Vera Botta (*)
Vidas que semeiam: a reconhecida caminhada da mestra Sylvia de Oliveira Mendes
A decisão de homenagear a profª Sylvia não se deu por apelos retóricos, nem por dever de oficio. Mas por reconhecer tudo o que vem sendo semeado por esta educadora no sentido pleno do termo, educadora como formadora de idéias, educadora pela sua ética, pela sua maneira – peculiar e inesquecível – de estimular a criatividade, a liberdade de pensamento de seus alunos.
A profª Sylvia começou sua vida profissional muito jovem e teve, em todos os caminhos escolhidos e trilhados, na Psicologia ou na Matemática, a marca da coragem, da decisão, da vontade de ir além, sem deixar de cultivar sua vida interior como espaço da ética, dos afetos, da humildade, da ousadia, da visão de nossa transcendência. Valores que passou a seus incontáveis alunos, mostrando, acima de tudo, a importância da liberdade de pensar, mesmo se fosse para transgredir – no bom sentido deixando bem acesa a chama de sua vontade de não deixar submersas ou enterradas as inquietações.
Nossa querida homenageada nunca valorizou verdades absolutas, nem se deixou seduzir por apelos do poder, de qualquer parte que eles viessem. Nunca buscou o consenso, nem o caminho fácil de conseguir posições por práticas concessivas e permissivas. E não é fácil a decisão de ser diferente. Com certeza, aceitou como desafio que a vida não tem de ser sorvida como uma taça que se esvazia, mas como o jarro que se renova a cada gole bebido.
Bem-vinda a audácia de pensar
Certamente, não foi o caminho da acomodação o escolhido por nossa querida homenageada. Tomo de empréstimos palavras de Lya Luft em Pensar e Transgredir. “Pensar pede audácia, pois refletir é transgredir a ordem do superficial que nos pressiona tanto”.
A profª Sylvia sempre pensou e repensou a existência, questionando pseudo verdades impostas, sem rebeldias insensatas, talvez sem exagerada sensatez. Semeando conhecimento e semeando sonhos, de se ter, na liberdade de pensamento, discernimento, maturidade; não confundida com acomodação ou desistência da vida, coragem, no sentido de não desistir diante dos desafios.
Ensinar sem fronteiras
Repensando sua vida, a escolha de suas prioridades, salta aos meus, aos nossos olhos sua obstinação, sua vontade de ir até o final nas lutas miúdas e graúdas. Pode parecer estranho que a profª Sylvia tenha sido professora de Educação e de Matemática, duas áreas aparentemente diversas. Não o é, pois nossa mestra já questionava verdades e distâncias entre as ciências, muito antes dos pensadores contemporâneos. Talvez porque não lhe interessasse pautar-se por leis universalmente válidas, mas buscasse priorizar a produção de um conhecimento estimulante, relacionando ciência e virtude, ciência e ética, razão e paixão. Com certeza, porque o ato de ensinar e de aprender não poderiam, para nossa mestra, dissociar-se da vida, do retorno social do conhecimento.
Um momento de respeito e de celebração
Confesso que sem ter sido sua aluna, a observava como uma pessoa muito especial que tinha a missão de desbravar caminhos… Que bom poder, depois de algumas décadas, prestar-lhe esta homenagem… Decisão tomada carinhosamente e hoje todos nós, seus amigos, seus ex-alunos temos a oportunidade de prestar-lhe este tributo, não por uma questão de registro formal. Afinal, Araraquara foi por ela escolhida há mais de 50 anos e Sylvia tem dado provas mais do que convincentes de que sabe fazer bom uso da tradição guerreira dos filhos de nossa Morada. A homenagem não é apenas minha, mas vem da parte de todos os que a admiram, a querem bem. De todos os seus amigos presentes física e espiritualmente a quem, na pessoa da nossa querida Prof ª Fanny, quero agradecer.
Hoje a Coluna faz uma pausa para registrar o tributo à Prof ª Sylvia de Oliveira Mendes… Convidamos a todos interessados em pensar o presente e o futuro de nossa cidade, a estar na Câmara no próximo dia 19, às 15h, na Audiência Pública sobre o Plano Diretor. Boa semana a todos. Até a próxima!
(*) É pesquisadora da Uniara e vereadora pelo PT.