Vera Botta (*)
Mulheres na política: estranhas no ninho?
Temos uma história atravessada por violências, discriminações e situações de fato reveladoras de que para as mulheres não tem sido fácil sair dos lugares que lhes são naturalmente reservados. Entrar em espaços da política, da decisão vem sendo um desafio nada idílico. Para garantir o direito ao voto, muitas águas rolaram. Votos de mulheres foram anulados e, em 1932, como parte de um jogo populista do Governo Vargas, as mulheres “ganharam” permissão para votar, desde que autorizadas pelos maridos ou que contassem com renda própria. “Pelas mãos dos maridos” passou a ser uma expressão que parecia fazer parte do “destino” feminino. Mulher e política viviam em rota de colisão como se fosse proibido ao sexo “frágil” adentrar ao portal da decisão e do poder.
60 anos depois, a lei das cotas: conquista ou retrocesso?
Consagrado em vários países do mundo desde os anos 70, as tentativas de trazer para o Brasil o sistema de cotas de participação da mulher nos centros de decisão política têm gerado controvérsias. Afinal, é possível romper o elemento de estranheza presente na relação entre mulher e política? Teria a cultura “machista” sido enterrada? Resultados são inegáveis no circuito dos números: a participação feminina na política brasileira aumentou. No Congresso, corresponde a 6%, nos legislativos estaduais atinge 10% e nos municipais, chega a 11%. As mulheres já ocupam igualmente 6% das proposituras do país. De um lado, os resultados da política de cotas foram altamente positivos. Obrigou ao partidos a incorporar a preocupação com as questões das mulheres em sua agenda política. De outro lado, o quadro mostra que nenhum partido conseguiu preencher o percentual definido pela lei. Falta de investimento dos partidos, falta de vontade das mulheres?
O “falso” argumento do desinteresse das mulheres
Atributos da incompetência, da fragilidade, da falta de vontade são comuns nas explicações sobre a menor presença das mulheres na política. Permanece nos partidos resquícios da cultura machista, o que pode ser comprovado pela quase inexistência de mulheres na direção/presidência dos partidos. Qual é o espaço efetivo que as mulheres têm no partido? Ou elas são chamadas em tempos de eleição por força de uma exigência legal? Os partidos debatem questões ligadas à discriminação sofrida pela mulher no mercado de trabalho, ao descumprimento de seus direitos, à ausência de políticas públicas de enfrentamento à escalada crescente da violência?
Constata-se que, em virtude da lei de cotas, há um forte investimento dos partidos para convencer as mulheres a se candidatarem, mas, num segundo momento, pesa decisivamente a ausência de mecanismos mais democráticos de financiamento público de campanhas, o que dificulta não só a inserção das mulheres, como dos setores sociais com menor poder aquisitivo. Passado o tempo do que é politicamente correto fazer, parece ficar a sensação de que as mulheres devem mais uma vez concorrer para “ajudar” os candidatos homens. Bem vindas as cotas! Um basta às falsas participações!!!
Como está o cenário em Araraquara?
Tivemos de 1996 para 2000, um aumento de 2 para 5 vereadoras. Sinal de que Nossa Morada é menos preconceituosa? Resultado das mulheres que têm mostrado que no lar, no trabalho e nos palanques, sabem e querem lutar pelos direitos?
Mudou a situação das mulheres araraquarenses pelo fato da bancada feminina representar cerca de 25% da Câmara? Tem mudado, sim. Por conta desta representatividade, também por vontade do governo municipal. A Casa Abrigo às vítimas da violência deixou de ser uma promessa que não saia do papel. Semanas sobre violência de gênero foram introduzidas nas escolas. Buscou-se ampliar as perspectivas das mulheres amamentarem seus filhos.
As barreiras não foram ultrapassadas, mas, comprovadamente as vereadoras têm procurado na Câmara estimular políticas públicas voltadas às mulheres, às crianças, às famílias. E, que me perdoem os colegas de Legislativo, mas a sensibilidade da mulher é fundamental na política, o que não quer dizer que não queiramos, ao nosso lado, companheiros lutando por uma sociedade igualitária e fraterna. Foram tais questões que o evento Mulheres e Política por mim promovido na Câmara Municipal no dia 11 quis passar a limpo. Sem maquiar os problemas e o necessário desafio de se ter mais e mais, mulheres na política.
A Coluna fica por aqui! Ou possamos nas nossas fragilidades e ousadias manter o compromisso com a verdade. Com a luta pela justiça. A todas as mulheres de Nossa Araraquara, um abraço fraterno e carinhoso. Até a próxima!
(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.