Tenente Dirceu Cardoso Gonçalves (*)
“Esquerda, direita, centro, extrema esquerda ou extrema direita pouco importam ao cidadão comum. O que ele quer do governante é resultado. Se este for positivo, se tiver emprego ou conseguir sobreviver economicamente, não importa o rótulo que o governante queira utilizar. Aliás, os rótulos têm apenas um efeito eleitoreiro. Alardeia-se que a esquerda é a favor dos pobres e a direita, dos ricos. Mas exemplos de governos eleitos são plenos de esquerdistas protetores do empresariado, ricos, e direitistas que se dedicam fortemente a bons resultados sociais. Rótulos, portanto, nada significam para os habitantes de um país”.
A observação é de Michel Temer, advogado, parlamentar, presidente da Câmara, vice-presidente da República, presidente e o que me é caríssimo, meu Secretário de Segurança Pública, a quem coube conduzir o País no traumático momento do impeachment da presidente Dilma Rousseff. Alguém que se recusou à reeleição (quando a lei lhe facultava esse direito) e possui larga folha de trabalho pela pacificação da política brasileira é muito bem vindo nesse momento em que as tendências ideológicas se degladiam perigosamente. Particularmente, eu sempre rejeitei os estereótipos ideológicos e preferi a expectativa da experiência política e dos bons propósitos daqueles que se apresentam como candidatos, independente da “cor” partidária que apresentam. É o que identifico na publicação do ex-presidente, que espero ter novas manifestações.
Depois de mais de uma década de embate duro entre direita e esquerda, permeado pelos interesses dos centristas e assemelhados, o que temos é uma terra de política conflagrada. As pontas tentam liquidar o adversário e os intermediários correm em busca de vantagens que possam auferir das batalhas. Faz muito tempo que adversário tornaram-se inimigos irreconciliáveis e o Brasil padece pela falta de entendimento em pontos que poderiam ser conciliáveis não fossem os interesses, a vaidade e a turra dos ditos representantes do povo e seus nomeados.
Salvo melhor juízo, tudo começou quando os parlamentares minoritários, ao não conseguirem aprovar seus projetos nas respectivas casas legislativa, passaram a recorrer ao Judiciário na tentativa de invalidade das leis aprovadas no Parlamento. O Judiciário, por sua vez, aceitou a tarefa e tornou-se parte do embate político e hoje disso é acusado todos os dias. A independência e harmonia dos poderes – estabelecida pela Constituição – prejudicou-se pela prática que, em certos momentos levou o Legislativo a omitir-se, o Judiciário a Legislar e o Executivo a tentar tirar vantagem disso.
Mais de uma centena de parlamentares estiveram investigados e processados, ficando de “rabo preso” no Judiciário. O Judiciário, com vestimentas de salvador da Pátria usa mão-de-ferro e ignora ritos e foros para cuidar dos temas que lhes caem às mãos e o quadro fica cada dia mais perigosamente tenso.
Agora verifica-se a apuração do suposto golpe pretendido por Jair Bolsonaro, coisa que não me cabe discutir, principalmente porque está tramitando nas altas esferas e é alvo de fogo cerrado entre as partes. O bom seria que tudo isso acabasse sem mortos nem feridos e a Nação pudesse voltar a respirar em paz.
Talvez a anistia – não só para uns, mas para todos que já foram processados e até condenados por razões político-administrativas – seja a solução. Mas as partes não querem quando ela também beneficia seus adversários. Se acontecer, não será novidade, pois em 1979 ocorreu assim e garantiu a volta dos exilados, a libertação dos presos políticos e a normalidade da vida nacional por anos a fio.
Bem vindas suas palavras, presidente Michel Temer. Em não estando na relações de pré-candidatos e nem de apoiadores de qualquer dos pretendentes ao poder, Vossa Excelência, com o apoio na experiência adquirida, poderá ser o pêndulo capaz de influenciar para o nosso País voltar à paz e a concórdia política, único meio pelo qual poderemos garantir melhores dias à população e – em verdade – até mesmo aos que hoje colocam lenha na fogueira e patrocinam o incêndio político-institucional.
Precisamos, urgentemente, o respeito à divisão dos Poderes da República para que sejam eles eficazes na promoção do bem-estar dos mais de 200 milhões de brasileiros, independente do que pensa cada um deles em termos políticos. Que o Legislativo legisle, o Executivo execute e o Judiciário judique com todas as prerrogativas que a legislação lhes confere. Sejam eficientes no que fazem nas não pequem por omissão e muito menos por excesso.
(*) É dirigente da ASPOMIL (Associação de Assist. Social dos Policiais Militares de São Paulo)