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Vera Botta (*)

A independência não se conquista só no grito

Já se passaram 181 anos do famoso grito pela Proclamação da Independência do Brasil. O “Grito do Ipiranga”. Um grito com status de liberdade. Um grito simbólico e solene bradado por uma realeza que “caía na real”. Mas, de qualquer forma, um grito histórico. Ao longo desses anos, gritos se sucederam. Brados têm ecoado da Amazônia ao Chuí. Brados pela cidadania, pelo respeito. Por um trabalho digno, pelo direito ao lazer.

Eu grito, você grita, tanta gente grita e por tantos motivos. Às vezes, diante das impotências, de profundas desigualdades de terra, de renda, de riqueza, o grito passa a ser a única reação humana como a de Luiza, uma catadora do Distrito Federal ..

“Às vezes, a gente é tratado como o lixo que a gente fica catando por aí o dia todo. Eu quero é ser gente, tendo o pão de cada dia”.

Os gritos são ouvidos?

Excessos de ruídos, poluição sonora, insensibilidade crônica nos impedem, às vezes, de ouvir o verdadeiro grito do povo. Como se estivéssemos vacinados ou anestesiados. Os gritos do povo em seus momentos de dor, de raiva, de medo, de luta, muitas vezes até nos causam angústia e preocupação, Mas, vamos ensurdecendo cada vez mais a nossa capacidade de se indignar e protestar. Como se tivesse que ser assim. Verdadeira perda da audição! “São muitos os que estão cansados, dizem, de ouvir falar em opção pelos pobres. A esses eu respondo que certamente os pobres estão muito mais cansados de ser pobres.” (Pedro Casaldaglia)

E os gritos, em uníssono, em mais um 7 de setembro, têm um lampejo de esperança, de querer ver mudanças, embora elas sejam difíceis e demoradas.

O grito exigente

Sob o signo da estrela, também se grita? Sim, pela mudança possível na viciada estrutura de desigualdades e de injustiça social. De privilégios para poucos e miséria para muitos. Grita-se, às vezes com impaciência. Calma, gente! A transição nem sempre tem o tempo que se quer!!!

Epa! Os gritos aumentaram de tom??? O que está acontecendo? Nossos impulsos de mudança foram golpeados? A atropelada agenda das reformas nos atingiu no cérebro e no coração? Ou no bolso? Grita-se pelo rompimento de alguns pactos? Grita-se sob pressão da Grande Imprensa que especula, a cada dia, sobre o calcanhar de Aquiles de Lula?

Diante dos barões da imprensa nacional, que insistem em afirmar autoritariamente sua verdade absoluta, a estrela sai das nuvens e lança fagulhas no espaço… Não quer sufocar os gritos pela falsa idéia de que os poderosos são os melhores, porque sabem mais… Porque detêm a competência, porque falam em inglês. A estrela descarta esse tipo de exigência e acredita que um mundo novo pode emergir dos excluídos e excluídas. Não é qualquer cartão-alimentação que vai abafar o grito exigente, mas se houver sinais – não promessas – de que se busca oportunidades de alfabetização, de capacitação profissional, de criação de empregos, de uma saúde menos doente, de um trabalho que resgate a auto-estima das pessoas e das famílias, o grito exigente pode ser paciente. E dosar sua tonalidade… Entre o esperado e o possível, há, sem dúvidas, diferenças…

Quem grita em Araraquara?

Em nossa cidade também se grita. Pela forma como o governo federal agiu para corrigir as distorções enormes, até imorais, que existem na Previdência Social. Grita-se pelas regras do jogo terem sido mudadas no meio da partida. Grita-se contra a violência que nos toma de assalto! Grita-se contra as notícias – nada comprovadas – de eventuais aumentos no IPTU. Grita-se para se manter cooperativas vivas! Grita-se para se ter o melhor plano de carreiras possível para os servidores municipais! Grita-se para não se ter que enfrentar filas para fazer exames médicos,.muitas vezes sem fazê-los. Grita-se contra a poluição do ar! Ah, Ah, Ah…

Grita-se contra injustiças ditas ou insinuadas! E, ao mesmo tempo em que se grita, um pensamento se fortalece. Queremos louvar nossa terra. Nossas virtudes. Nossas limitações. Nossos raios de sol. Nossos sonhos de liberdade… E ainda que soframos golpes e tenhamos que ter paciência em nossas exigências, queremos fazer de nosso grito uma profissão de fé-esperança.

A Coluna fica por aqui! A Câmara vai bem, apesar dos assaltos à mão armada. Felizmente há tiros que saem pela culatra! Semana de Sartre, de resgatar a história viva da cidade. Afinal, no início dos anos 60, de efervescente esperança radical, Sartre, em Araraquara, comandou um grito, numa feliz conjugação entre a perspectiva de uma nova realidade e a magia de sua palavra inspirada. E o grito do filósofo da liberdade foi a forma mais plena de ser exigente naquele momento. Grito que ficou na lembrança, no coração, na sensibilidade de todos os araraquarenses que tentam fazer o pensamento e a ação política caminharem de mãos dadas!!!

Boa semana a todos! Até a próxima!

(*) É pesquisadora da Uniara, vereadora pelo PT e colaboradora do JA.

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