João Baptista Galhardo
Querida mãe. Espero que estas mal traçadas linhas vá encontrar todos com saúde. Nós vamos tocando como Deus quer. Consegui montar um quebra cabeça de cem peças em dois meses. Na caixa estava escrito de 3 a 5 anos. Estou tentando me registrar no livro dos recordes.
Este teu filho é um fracassado nos negócios. Primeiramente comprei um táxi. Não consegui um passageiro. Ainda bem que a Maria estava sempre no banco ao lado me consolando. O apoio dela tem sido fundamental. Fui trabalhar numa loja de carros. No primeiro dia fui despedido. E processado por roubo. Só porque ao vender um Uno dei de presente ao comprador um Prêmio. Montei um cinema 180 graus. Infelizmente alguns expectadores morreram. Acho que tenho que baixar a temperatura.
Fui trabalhar na loja do Farid. Ele viajou e mandou queimar o estoque.
Pegou fogo no quarteirão inteiro. Jogo na supersena. Nunca ganhei. Outro dia consegui empatar. Os números eram os mesmos. Joguei o bilhete fora.
Não estou mais comendo naquele restaurante que lhe falei. Passei a freqüentar outro em frente. O dentista em razão do tratamento que estou fazendo pediu para eu comer do outro lado.
Quebrei meu carro. Está na oficina. Numa rua havia uma placa: “devagar, quebra molas”. Acelerei e arrebentei tudo. Voltei e escrevi: “depressa também quebra”.
Aqui só tem embrulhão. Fiz uma pequena cirurgia. Até no material que usam enganam a gente. O médico disse que usaria anestesia local, mas li muito bem que foi fabricada na Alemanha.
Ando muito triste porque talvez eu tenha que ser castrado. Peguei um tal de colesterol e o médico disse que eu tenho que cortar os ovos.
Lembra do tio Manuel? Ele foi fazer um teste para entrar na Polícia. Para medir a sua coragem, deram para ele um revolver e pediram que ele matasse a mulher que estava na outra sala. Ele entrou. Era a esposa dele. Só se ouviu gritaria e pancadas. Depois ele saiu e disse para o examinador: – Por que vocês não me avisaram que as balas eram de festim? Tive que matá-la na porrada.
Não estou contente com minha sogra pelas suas ofensas. Gastei todas as minhas economias para lhe dar um casaco de pele de raposa e sabe o que me disse?: “como uma coisa tão maravilhosa pode vir de um animal tão insignificante”. Deixa pra lá…
Ontem encontraram o esqueleto do filho do dono da padaria que estava desaparecido há um ano. Identificaram pela corrente e medalha que tinha no pescoço: “Manoel Joaquim – campeão de esconde-esconde”. É pena. Era o que mais brincava com as crianças do bairro.
A prima Terezinha e seu marido acabaram de adotar um japonesinho recém nascido. Já entraram numa escola para aprender a língua japonesa para poderem conversar com ele quando crescer.
Vou terminando. Tenho que abanar a Maria. Ela entrou numa fria danada. É que apareceu lá em casa uma cachorrinha de orelhinha em pé. Não sabemos qual é a sua raça. Ficamos apaixonados por ela. Estava com muita coceira, levamos ao veterinário. O burro deve ter se formado por correspondência. Examinou a cadelinha e receitou remédio para a minha mulher. Disse ele:
– compre essa pomada. Ela arde, mas é boa. Depois raspe bem os pelos e esfregue bastante na sua “chuaua”. A Maria fez como o médico mandou. Faz duas semanas que ela não anda de bicicleta. Teu filho Joaquim.