Vera Botta (*)
Merenda escolar: contra fatos, não há argumentos
A perspectiva de mudar as regras do jogo na condução da merenda escolar esquentou ainda mais a temperatura absurdamente quente que nos tem castigado. Por que mexer em projeto que sempre foi considerado parte integrante do bom investimento na educação infantil?
O projeto dos CERs tem história, tem passado, tem presente, é reconhecido nacionalmente como nosso cartão de visita na área municipal da educação. E a merenda é preparada cuidadosamente sob coordenação de uma nutricionista que, com sua equipe, sabe bem que educação, saúde, alimentação sadia andam juntas na construção de cidades e cidadãos saudáveis.
O edital anunciando diretrizes da terceirização, ainda que revogado, não desfez o mal estar, o medo, a ansiedade, os inúmeros porquês que têm feito fervilhar a cabeça das merendeiras, das diretoras, de todos aqueles que se preocupam com os rumos da educação infantil.
Afinal, por que esta decisão de introduzir novas formas de gestão em experiências-piloto, sem maiores esclarecimentos? Não há riscos de demissão das merendeiras, a palavra tachativa do Secretário da Administração não foi levada muito a sério. Para aonde vamos, vêm perguntando insistentemente as merendeiras, entre temores e comentários cabisbaixos à boca miúda, do tipo “mas, a terceirização não tira empregos e não prejudica a qualidade do serviço?”.
A perspectiva da merenda ser preparada por uma empresa terceirizada parece tirar-lhes o gosto do ofício, do cuidar, do querer ver suas crianças comendo bem, de dar água na boca. De se sentir também educadoras, pois, afinal cuidar da boa alimentação, da higiene, dos hábitos da vida diária, fazem parte do desenvolvimento do comportamento infantil, do qual as merendeiras são parte. E a terceirização ou uma melhor gestão se apresenta, com toda pompa, como expressão de um processo impessoal que parece quebrar tais vínculos. Quebra justificada pelo menor custo, pela maior racionalização dos gastos. Mas, a relação da criança com os pais, com os agentes educacionais, com as merendeiras não pode ser pautada por operações contábeis.
E no grito de rebeldia das merendeiras, o que mais marcou foi o sentimento de perda de uma relação, construída com o suor de seu trabalho… “Querem justificar isto por nossas faltas?” “E alguém foi ver como somos tratadas nos Postos de Saúde?” E há algum programa, de fato, dirigido à saúde do trabalhador(a) que possa nos prestar atendimento? E os nossos corpos? Nós nem sentimos… A temperatura em que cozinhamos é alta, a dor na coluna é tão forte que até nos paralisa”. Mas não queremos ceder espaço, nem os nossos lugares sem saber tim tim por tim tim como eles serão ocupados.
Aonde há fumaça, há fogo
É melhor prevenir do que ter que chamar os bombeiros que poderão, dada a falta de viaturas, nem ter como nos socorrer. Tudo tem que ser muito bem pensado e discutido nesta polêmica questão da terceirização. Se a questão for de prazos, de ajustes nas entregas das compras, isto pode ser solucionado. Se o problema está no fato da Prefeitura ter assumido algumas escolas das quintas às oitavas séries, o que interfere na questão da quantidade da merenda, voltemos a discutir a fundo a municipalização!!! Desabastecimento, locação de equipamentos, controle de custos não podem ser analisados sem se pensar nas vidas dos sujeitos protagonistas deste processo. O diálogo tem que ser aberto!!! Participe no dia 20, às 19h30, na Câmara Municipal do debate: “TERCEIRIZAÇÃO E O FUTURO DO SERVIÇO PÚBLICO”. É a hora e a vez de se manifestar.
Notinhas da Câmara
* Helenita estreou na presidência na condução da sessão. Foi ágil e objetiva. As matérias não entusiasmaram os vereadores!!! Efeito calor ou Big Brother Brasil? Zum zum zum!!!
* Turquinho apresentou dados novos sobre o episódio 'bang bang’ do Velho Armazém. Vai prosseguir nas investigações…
* Muitas homenagens nas inaugurações do governo. Horácio Serafim, Spoto, Uilcom Jóia Pereira. Pessoas inteiras, inesquecíveis. Infelizmente só se pode homenagear pessoas depois que elas morrem. Vamos mudar isto???
A Coluna fica por aqui, com um profundo sentimento de tristeza pelo fechamento do Cine Capri. Como você, Loyola, chorei. O ex-Cine Paratodos foi um misto de sonho “hollywoodiano” e de oportunidade de ver cinema de vanguarda através da Sessão Zoom. Como os sonhos não morrem, vamos fazer um grande pacto. Dos que amam Araraquara. Para a Prefeitura viabilizar um Centro Cultural. Boa semana a todos, até a próxima!
(*) É Coordenadora do Mestrado na Uniara e colaboradora do JA.