Vera Botta (*)
A violência não tem sabor de chocolate
Semana de Páscoa. Ressurreição. Momento de renovação de compromissos. De se entoar um “novo canto”. De convite à vida. Mas, como podemos nos dedicar a esse sentimento de paz, talvez esperado, neste momento? Assistimos, estarrecidos, a atos de violência em escolas de nossa Morada. Aqui e acolá. A violência juvenil vem ocupando manchetes. Depredações, uso de drogas… Reuniões foram realizadas à exaustão. Entre 4 paredes. E lá fora, a violência continua em escala crescente. Infelizmente, não se trata de imagens fugidias que poderiam lembrar os jovens rebeldes dos anos 60. O consumo de drogas entre alunos da rede pública de ensino beira 50 %, segundo informações colhidas.
Ameaças e cobranças de pedágios para compra de drogas têm sido denunciadas. O medo faz a ronda. Adolescentes têm desistido de ir às aulas. Por temor de represálias. Gangues ganham poderes e passam a comandar o espaço. Tenta-se tapar o sol com a peneira. Respostas evasivas dos poderes. Acena-se que a PM vai agir nas escolas com mais rigor. A reação à violência juvenil deve ficar por conta da polícia? A polêmica tem rolado solta. Entidades diretamente ligadas aos problemas de crianças e adolescentes se chocam. A discordância ultrapassa a escolha de métodos e programas a ser dimensionados no enfrentamento da violência juvenil. Chega à disputa política.
Um bairro de lindo nome foi rotulado de terra sem lei. Medidas de repressão foram tomadas. Será que o caminho para a solução dessa violência se resume na colocação de câmeras de TV, para monitorar a vida no interior das escolas? Equipamentos de circuito fechado de TV com alarmes eletrônicos estão sendo instalados no interior de nove escolas estaduais de Araraquara e em mais de 10 municípios por iniciativa da Secretaria Estadual de Educação. Como tentativa de se coibir pequenos furtos, indisciplina ou desentendimento entre alunos. A Delegada de Ensino reconhece que a medida é paliativa. Teve a coragem de apresentar o último levantamento de ocorrências policiais envolvendo escolas do Estado, chamando à responsabilidade toda a sociedade. A questão da violência é somente uma questão de polícia? Com certeza, câmeras e monitoramento não resolvem por si só a violência. As declarações da Delegada são, no mínimo, um alerta contra a conspiração do silêncio, contra o jogo de empurra-empurra que não quer cutucar feridas e tornar visíveis fraturas expostas.
E onde buscar responsabilidades?
Negligência e abandono da família? Autoritarismo dos pais? Seriam os tempos duros? Seria a falta de perspectivas de sobrevivência? Seria a crise do modelo escolar em prática? Seria a falta de diálogo? Seria o minguado horizonte de capacitação profissional ou de inserção no mercado de trabalho? Há 34 anos, o célebre movimento de contestação de 1968, reunindo o poético e o político, afirmou a verdade do desejo, a utopia. O que a violência juvenil nesse começo de século indica? Não há sinais de utopia nas agressões, nos espancamentos, no circuito repressor das drogas.
Depoimentos de jovens rebeldes da Febem nos fazem pensar seriamente na violência como risco de castração do futuro. Ausência de sonhos, de perspectivas de mudanças.Não bastam lamentos e olhares preconceituosos ou acusadores. Ah! Esses jovens perigosos! Ah! Esses jovens que não querem construir o futuro! Seriam comportamentos individuais que deveriam ser punidos? A violência juvenil seria solucionada se a polícia estivesse mais presente nas escolas, nas ruas? O aparato policial desarmaria o uso da droga? Ou se deveria investir em uma revolução cultural, na transição para novos modelos de escola? Em medidas educativas preventivas. Em ações positivas que visem trazer o jovem ao convívio da sociedade e não rotulá-lo ou segregá-lo… Não é monitorando a pessoa que vamos impedir que ela faça uso da droga ou pratique atos de violência. É necessário mostrar a ela opções a essas práticas. Praças de esporte onde jovens possam descarregar sua energia deveriam estar ocupando o lugar de postos policiais? A população decide. O O.P. está aí!!! Por que não intensificar espaços para instalação de oficinas de dança, de teatro, de poesia? Espaços esses que pudessem preencher o tempo ocioso das crianças e jovens, mostrando caminhos outros que não o da delinqüência.
O que não se pode é deixar a violência ficar no jogo das competências. Quem assume? Que possamos pautar os debates – e que não sejam longos e estéreis pela vontade política de não suprimir a infância e a adolescência em Araraquara. Em nome da luz da nossa Morada. Da vida.
Notinhas da Câmara
* A notícia de que a terceirização da merenda voltaria à cena causou novos atropelos. Os servidores municipais estão pondo a boca no trombone e exigindo definições!! Com razão! Por que não retomar o projeto de inserir na merenda a produção dos nossos assentados? O que está por trás desse biombo? Por que não valorizar o que é nosso? Seria efeito da municipalização? perguntam uns….? “Ah! Que saudade dos tempos em que a merenda era saboreada” é voz corrente… A Câmara não vai ficar neutra!! Nem eu!!!
* Entre boatos de preparação de uma nova CEI – ainda sobre o lixo!!! – e as reclamações sobre a limpeza da cidade, as vozes soaram fortes na última sessão! E Araraquara era chamada a Cidade mais limpa das 3 Américas!!!
* O Dia do Teatro foi comemorado com um bom investimento da Prefeitura/Fundart/Secretaria Municipal da Cultura. Com o lançamento do curso de técnico-ator. A Coluna prazerosamente cumprimenta José Celso Martinez Correa pelo recebimento de Cidadão Paulistano!! Valeu Zé!
Boa Páscoa. Que o canto novo simbolize para todos nós, araraquarenses, um convite a lutarmos contra a violência. Pela paz , com amor. Até a próxima!!!
(*) É Coordenadora do Mestrado da Uniara e colaboradora do JA.