Vera Botta
Entre a cruz e a espada, o que fazer?
Dez dias de greve. Quase 50 de negociações. A greve mais longa de nosso funcionalismo municipal. A situação desgastante tem nos deixado agoniados. Enquanto cidadãos, enquanto parlamentares. Talvez por respeitarmos as duas margens do rio. Talvez por acreditarmos que é possível uma tentativa de atravessá-lo, mesmo que seja em nadadas lentas. Talvez porque queiramos evitar, a todo custo, o naufrágio.
De um lado, os servidores e suas legítimas reivindicações. Quem não quer ser valorizado em seu trabalho? Quem pode dizer que estamos em um período de tranqüilidade econômica, de baixa inflação… As idas aos supermercados que nos digam. A cada compra, um susto! E os remédios? Quem pode adoecer? E a cada recebimento de uma tarifa pública, um suspiro desanimado… “Ah! Como piorou essa CPFL. Hoje, corta-se a luz das famílias carentes que muitas vezes nas sombras, não sabem nem com quem dialogar e encontrar uma luz no túnel” desabafa nossa Velha Senhora, retomando, logo a seguir, a difícil situação vivida por seus filhos. Talvez “se fizéssemos uma greve geral contra a alta dos preços” completou Marta, uma funcionária do setor fiscal da Prefeitura empenhada em encontrar soluções para a greve, poderíamos dizer não a muitos desmandos que têm se alastrado feito erva daninha…
Quem está com a razão?
Os servidores municipais são vitais para o bem estar da população, têm que ser valorizados. Em seu trabalho, em suas vidas… De outro lado, o governo, com seus balancetes demonstrativos da evolução dos números – nem sempre os esperados – tem demonstrado em audiências públicas, a portas abertas ou fechadas que há riscos fiscais. Quem está com a razão? Trata-se de uma intransigência do governo ou de uma impossibilidade? A administração tem reafirmado que é preciso ter prudência. Que não é possível conceder o reajuste reivindicado porque estouraríamos as finanças municipais. Que não se pode atravessar o sinal amarelo, por que o perigo não é só receber uma multa de trânsito. Trata-se do risco de interromper atendimentos básicos. E o NÃO ao reivindicado pelo sindicato e pela categoria tem nos posto diante de muitos desafios. Sentir-se entre a cruz e a espada não significa covardia ou omissão. Talvez responsabilidade, vontade de ir além.
Para quem quer fazer da greve palanque político, está fácil. É só criticar, dizer que há números mal explicados e falta de vontade política. Passado o clamor do palanque, lava-se as mãos. Estar entre a cruz e a espada é talvez encarar a tarefa de tentar mediar, construir negociações possíveis em um quadro em que é muito difícil dizer quem tem razão e ponto final.
E agora José?
Um grupo de funcionários do setor fiscal em conjunto com alguns vereadores (especialmente Edna, eu e Idelmo) tentou avançar nas propostas. No plano dos números e dos reajustes imediatos, pouco se avançou, mas foram sinalizados outros caminhos… Se a receita com a cobrança da dívida ativa crescer… Talvez se os grandes devedores que, por muito tempo se beneficiaram com uma anistia pagassem seus impostos… poderíamos, daqui a 2 ou 3 meses, estar apresentando outros índices de reposição das perdas salariais. Utopia? E o que seria da vida sem ela?
E a esperança de contribuir nos fez apresentar a proposta de formação de uma comissão ampliada que pudesse, no acompanhamento da evolução da receita e das despesas, na sugestão de corte e em ações propositivas, vincular possíveis superávits à recomposição das perdas salariais.
E fora da ciranda dos números?
Esta greve tem, inegavelmente, importância. Quebrou tabus de que os servidores municipais eram incapazes de fazer greve. Expôs fraturas. Deixou o governo à flor da pele. Impôs a alguns vereadores, como eu humildemente reconheço, o sentimento de estar entre a cruz e a espada. Agora, se na discussão do fio de navalha em que nos encontramos, aparecerem no cenário perseguições, caça às bruxas, inflexibilidade na negociação dos dias parados e dos processos administrativos, saberei muito bem de que lado estar. Atos punitivos não são positivos em qualquer processo de construção. Por isto, sem me render à cruz, não aceito a espada se a mesma vier com ameaças, com constrangimentos, com atos que queremos apagar da memória… Tristes lembranças dos anos de chumbo!!!
Notinhas da Câmara
– Turquinho e Manço articularam bem a derrubada do meu projeto que cerceava a utilização de emendas como técnicas de obstrução parlamentar. Usando e abusando dos “sedutores” métodos de “convencimento”. Para bom entendedor, meia palavra basta! E viva a Democracia! Quem perde e quem ganha? Perguntas que os cidadãos devem se fazer…
– Ameaça de incêndio no pedaço. Convocação de entrevista para críticas. Na mira, a secretária da Saúde, funcionária de carreira que tem toda uma trajetória de trabalho. Turquinho, na mesma rota de sempre, não inova na oposição. E é tão jovem…
A Coluna fica por aqui. Comemorando, como se estivéssemos na primavera, a realização da I SEMANA DO MEIO AMBIENTE promovida pela Prefeitura de Araraquara em parceria com a UNIARA, de 2 a 5. Estão todos convidados. A possibilidade de colher frutos a favor do meio ambiente nos acalenta. E dá, ao sentimento de estar entre a cruz e a espada, o alento de saber que a luta é pela cidade e pela cidadania. Boa semana a todos. Que o calor humano nos aqueça nesta ameaça de inverno. Com a proteção de São Jorge!.
(*) É vereadora pelo PT e colaboradora do JA.