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Vera Botta (*) – vbotta@techs.com.br

Lélia Abramo:

93 anos de lutas e de sonhos

De quantas lutas foi feita a vida de Lélia Abramo, artista querida que faleceu na última semana aos 93 anos? De quantos momentos de glória pessoal abriu mão para lutar por um país melhor? Se quisesse, poderia ter se limitado a saborear, embevecida, os inúmeros troféus recebidos por seu desempenho no teatro e no cinema… Poderia ter, como muitos o fazem, se contentado com seus ganhos individuais. De outras escolhas Lélia teceu sua história. E sempre mostrou, na força dos gestos, das palavras, das ações que, sem sonhos e desafios coletivos, a vida não valeria a pena.

Brasileira, filha de imigrantes italianos, trouxe das raízes familiares a aptidão pelas lutas políticas. E a transformou, ao longo de sua vida, na bússola da defesa de suas convicções, de seu renovado entusiasmo por buscar mais e mais justiça social.

Uma pausa… Risos…Lágrimas. A estrela em cena

Lélia foi criada num casarão do bairro Ipiranga em São Paulo e, nos anos 40, mudou-se para a Itália, por problemas de saúde. Uma cirurgia a privou do sonho de ser mãe, mas não castrou sua inesgotável capacidade de doar-se, sem limites.

Diante do duro racionamento imposto pela Segunda Guerra Mundial, há uma passagem que mostra, sem encenação nem maquiagem, a firmeza de nossa estrela. 4 de junho de 1944: os aliados entravam pela Via Appia para libertar Roma. À frente, em pé, em seus taques, os americanos jogavam chocolates para a população faminta. Lélia Abramo não se abaixou para pegar o que via como “caridade imperialista”. É por isso que Antonio Candido prefaciando Vida e Arte, sua auto-biografia, escreveu do fundo da alma: “Lélia Abramo nunca vergou a espinha”… De aparência reservada, quase austera, transformava-se ao discutir política. Deixava transbordar sua paixão, sua incessante vontade e determinação de dizer que valia a pena lutar e sonhar. Furtava-se a elogios a si mesma, detestava a auto-promoção. Nunca se deixou contaminar pelos sedutores apelos da fama. Elegeu como espaço de vida a ética e a coragem num movimento de luz e de luta por um mundo mais justo.

Do palco às lutas cidadãs

Estreou no teatro com mais de 40 anos, vencendo preconceitos e abrindo caminhos. Ajudou a estabelecer um marco na construção de uma dramaturgia essencialmente brasileira, não temendo por o dedo nas “feridas e injustiças” da nossa sociedade. De muitos prêmios foi sua caminhada. Mas, foi no palco da vida, na luta por liberdade de expressão em todo o período militar, na defesa dos direitos trabalhistas da classe artística, quando enfrentou a própria emissora em que trabalhava que Lélia Abramo passou a ser a expressão plena da coragem.

Sua luta pela legalização da profissão de ator finalmente reconhecida em 1978 lhe permitiu receber a carteira de atriz com registro número 1 da Delegacia Regional do Trabalho. Não parou no meio da escada, para esconder-se dos riscos de cair e ter que recomeçar. Entrou, de corpo e alma, na luta pela convocação da Assembléia Nacional Constituinte entre 1970 e 1980 e na formação do Partido dos Trabalhadores. A força da estrela impregnou sua vida, levando-a a criticar a castração da liberdade e o desrespeito aos direitos humanos. Com certeza, para Lélia, a simbologia da estrela, marca da esperança e da mudança não submergiu. Oxalá seu exemplo de vida e de coerência seja seguido pelo PT nesses conturbados tempos presentes….

E Araraquara a homenageou em vida!!!

Cidadã araraquarense pela sua dignidade – título que lhe foi concedido por iniciativa do nosso prefeito quando era vereador – Lélia Abramo teve, ao ver as oficinas culturais de nossa cidade com seu nome, momentos de emoção, de alegria, de (re)nascimento. Que bom ter nesta estrela guia a trilha para perseguir nossa cidadania cultural!!! Com certeza, a estrela cidadã Lélia Abramo está brilhando em nosso céu, aplaudindo todos os atos e ações que semeiem, além do espetáculo, das luzes e holofotes, valores de justiça, de respeito ao direito de se ter direitos.

Do outro lado da galáxia

Espetáculos lamentáveis de falta de ética. A Câmara vive um difícil momento de indefinição povoado de muitos temores. Quantos vereadores serão eleitos??? 12,17 ou 21? Na ronda das apostas, fala-se muito e legisla-se pouco. O Plano Diretor chegou, está em nossa Casa de Lei, com todas as honras de filho primogênito há muito esperado. No entanto, a escalada das mudanças de zoneamento parece seguir sua marcha incólume!!! Seria um sonho impossível??? Oxalá os fluídos da nossa querida estrela, de 93 anos de luz e de integridade iluminem nossos caminhos.

A Coluna fica por aqui! Registrando com prazer a Conferência Municipal da Educação e a Conferência Municipal da Mulher. Momento importante para a cidade e a cidadania. Boa semana a todos. Até a próxima!!!

(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.

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