Vera Botta
13. 6ª feira. Dia de Santo Antônio:
(entre crendices e apertacintos)
Tem lugar para superstições e crendices neste mundo louco? Nesta lógica irracional que reúne protestos, desesperanças, críticas contundentes e simpatias para se ter um amor… A Coluna tem falado de coisas muito sérias. De rixas. De divisões. De negociações mal resolvidas. De fraturas expostas na saúde doente. De tosses indesejáveis causadas pela poluição do ar.
Mas hoje é dia 13. Dia de Santo Antônio. O Santo que segundo lendas enfrentou em Pádua um decreto que levava as pessoas a se casar mais com a "carteira" do que com o coração. Enfrentamento que lhe rendeu a aclamação de "Santo Casamenteiro". Santo Antônio das coisas perdidas. Será que a sensibilidade, o querer, as coisas do coração poderão ser (re) encontrados?
Quem não se lembra???
De histórias de sortes e de superstições? Por que não resgatar da nossa memória crendices contadas como "verdade absoluta" por nossas avós de sangue ou de adoção?? Por que não assumir que, por trás das simpatias ligadas às festas juninas, há uma cultura popular que grita para ser preservada. Confesso que me entreguei a pinçar na memória as lembranças com um indescritível prazer. Talvez porque é sempre gostoso (re) descobrir a criança que todos nós temos. Talvez por saudades de um tempo que parecia mais de paz, de solidariedade. Talvez porque sinta hoje vontade de dar receitas de crendices, de me entregar à magia da sabedoria popular e de falar de amor.
Trocando em miúdos, pode guardar…
A cultura popular no seu registro de simpatias e superstições gira em torno do amor. Tem um milho casamenteiro, o futuro no chumbo, o pulo da fogueira. Só para saber antes de ontem à noite, na véspera de Santo Antônio você pôs numa bacia de água papéis dobrados com as letras do alfabeto? Por que? Ora, porque se assim o fez, o papelzinho que abriu será a inicial do nome de quem vai casar com você.
Abriu mais de um papelzinho? Não se preocupe, bigamia também tem vez na cultura popular. Não abriu nenhum? Não desanime. Que tal o milho casamenteiro? Faça um pirão e ponha dentro um caroço de milho. De olhos fechados, divida o pirão em três porções. Ponha uma na porta da rua, outra sob a cama, a terceira na porta dos fundos. E daí? Qual é o resultado? Caroço de milho na porta da rua é sinal de próximo casamento, sob a cama vai demorar, na porta do fundo é bom sentar e esperar com paciência.
Se não der casamento, o que fazer?
O "futuro" no chumbo pode mostrar mares nunca antes navegados. Derrame chumbo derretido numa vasilha de água. Assustou-se com as formas produzidas? Deu navio, viagem, riqueza! Embarque nessa! Não fique querendo "na marra" um casamento… Só não desista do amor… A vida pode ter outros caminhos prazerosos E Carlos Drumont nos lembra… "Recordar um amor antigo, Ter um ombro sempre amigo…" Uma festa…um violão…um seresta… E Santo Antônio também já se cansou de ser somente lembrado para arrumar casamento… E nem por isso você vai rejeitar suas crendices. Mesmo porque nosso imaginário tem que ser alimentado ainda que em tempo de "aperta-cintos"…
É possível ter fé em clima de aperta-cinto?
Enquanto alguns se mostram embevecidos com a propagação da boquinha lucrativa e com a alta dos juros, muitos protestam. Contra a política econômica, contra a proposta da Reforma da Previdência em tramitação no Congresso Nacional. Será que há diferenças entre dissidentes e companheiros quando se trata de defender os direitos dos aposentados que dedicaram toda sua vida ao trabalho? Por que a tributação para os servidores inativos? Serão os servidores públicos, de fato, os responsáveis pelo rombo da Previdência? Perguntas que fazem fervilhar as cabeças de muitos brasileiros. Por acaso, estava em Brasília no dia 11 deste mês. Em uma discussão sobre pós-graduação no MEC. Tinha muita gente na marcha de protesto. Não pareciam pessoas raivosas ou agressivas. Muitas tinham um ar de desencanto, de incredibilidade.
Não foram as vaias provindas dos puxadores oficiais que marcaram as manifestações do dia 11. O PT tem uma história de lutas, de defesa da dignidade dos trabalhadores, da sua integridade que sempre fizeram da estrela 13 o símbolo iluminado da ética, do debate democrático. Esta história não parece combinar com punições e retaliações.
Tomara que o dia 13 de Santo Antônio possa recalibrar desencontros e (re) encaminhar a estrela na rota da esperança, do verdadeiro sem medo de ser feliz, mesmo que seja preciso recorrer à crendices, sortes ou superstições.
Os trevos de 4 folhas da 6ª feira 13
As plenárias temáticas do Orçamento Participativo têm nos dado muitas lições de vida. A juventude, alegre e ruidosa mostrou no último dia 7 que quer mais espaço para o esporte e o lazer. Bom sinal para combater a violência! Os jovens assentados reivindicam programas de geração de trabalho e de renda…
Os Afrodescendentes afinaram as vozes e mostraram força, com as mulheres na linha de frente. Um Centro de Referência e de documentação histórica voltado para a Cultura Afro-brasileira e Afro-araraquarense foram as prioridades definidas. Não se trata apenas de mais um espaço físico. Querem o resgate da auto-estima e da cidadania. Querem orientação jurídica às pessoas vítimas de crimes raciais. Querem reformulações nos livros didáticos e conscientização nas escolas. Exigem a inversão de atributos que fazem o negro aparecer na história oficial, como "cativo" ou "vilão". Querem justiça.
As mulheres chegaram em blocos. Nos olhares vivos e na defesa de que direitos não comportam diferenças de sexo mostraram sua veia guerreira. Querem mais incentivos em projetos de geração de trabalho e de renda, especialmente para mulheres acima de 40 anos e para jovens que têm dificuldades em entrar no mercado de trabalho. E no grito dado "queremos trabalhar" estava presente o sinal vermelho a qualquer forma de violência e a reivindicação, por parte dos poderes, de intensificação de ações neste sentido!
Os portadores de deficiência disseram com palavras, expressões faciais, gestos, respiração que não querem olhares piedosos ou complacentes. Querem infra-estrutura para poder se reunir. Um centro de convivência para discutir e desenvolver ações propositivas contra a exclusão. Querem o cumprimento das leis de cota destinadas a empregar portadores de deficiência. Querem respeito e não discriminação.
São estas vivas expressões de cidadania que nos fazem acreditar nos sonhos, sem desacreditar das crendices e superstições.
E para terminar, a Coluna recomenda: Na 6ª feira 13 e para se garantir, no dia 14 também, pise primeiro com o pé direito na terra, para ter mais sorte. Feche a casa antes das 18:00horas, para não entrar bruxarias. Ou faça um pacto com as bruxas. Se um gato preto cruzar na sua frente, faça-lhe um afago. E se entregue ao vôo das borboletas. Fique de bem com todas suas crendices. E tenha uma excelente semana. Até a próxima!!
(*) É vereadora pelo PT e colaboradora do JA.