Vera Botta (*)
185 anos! Com vontade renovada de ser feliz!
Nossa querida cidadã de 185 anos vem dizendo há muito que para ela o que conta é o tempo de vivência, da história/memória preservada, de redescobrir caminhos e sonhos, muitas vezes ousados. Não há dúvida de que ela conserva vivas as marcas de sua vida. Não gosta de maquiagens que possam disfarçar seus vincos de preocupação com seus filhos. Nem se furta a um iluminado sorriso face às mudanças que tem presenciado em seu chão. Não como expectadora passiva, mas como personagem central. Afinal, é de sua história que falamos…
Pensativa e radiosa, nossa Araraquara nos convida a fazer um balanço. Não gosta de presentes rebuscados, nem de muitas inaugurações em seu dia.
Prefere falar do seu cotidiano, matizado com novas cores…Insiste em reivindicar cuidado e atenção com seus jovens desempregados que se multiplicam aqui e acolá. Fala entusiasmada de pactos de solidariedade e confessa baixinho que, mais do que nunca, não sente medo de ser feliz. E de escancarar sua alegria, de corpo e alma, no vislumbre da esperança de melhores dias.
Deixando a cada um dos seus filhos, como lição, a importância de sairmos do estreito quintal de nós mesmos e descobrirmos caminhos conjuntos de construção da felicidade.
O Superávit da cultura
Nossa mocinha leu e releu jornais que retrataram polêmicas e divisores de águas no plano cultural.
Entristeceu-se com a possibilidade de ver reeditado o fardo pesado de um paralelismo cultural castrador de iniciativas de democratização da cultura.
Definitivamente, reprises de situações raivosas e melancólicas não estão no seu programa de aniversário.
Prefere falar do ruído alegre das muitas e muitas crianças que freqüentam suas oficinas culturais espalhadas em toda a cidade. Com direito à capoeira, sapateado, hip hop, violão, flauta doce…curso de técnico-ator… Contando estórias… Imaginem! Quase 4000 crianças vêm passando pelas oficinas… E o Cine Paratodos foi preservado e atendido um desejo meu, das mais profundas entranhas…
“Como a democratização da cultura me deixa feliz”, desabafa nossa querida Araraquara. “E o Choro das Águas? E as Ruas de Lazer? E a música circulante?
Quanta surpresa boa tenho para festejar!!!”
A Escola Municipal de Dança? Bem, continua nossa aniversariante…”Se há diferenças e divergências diante de um novo projeto, ousado, mas sem dúvida, um investimento em arte-formação, vamos, com serenidade, discuti-lo sem transformar as diferenças em caso de vida ou morte! Sem dar a esta polêmica espaço para falsos heróis – ou macunaímas? – que tentaram, em distintos tempos, anular nossa tradição guerreira e a força de nossa veia artística”…
Liberdade, liberdade, abre as asas sobre nós!
Vamos discutir a implantação do Conselho Municipal da Cultura! Sem polêmicas estéreis que possam não efetivá-lo…Valorizando fóruns municipais, a troca de experiências, a construção de alternativas para a política cultural… Pensando bem, uma escola municipal de dança poderá facilitar a extensão e ampliação, com qualidade do mercado e do público das artes. Aceito o princípio de que todo investimento em arte-educação não é privilégio de elites, mas pode ser uma semente de muitos bons frutos.
E nossa Morada do Sol voltou a ter os olhos brilhantes, a dar passagem a sua luz própria, pensando na roda-viva ampliada da cidadania cultural…
Nem tudo são flores
Há muitas pedras no caminho. Há nuvens de fuligem negra que em nada se parecem às névoas de borboletas…Invadem nossas casas, agridem nossos pulmões. E nossa jovem de 185 anos não engole, de jeito nenhum a história empoeirada das queimadas…
Há falta de vagas nas creches, em nossos tão bem sucedidos CER’s e criança fora da escola é algo inadmissível para nossa aniversariante. Não conseguimos ainda acertar os ponteiros com a poda de árvores e a limpeza da cidade… E a violência parece não ter recuos…Mas, a Guarda Municipal nos acena com maior segurança!
Sim! Sim! Com sinais positivos da cabeça, nossa Araraquara parecia remoer idéias e buscar afastar maus pensamentos…Pediu-nos licença para uma pausa. Antes de sair, entre desabafos e seu eterno otimismo, voltou a fazer um apelo… “Que o Plano de Cargos, Salários e Carreira não fique engavetado, pois, afinal, a categoria dos servidores, responsável pela qualidade dos serviços aqui prestados, merece respeito”. Com diálogo e vontade política, tudo pode caminhar.
E nós temos o compromisso de escovar a alma com fricções de esperança e lutar todos por uma cidade melhor e um país menos desigual. A preservação da esperança, a vontade de conseguir, com garra e coragem, um estado de felicidade coletiva é a grande missão que Araraquara nos deixa na marca de seus 185 anos.
Boa Semana a todos! É bom voltar ao aconchego da minha cidade e de meus leitores! A todos nós, araraquarenses de nascimento e de coração, Parabéns! Um brinde à vida!
(*) É coordenadora do Mestrada da Uniara e colaboradora do “JA”.