João Baptista Galhardo
Todo homem já deve ter experimentado o dissabor e o desconforto de estar falando e perceber que não está sendo ouvido. Seja num simples diálogo ou perante uma platéia. Um dos grandes problemas da comunicação é o de como alguém ouve quem está falando. Raras pessoas ouvem exatamente aquilo que quem fala quer dizer. Sem exceção de classe, idade ou sexo. Escutar não é o mesmo que ouvir. Quase sempre se ouve o que quer, ouve-se o que o outro não está falando. Ouve-se o que se imagina ter ouvido. Ouve-se já pensando na resposta que vai dar. Ouve-se com raiva ou com ódio. Ouve-se com soberba, jactância e orgulho. Com desdém. E em muitas vezes nem deixa o outro falar, interrompendo inconvenientemente, cortando-lhe de vez a concatenação de sua explanação. Até mesmo ao telefone há quem atenda com uma simples palavra antipática: “FALA”. E outros da mesma forma quando são atendidos: “QUEM?” A pessoa que não sabe ouvir tem sempre um aceno de cabeça, um ar severo, má postura, rosto carrancudo, sobrancelhas franzidas, olhos errantes, pernas entrecruzadas, bocejos e outras atitudes análogas censuráveis. Há muitas e excelentes obras sobre como falar ou se comunicar, mas pouco ou quase nada como ouvir. Ouvir é difícil. Envolve interação entre quem fala e quem ouve. Exige uma certa cumplicidade, respeito, compaixão e convívio. Exige empatia. Ouvir é um constante desafio em aceitar quem fala como ele é, tirando proveito do que pode ser aproveitado. E isto exige humildade. Um comportamento sem ostentação, arrogância, acinte ou insolência. Ouvir é proeza, é façanha, heroísmo. Plutarco, escritor grego, dizia há quase dois mil anos atrás que o ouvido é o órgão da sabedoria. Ao ouvir aprendemos mais a pensar do que a falar. Ouvir é raridade, finura e preciosidade. Saber ouvir é tão importante que no momento em que se conseguir ouvir a própria voz, haverá moderação na fala. Isto se aprende sozinho ou com ajuda da fonoaudiologia. É só experimentar. É difícil, mas não impossível. Se aprendermos a ouvir a própria voz, aprenderemos a ter paciência, no sentido de interação e compreensão, para ouvir quem nos fala. Ouvir é uma maneira de aprender. Por mais simples que seja o emissor, alguma coisa de útil terá para nos transmitir. E se nada tiver, aprenderemos não cometer os seus erros. É fácil falar. Difícil é ouvir a própria consciência. Ouvir com benignidade. Ouvir o barulho do silêncio. Ouvir a voz de Deus. Ouvir com carinho, amor e atenção o que falam os filhos, os pais, os amigos, esposos, jovens e velhos, crianças e adultos, os amantes, estudantes, professores, os religiosos e os desafortunados da vida. A criança nasce sabendo ouvir. Basta atentar para sua preferência pelo lado esquerdo do colo da mãe para amamentar-se. Isto porque aprendeu, ainda em gestação, a ouvir a batida amiga do coração materno. Desaprende depois que cresce. E com os que já cresceram. Ouvir envolve renúncia, altruísmo, entrega, abnegação. Significa amor e atenção ao próximo. E muita paciência, desprendimento. Mesmo que o ouvinte tenha razão para criticar, responder ou acrescentar deve antes ouvir atento e sem interrupção. O bom ouvinte tem doçura no olhar e suavidade no semblante. Ouvir bem não é o mesmo que silenciar pateticamente diante de quem está falando. O silêncio tem mais a ver com o saber calar. Sabendo ouvir, veremos o que se passa à nossa volta. E sem este comportamento sincero e autêntico de atenção e paciência para com aqueles que caminham conosco, não poderemos exigir que Deus ouça as nossas preces.
É preciso harmonizar vozes e ouvidos para criar um campo mundial telepático e magnético, de trocas de crescimento em todos os sentidos, a fertilizar o ar e a terra com sementes de amor, respeito e consideração.
E a regra se resume simplesmente em tratar todos como gostaríamos de ser tratados.