N/A

A Mesa de 19 lugares

Raphael Fernandez (*)

Quando era criancinha, não via a hora de o Natal chegar. Ia parar de brincar com as latinhas de leite da Nestlé, ligadas a um arame que, em fila indiana, pareciam um trem da Paulista. Quase igual ao trem de luxo que passava às 10 horas em ponto e permitia acertar o relógio com seu ruído característico e os apitos intermitentes. Meu pai trabalhava na gare da C.P. justamente onde o trem passaria, com porte de campeão, graça e beleza, como as meninas turbinadas que enfeitam as passarelas da moda.

Como filho de ferroviário, tudo era motivo de alegria. Até quando ia fazer compra no “vagão-armazém”, era o “rapa” do pessoal da EFA, era motivo de festa. No meio dos produtos essenciais, lembrados na lista da mãe, vinham umas balas e bolachas diferentes. É bom salientar para mostrar a importância dessas balas, que a gente comia maçã quando ficava com sarampo ou catapora. Esta, a doença carimbada de benigna que hoje deixa o Dr. Valter Manço com dor de cabeça. É que o diretor do Serviço Especial de Saúde tem poucas vacinas para tantas crianças da cidade. E o pior é que essa tal de benigna pode escorregar para outra denominação com a presença de bactéria oportunista…

Bem, lá no início estava falando do Natal e de repente vieram outras idéias, também oportunistas que desejavam fazer parte do texto, mas, não farão…vão esperar outra oportunidade, talvez outro período de férias do titular desse espaço, o Dr. Galhardo. Aliás, caro amigo-irmão tem um montão de gente com saudade do seu saber: para se informar e rir. Volte logo!

Quero falar do Natal, do encontro na casa do meu avô Izaltino, debaixo de uma parreira de uva. Mesas encostadas, cavaletes com tábua de pinho ou porta que era retirada para se transformar em aparador. E ao derredor os adultos e as crianças. Ah, que encontro maravilhoso. Quanta saudade daquela energia aflorada pela magia natalina e pela amizade de tios, primos e outros parentes que a gente quase não via, mas, todos unidos pelo coração do avô e da Tonica, como a chamava o experiente, humano e querido Dr. Francisco Logatti. Quando a minha avó, doente e quase pifando visitava o Dr. Logatti na Beneficência era como se estivesse encontrando o bálsamo ou aquela água milagrosa que o massagista coloca na perna do jogador e ele sai correndo para marcar o gol da vitória. Parecia milagre e a minha avó vencia as doenças… com as brincadeiras, calor humano e palavras do Dr. Logatti.

Os avós foram para os segundo andar, alguns tios também e outros se mudaram, os primos cresceram e tiveram filhos que a gente nem os conhece e a festa de Natal, o pessoal em torno da mesa ficou, como disse, na saudade. Feliz de que promove ou faz parte de uma mesa fraterna, de amor, de calor, de amizade, de interesse, de abraço e beijo, de olhar, de sintonia e de vez em quando de alguns (pequenos) desentendimentos: fazem parte do tempero que retempera a relação, que torna cada um insubstituível, sem igual com as qualidades e defeitos próprios.

E, nesta semana, soube de um casal maravilhoso que, mesmo com a força da tecnologia e tempo que teima em ficar escasso, consegue manter incólume a reunião dominical, numa mesa de 19 lugares. Onde se respira amor, ninho…A notícia chegou como um gancho e pinçou num cantinho da minha memória o meu encantamento pelo encontro de Natal. Encontro que não consegui perpetuar… tive apenas dois filhos, um netinho. Acho que faltou a mesa de 19 lugares que com certeza exigiria mais trabalho, mais energia, mais empenho, mais maturidade que infelizmente chega quando a vida se aproxima do inverno.

Parabéns aos que reúnem gente amiga e de sangue, ao derredor de uma mesa. Aos domingos, uma vez por mês, no final do ano, no aniversário do pai, enfim, qualquer dia, qualquer hora… não existe riqueza maior que essa. Não existe bênção mais dadivosa.

Compartilhe :

ÚLTIMAS NOTÍCIAS

Araraquara Decreta Emergência em Saúde Pública Devido à Epidemia de Dengue

Fevereiro Roxo: Docente de Medicina da Uniara ressalta a importância da campanha de orientação sobre a fibromialgia e lúpus

Câmara realiza Audiência Pública sobre doenças Raras, rede de atendimento e tratamento

“Carnaval 2025: Tradição da Alegria” tem blocos definidos

Câmara debate situação do comércio ambulante e dos carrinhos de lanche

CATEGORIAS