoque um plebiscito oficial sobre a Alca ainda em 2003.
O medo é que a Alca concentre mais renda e poder nas mãos das transnacionais americanas, tire os direitos trabalhistas e condições de trabalho, afete a agricultura familiar e a segurança alimentar dos povos, destrua o meio-ambiente a partir da monopolização da biodiversidade da Amazônia por empresas americanas, acelere a desnacionalização da economia e a quebra das pequenas e médias empresas do país, entre outras questões.
Por outro lado, há quem defenda a Alca como um caminho natural e que a questão central é negociar o melhor acordo, fazendo valer o peso relevante de nossa economia, obtendo concessões que, sem a Alca nunca virão. Além disso, consideram que a prática da “boa política econômica” livrará os cidadãos dos delírios populistas e melhorará a distribuição de renda, pois os Estados Unidos irão querer mercados consumidores e isso não ocorreria com salários baixos pagos à população.
Parênteses
Na opinião do vice-prefeito de Araraquara, Sérgio Médici, que afirma desconhecer o texto e, por essa razão, não ter posição definida sobre o acordo, é preciso promover com a sociedade uma ampla discussão sobre a Alca. “Acredito que a maioria das pessoas que votou contra não sabe o que está sendo discutido. É preciso saber se os Estados Unidos irão conceder isenções ou não. Um tratado de cooperação entre países é bem-vindo, mas precisa ser bom para eles e para nós”.
A prefeita de Américo Brasiliense, Cleide Berti Ginato, comenta que está têm lido artigos e reportagens sobre o assunto e que, por isso, ainda não pode se posicionar contra ou favoralmente. “O Brasil é um país muito grande, especialmente na área de alimentos, e precisa, de fato, buscar novos mercados para vender seus produtos. Só que não podemos virar reféns e nem ficarmos isolados com a ‘integração’ da economia das Américas”, destacou.
O diretor do Erplan, José Alberto Gonçalves, preferiu dizer que “o assunto é polêmico” e se absteve de qualquer outro comentário.
Fortalecer
Para o empresário Roberto Massafera, a Alca é importante para os Estados Unidos e do ponto de vista do comércio internacional é “sufocante” para o Brasil. “Ou aderimos à ela e lutamos para que seja benéfica ou ficaremos à margem do processo”, frisou.
Ainda assim, Massafera considera que seria fundamental fortalecer o Mercosul e, a partir daí, toda a América Latina faria a adesão. “A economia brasileira é frágil para competir com a americana. Há um protecionismo muito grande, sem disfarces, para os setores frágeis e pouco competitivos da economia norte-americana. Entendo que a Alca é viável desde que o Mercosul esteja fortalecido e os países da América Latina negociem o melhor acordo para todos. O que não pode ocorrer é abrimos o mercado para os produtos deles e eles não abrirem para os nossos”.
O prefeito de Santa Lúcia, Antônio Sérgio Trentim, também vê como essencial que os Estados Unidos dêem fim ao sistema que favorece preferencialmente os produtos nacionais, onerando de taxas os produtos estrangeiros. “Poderá ser benéfica, porém precisa ser debatida e encarada sem ingenuidade, para que, entre tantos fatores, os Estados Unidos não mantenham sua política de protecionismo”.
O deputado estadual Dimas Ramalho considera que o Brasil, nesse momento, não deve assinar o acordo. “O novo governo precisa assumir e promover uma ampla discussão como Congresso, sindicalistas, enfim, com a sociedade civil. ainda não está claro como seria o acordo”, defende.
Dimas acredita que o Brasil não esteja, ainda, preparado para a Álca. “Muitos de nossos produtos são taxados no mercado americano, como o suco de laranja, calçados, açúcar, aço e o álcool. Também estamos duas gerações atrasados tecnologicamente. O Brasil precisa fortalecer a indústria, que está individada. O novo governo não deve fechar as portas, mas, apenas, não permitir que seja fechado o acordo no início do ano”.