Vera Botta
A negociação truncada.
A greve dos servidores municipais está nas ruas. Quantos pararam? Não importa o número. A greve aparece barulhenta em frente ao Paço Municipal, nas músicas criadas, nas vaias, na tentativa de desqualificação generalizada do PT, da sua bancada de vereadores, como se a discussão ocorresse entre dois inimigos que nunca tiveram nada em comum.
Por que?
Será uma questão de mudança nas regras do jogo quando se chega ao poder? Será a expectativa idealizada de que um governo petista pode provocar mudanças mágicas? Será uma falta de sintonia nas falas, nos gestos, nos atos, nas formas de comunicação? Serão os ruídos indigestos da não comunicação ou das informações desencontradas?
Se se tratasse de uma relação individualizada entre as pessoas, uma história de amor ou de desamor mal resolvida, poderíamos pensar em uma conversa tête a tête, em que os dissabores seriam postos na mesa e poderia se ter, no (re) encontro, um brinde à vida, dura de se vivida, mas que sempre vale a pena!! Não se trata, no entanto, de uma relação entre duas pessoas. Nem por isso deixa de ser uma situação mal resolvida.
Pontos e Contrapontos.
A eleição do Edinho quebrou uma tradição histórica da cultura política da cidade. Nele, foram depositadas expectativas e esperanças de mudanças. Talvez a vontade de ver na política menos favorecimento, a porta aberta à participação, ao falar, ao ser ouvido.
Dois anos depois, a população participa, discute o destino da cidade em números, nas decisões sobre orçamento. Investimentos vêm sendo feitos em áreas até então pouco olhadas, dirigidos aos adolescentes, às mulheres vítimas de violência, aos idosos. Há programas novos na área de Educação que nos emocionam, como o da Escola para o Campo. Há tentativas bem sucedidas de democratização da Cultura e de valorização de uma formação na área, sem distinções de sexo, de cor, de posição sócio-econômica.
Há uma valorização da periferia. Há reclamações no centro da cidade dirigidas à limpeza pública. Há demandas por emprego que não têm sido resolvidas, por absoluta falta de alternativas. Há ônus que pesam sobre os municípios a exigir uma profunda (re) avaliação dos caminhos fiscais. A balança dos pontos e contrapontos dá superávits a favor do governo. O que está havendo então? Talvez seja falta de diálogo, talvez haja distorções no jeito de se mostrar que se tem autoridade. É uma questão do jeito de ser exigente ou de utilização, por atitudes de má fé, das dificuldades do governo?
Recordar é preciso
As rodadas de negociação se sucederam. Da pauta de reivindicações do acordo coletivo apresentado pelo Sindicato, de 20 itens, houve consenso em cerca de 15. O bicho pegou mesmo na hora de se discutir índices econômicos, na questão do ticket alimentação (proposta de aumento de R$ 100,00 para R$ 150,00) e da reposição salarial de 22%. A situação agravou-se com o fato do Plano de Cargos, Carreiras e Salários, reivindicação legítima e histórica, ter sido apresentado simultaneamente à discussão do reajuste, dando margem para os críticos de plantão afirmarem que se tratava de uma tentativa de semear ilusões ou de se tapar o sol com a peneira. Talvez parta destes críticos de plantão, que em tudo vêem manipulações maquiavélicas, a avalanche de informações desencontradas que têm desnorteado a categoria. Talvez haja, por parte da declaração do prefeito de só retomar negociações se a greve for interrompida, inflexibilidade desnecessária. Negociação não se resolve com endurecimentos, nem de uma, nem de outra parte. A negociação foi interrompida de maneira abrupta. Lamentavelmente.
O fogo cruzado ocupou a cena
De um lado, afirmações do governo de que a proposta de 20% de reajuste nos tickets e abono de R$ 40,00 representam o limite do possível. De outro, questões postas pelo sindicato de que há uma margem permitida constitucionalmente para despesas com pessoal e de que é possível melhorar a proposta, a bem dos servidores e de toda a população. Para esquentar o desencontro, desinformações sobre o plano é que não faltam. E o caldo tem tudo para entornar se este processo for pautado por ameaças e represálias de ambas as partes. Zum, Zum, Zum. Muita falação. Murmúrios. Ansiedades. Ebulição…
“É verdade que a contratação dos 40 é para punir os grevistas? O prefeito vai mesmo acionar a Justiça?” São perguntas que respondemos diariamente, dizendo NÃO E NÃO!!! A fala agoniada de uma funcionária “quem está dizendo a verdade?” nos fez parar e pensar. O que é a verdade? Passa somente pelos números? Ou por uma reconstrução de soluções negociadas? Por uma mudança nas relações?
Critica-se a Câmara, especialmente a bancada do PT, como se fôssemos medrosos e omissos. Políticos de direita, tradicionalmente contrários à manifestações de lutas, se apresentam como vanguarda da greve. Onde está a verdade? A bancada quer renegociar, quer buscar caminhos. Nunca aceitou ouvir falar dos servidores como se eles fossem irresponsáveis ou vagabundos. Quer acompanhar a greve, não para fazer desse difícil momento, palanque para palavras, até fáceis, que se evaporam sem deixar atitudes conseqüentes. .
O momento exige ética e responsabilidade e, mais do que nunca, respeito aos servidores e à população que precisa do seu atendimento. Em nome deste respeito, propomos reabrir a porta e tudo investir para que a negociação truncada não se transforme em destino fatal. Isto exige que as partes envolvidas cedam. Se o mais importante é o que une, não o que separa, que vençam os servidores e as necessidades da população. Boa semana, até a próxima! Que Deus nos proteja.
(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.