Você é capaz de perdoar?

Marilene Volpatti

Se não der para pensar no assunto, é bom reconsiderar: perdoar, é bom para si próprio.

“Era uma amizade e tanto,” lembra Flávia ao falar de seu relacionamento com uma prima de seu marido. “Só que ela conseguiu estragar tudo”. A partir do momento que descobriu que ela – a prima do marido -, fazia a cabeça dele contra Flávia, acabando com seu casamento, não deu outra; cortou a amizade pela raiz. Vive até hoje sem olhar para a cara da “tal prima”.

De uns tempos para cá, a prima deseja fazer as pazes. Mas Flávia não quer perdoa-la. “Nem pensar. Acho bom ela agir como ser humano e que queira nosso bem de verdade, mas o que ela fez a nosso respeito foi muito grave, você não acha?”, pergunta ao marido. Flávia sabe que está na hora de deixar o passado para trás e de começar a se preocupar com o futuro. Mas não consegue: “Quando mais precisava de seu apoio, para nosso casamento que não andava bem das pernas, ela ousou colocar mais lenha na fogueira e agora eu não preciso mais. O que ela fez foi muito cruel. É o tipo da coisa que não merece ser perdoada.”

Para este caso levanta-se uma dúvida: quando o perdão é merecido? Como é que alguém chega à conclusão de que o que passou passou? É provável que, a essa altura, já estejamos nos perguntando se devemos ou não perdoar alguém. A pessoa pode estar léguas de distância ou até mesmo no quarto ao lado em nossa casa. Pode ser um indivíduo que encontramos no trabalho diariamente ou alguém que não vemos há anos – ou até mesmo não veremos nunca mais. Mas é possível que a pessoa de quem temos mais raiva tenha sido muito importante em nosso passado. É só pensar em disputas familiares ou nos divórcios litigiosos para percebermos como o amor profundo pode se transformar em ódio irracional.

Traição dos mais íntimos

Sonia dá duro no trabalho de secretária em escritório de consultoria e até bem pouco tempo definia seu casamento como feliz. Para ela, a notícia de que seu marido tinha um caso com outra mulher, a melhor amiga, caiu como uma bomba. Definiu: “infidelidade é como acidente de carro: a gente acha que só acontece com o próximo. Só que esse “acidente” aconteceu dentro da minha casa, no meu quarto, na minha cama”, diz.

A relação com o marido, Eduardo, esfriou, congelou. A vida familiar tornou-se uma tortura. “Chegou uma hora em que a relação acabava ou a gente fazia alguma coisa para resolver a situação”. O marido queria recomeçar do nada. Pediu perdão. Sonia não sabia se conseguiria dá-lo. Mas conseguiu. “O mais díficil foi perceber que minha imagem de casamento perfeito não tinha nada a ver com o meu. No meu caso uma traição acontecera: o homem que mais amava tinha sido infiel. Tive que me perguntar se poderia conviver com isso”.

De que maneira Sonia resolveu perdoar Eduardo? Chamando sua atenção, dizendo que seu erro era injustificado e que ela estava sofrendo muito com isso. Admitiu que seu casamento era importante para ela e, que, por isso queria perdoar a infidelidade dele e seguir em frente com a vida. Ela tenta não lembrar que ele cometeu um erro tão sério, mas às vezes, especialmente quando está numa discussão, confessa que não agüenta. E depois que joga na cara dele a lembrança da infidelidade acaba se sentindo mal por ela e por ele.

O que os terapeutas alertam: “temos que entender que deixar a raiva para trás faz parte do processo. Não é fácil, mas tem que tentar. Normalmente confundimos perdoar com esquecer e com desculpar. É preciso lembrar que a raiva faz parte do processo de perdão”.

Desculpar

Torna o perdão desnecessário. Suponhamos que temos na família uma pessoa viciada em droga e que rouba dos familiares para sustentar o vício. Podemos ficar possessos com seu comportamento. Por outro lado, percebemos que ela está doente e por causa do vício não consegue se controlar. Nesse caso, podemos desculpar. Não faz sentido perdoar, pois não há o que perdoar.

Esquecer

Podemos esquecer sem que tenhamos desejado. Mas perdoar é algo que nós fazemos acontecer. Durante uma festa de confraternização, por exemplo, brigamos com um companheiro de trabalho. Passado algum tempo não lembramos mais o motivo da discussão e se o encontrar de novo certamente não estaremos mais magoados com ele. Mas será que nós perdoamos? De jeito nenhum. Passou a hostilidade porque o incidente foi esquecido, não porque foi perdoado. Perdoar depende de uma decisão; não podemos perdoar por acaso. Podemos esquecer sem perdoar. Da mesma maneira, podemos perdoar sem esquecer. É diferente.

Ato interior

Podemos perdoar secretamente, sem que ninguém saiba, nem mesmo quem está sendo perdoado. Perdoa-se até quem já morreu. Perdoar é ato individual e interior. É por isso que Sonia está pronta para perdoar e Flávia não. Mesmo que um dia ela venha a mudar de idéia, nesse momento ainda está mergulhada na dor que a prima do marido lhe causou. O fato de que ela provavelmente está machucando a relação familair não pesa mais do que a dor que ela sente – pelo menos por enquanto.

Perdoar não é fácil, especialmente se ainda sofremos com o mal que nos fizeram. Cada ato de perdão é um confronto com a gente mesmo. A decisão de perdoar faz parte da decisão de ver nossas vidas e nossos relacionamentos com outras pessoas a partir de uma perspectiva diferente. É uma maneira de controlar as emoções, em vez de deixar que elas nos controlem. Mas quando, finalmente, nós nos decidimos, vamos perceber que o ato de perdoar pode ser libertador. Ato díficil, e que se vê muito pouco nos tempos em que estamos vivendo. A capacidade de perdoar é relativa à de amar. Faz bem!

Serviço

Consultoria: Drª Tereza P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone:- 236- 9225.

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