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Vera Botta ( * )

70 anos depois: as mulheres a frente das lutas

Há 70 anos atrás, as mulheres conquistaram o direito ao voto, derrubando barreiras que apresentavam o espaço político e democrático como prioridade exclusiva dos homens.

E quantas batalhas foram vencidas! A luta das mulheres pelo direito ao voto remonta ao século 19 e início do século 20. Tecelãs e costureiras participaram do movimento grevista de 1907, reivindicando direitos. E ao longo das próximas décadas, movimentos e repressões se sucederam.

E quantas águas rolaram e como se tentou naturalizar a diferença entre homens e mulheres! Afinal, por que uma dona de casa, conformada, satisfeita com sua dependência econômica e submissão ao marido poderia querer votar, ter direitos trabalhistas, discutir democracia? Não importa se as mulheres viam ou não dessa forma. Este era o retrato que pautava as relações homens/mulheres na sociedade brasileira.

A década de 20 foi privilegiada no que diz respeito às propostas de mudança. Em 1922, na Semana da Arte Moderna, os desenhos de Anita Malfati já anunciavam a mulher que estava por vir. Independente, original e inventiva.

O primeiro estado a votar uma lei que estendia o direito do voto às mulheres foi o Rio Grande do Norte, em 1927. Em abril de 1928, 15 mulheres votaram neste estado, mas os votos não foram reconhecidos no plano federal. O direito ao voto só se tornou, de fato, realidade depois da Revolução de 30. E com muitas reticências. Em 1932, o Código Eleitoral Provisório garantiu o direito de voto às mulheres casadas, desde que com autorização do marido, às solteiras e viúvas, se tivessem renda própria. O voto feminino passa a ter estatuto legal, sem restrições, com a Constituição Brasileira de 1934, com a ajuda de Carlota Pereira de Queiroz, a primeira constituinte brasileira.

Por que relembrar esta história?

Será que ainda tem sentido falar em tabus e preconceitos quando as mulheres ousam entrar no terreno da política não somente como atrizes coadjuvantes? A batalha ainda está sendo travada. A própria implantação da lei das cotas, um avanço significativo conquistado pelo PT, proposta de Marta Suplicy, ainda é olhada em um misto de descrédito e perplexidade, pelos nossos partidos políticos. Por alguns como um "presente de grego". Por outros, como um osso duro de roer; ou como uma aventura, talvez prazerosa, em direção a um mundo novo e desconhecido.

E as mulheres foram chegando, de início tímidas, começaram a ocupar espaços de decisão política, mandatos de vereadoras, deputadas, prefeitas, senadoras e recentemente até governadoras. Foram mostrando, com ações afirmativas, que mudaram muito a realidade da mulher brasileira deixando claro que a esfera da participação política havia fundamentalmente deixado de ser prerrogativa masculina.

E o que querem as mulheres?

Em uma grande pesquisa coordenada pela Fundação Perseu Abramo, "A Mulher Brasileira nos espaços público e privado", quando perguntadas sobre a primeira coisa que fariam para que a vida de todas as mulheres melhorasse, aparecem como principais respostas as seguintes: o fim das discriminações no mercado de trabalho (47%); a igualdade de direitos (10%); combate à violência contra as mulheres (9%); maior liberdade (5%); Menos machismo, mais reconhecimento por parte dos homens (5%).

Tais respostas constituem uma parte muito específica de preocupações das mulheres. Questões que a visão masculina, em sua grande maioria, ainda predominante na sociedade tem dificuldade de enxergar com clareza.

Felizmente, não são todos os homens que são cegos e insensíveis aos problemas e conquistas das mulheres. Permito-me usar uma declaração de Lula feita no Dia Internacional da Mulher deste ano: "Sou um brasileiro, nordestino, ex-machista. Na verdade, não cresci nem me formei defendendo os direitos da mulher. Mas aprendi na vida e no PT, fundamentalmente com Marisa, de quem sou companheiro há 28 anos, a valorizar a luta das mulheres por direitos iguais aos dos homens em uma sociedade democrática e justa para todos." Sonhar, mas um sonho possível…

Mulheres sem medo de ser feliz.

O que dizer às mulheres de minha terra?

Mulheres de Araraquara. Quantas somos? Quase 100.000. Mais da metade da população de nossa Morada do Sol, da cidadania, queremos cada vez mais transforma-la na Morada da igualdade, do respeito entre homens e mulheres.

Vencemos muitos preconceitos, mas ainda temos muitas lutas pela frente. Mais e mais, queremos nossos governantes comprometidos com políticas públicas que reforcem nossos direitos, que nos permitam deixar nossos filhos na escola, que nos dêem tranqüilidade para nos defender das violências que atravessam nossas vidas.

Não queremos mais abrir os jornais e ler em manchetes que ameaças contra as mulheres cresceram 20% neste ano em nossa cidade. Nestas lutas, não queremos estar sozinhos. Queremos caminhar lado a lado com nossos companheiros, construindo sonhos de um novo país, sonhos que nos permitam dizer a nossos filhos que o Brasil tem jeito e que eles, como nós, podemos e devemos ser felizes por sermos brasileiros.

Temos, neste momento especialíssimo de nossa história, muitas razões para comemorar. Passados 70 anos de nossa conquista histórica do direito de votarmos e de sermos votadas, temos hoje, na Câmara dos Deputados, um aumento de 45% da bancada feminina. Mulheres, em sua grande maioria, comprometidas com projetos políticos sustentados pela justiça social, pela vontade de semear a inclusão, de lutar pela cidadania, para que se ampliem cada vez mais, nossos direitos sociais, políticos e econômicos.

Temos confiança e esperança na mudança do Brasil e de nosso estado. Temos convicção de que nossa sensibilidade, qualidade feminina que ninguém pode nos roubar vai nos levar a reafirmar que vale a pena apostar na mudança, na renovação e na transformação. Não dá prá parar o rio quando ele corre para o mar. Não dá prá calar nosso grito de esperança e de responder à onda de medo que vem sendo semeada, com a afirmação de nossa força, de nossa coragem, de nossa fé, de nossa vontade de ser feliz, sem medos. Principalmente a de SER FELIZ. Boa semana a todos e a todas. Bom voto! Desfrutemos todas desta conquista de 70 anos! Até a próxima!

(*) É vereadora pelo PT e pesquisadora da Uniara.

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