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Vera Botta (*)

O Brasil amanheceu mais feliz

De que é feito o estado de felicidade? Da alegria, de sorrisos, da vontade de se abraçar, de comemorar, de extravasar gritos contidos na garganta. Não era somente mais uma festa por um resultado eleitoral. A vitória de Lula demonstrou a expectativa de mudança, a certeza de que se estava comemorando não apenas um novo presidente, mas uma idéia, um símbolo. As pessoas de todas os tipos, negras, brancas, mulheres, homens, empregados precariamente, desempregados, acima ou abaixo da linha de pobreza mostraram que a esperança não morreu com o aumento da exclusão social. O povo elegeu a sua própria cara mais profunda pela primeira vez, resgatando sua auto-estima.

E os preconceitos dissimulados ou abertos não conseguiram amordaçar, pelo medo, a vontade de mudança. E os que torciam o nariz ou confundiam capacidade de ação e liderança com formação acadêmica tiveram que se curvar à incrível história de um torneiro mecânico que acumulou em sua trajetória de vida muito mais sabedoria do que os eruditos e insensíveis governantes que têm passado por nosso país.

Nesta vitória, há um ajuste de contas de um século. No começo do século 20, os operários lutavam por direitos trabalhistas e sofreram violenta repressão. O Estado apropriou-se da palavra operário e buscou criar imagens de que a cidadania só poderia ser concedida, não construída nas e pelas lutas.

Um século depois

Temos um novo simbolismo. Cansada das injustiças e dos erros cometidos pelas elites, o povo brasileiro resolveu confiar o seu destino a alguém da classe operária, como se quisesse reconhecer o direito que ela tem – e lhe foi, por muitas vezes usurpado – de participar decisivamente da nação, com ânimo de mudança.

Em todo o mundo, quantos trabalhadores manuais chegaram à chefia do Estado? Bem poucos e só o fizeram pela luta armada, pela guerra. Lula chegou ao poder em uma fantástica vitória democrática, nas urnas. Sem mudar de classe. Sem ter tentado ser doutor de fachada. Sem mudar sua essência. Continua essencialmente identificado aos interesses de sua classe, porém decidido a atender às necessidades de todo o povo brasileiro. A reerguer sua auto-estima. A buscar, sem receitas mágicas, formas possíveis do Brasil mudar.

E a minha e a nossa felicidade?

Reporto-me a momentos distintos do meu envolvimento com o PT que tem 20 anos. Há situações inesquecíveis que nos fizeram chorar e nos abraçar emocionados no último domingo. Quero falar especialmente a uma amiga querida, Ana Maria Elias e a seu filho Ivan. Em 1982, muito longe da fase de out-dours e de campanhas organizadas com marketing dirigido, fazíamos estrelas de espuma. Nela amarrávamos cabos de vassoura. Para irradiar estrelas na cidade. Saíamos à noite, para não ver castrados nossos desejos, em um grupo, com Ivan e Gustavo, meu filho nos acompanhando. Pessoas como Cleuza, Bosco, Irani, Carnesecca, Lairton, Leila e Flávio e tantos outros que não mediam esforços para fazer valer o simbolismo da estrela. O resultado? Com latas de tinta a tiracolo, carimbávamos o modelo artesanalmente construído e espalhávamos pela cidade chãos de estrelas… Na Santa Cruz, no viaduto da Av. Barroso, nas saídas das escolas… Chãos de estrelas eram marcas de nossa esperança, de nossa vontade de mostrar às pessoas que este símbolo retratava luz, expectativa de mudança.

E no abraço apertado que nos demos, no choro, nas palavras emocionadas do Ivan, nos telefonemas trocados com Gustavo, a cada passo de nossa passeata, estávamos resgatando sonhos, desejos, lutas de toda uma vida… É por isso que o estado de felicidade dá direito ao choro e ao riso, à dança e à festa e, especialmente, abre alas à esperança.

O orçamento municipal não tem donos

A experiência de orçamento participativo, ainda que incipiente, tem levado o governo a discutir prioridades e políticas de investimentos com a participação da população interessada. Lições de cidadania no manejo do dinheiro público vêm sendo dadas. Entretanto, na Câmara, sempre se discutiu muito pouco o orçamento. Há quase 10 anos atrás, tentávamos, Edinho e eu, apresentar emendas ao orçamento e recebíamos, na recusa explícita, o recado: “em questões de dinheiro público, quem decide é o Executivo”.

Parece tratar-se de um ritual consagrado pelos deuses, no qual os homens não podem mexer. E a embalagem facilita o distanciamento. Olhando-se o calhamaço do orçamento, parece que estamos diante de um balancete intocável de fontes de receita e despesa. Um quebra-cabeça assustador para ninguém ler, entender, muito menos tentar emendar. É preciso, no entanto, enfrentar o desafio do quebra-cabeças.

Por trás dos códigos e números, há decisões sobre vidas humanas, prioridades sobre programas de saúde e educação, perspectivas possíveis de enfrentamento à exclusão social. Não estaremos nas próximas sessões da Câmara votando qualquer balancete contábil. É o destino da cidade!!!!!

O ciclo de debates sobre o orçamento proposto pela vereadora Edna, aprovado pela Câmara, tem mostrado claramente a importância de termos uma relação transparente e compromissada com os números da peça orçamentária. Tem valido a pena. Os vereadores têm participado pouco, mas insistir é preciso.

Especialmente para mostrar que o orçamento não tem donos.

Atenção! Atenção! Uma audiência pública sobre queimadas e seu efeito poluidor sobre a qualidade de vida vai acontecer em novembro. Na próxima Coluna, daremos a data. Queimada não combina com estado de felicidade, não é mesmo? Uma boa semana a todos. Um abraço a todos araraquarenses e que o raio de esperança nos impulsione a manter ações solidárias. Até a próxima!

(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.

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