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Vera Botta (*)

Um toque de alma…homenagem ao mestre querido

Os ares de setembro nos trazem esperança…talvez a crise atual, de natureza política e ética seja a dolorosa, mas necessária solução…para a realização de reformas, de novas práticas, da semeadura de uma nova utopia… Neste clima de reencontro com valores e com a liberdade, Ser Sartre edição 2005 começou no dia 12. No diálogo coloquial entre os professores Fausto Castilho e o professor José Aluysio Reis de Andrade a respeito da vinda e do significado de Sartre à Araraquara em setembro de 1960, no encontro de gerações distintas de alunos e de professores havia um toque mágico no ar…talvez a condição de pertencimento não fosse uma utopia…mas nos mantivesse ligados, independentemente do tempo…das diferenças de idade e de ideologias…

Lembranças, diamantes lapidados pelo espírito

Lembranças de um tempo fortemente vivido afloraram e me permito entregar-me a elas, com emoção. Não se trata de uma história objetivada, mas de lembranças de uma experiência vivida. Ao ser convidada pelo prof. Luiz Amaral, um dos organizadores da Semana Ser Sartre 45 anos depois, para falar a Aluysio em nome da Faculdade de Filosofia de Araraquara que hoje o homenageia, senti-me feliz e emocionada, duplamente gratificada. A homenagem é justíssima e merecida. Não veio de um decreto. Foi uma escolha feita por um código próprio, o do coração e pelo reconhecimento do quanto você nos significa. Você deu muito à Unesp, a nossa faculdade. Muito de seu caráter, de seu jeito simples e inteiro de ensinar, de dirigir, sem autoritarismo, mas com respeito, de seu compromisso com a verdade, com a honestidade, com a vontade de levar a Unesp e a FCL a estar na linha de frente…

Ter sido sua aluna me orgulha muito

Você, Aluysio é para a FCL, uma referência de integridade, de escolhas pautadas pela ética, por valores que têm norteado sua vida e que irradiou aos que tiveram a oportunidade feliz de conhecê-lo mais de perto. Sendo a porta-voz da homenagem a você, Aluysio, tenho a oportunidade de falar a alguém que faz parte da minha história objetiva e de minha história singular há 41 anos. E ao lhe falar com o coração, com a alma, é como se estivesse retomando parte de minha vida, marcas presentes efetiva e afetivamente guardadas como parte de mim, em muitas das quais você esteve e está, não como expectador distante, mas como presença viva. Conheci Aluysio em 1964, momento tão difícil para nosso país e tão significativo em nossas escolhas de vida, em nossa decisão de não fazer do conhecimento um exercício estéril, descolado da realidade, encerrado no mundo acadêmico. E nessa decisão, Aluysio, você nos ajudou muito.

Lições de vida

Aluysio nos introduziu no centro dos debates culturais que problematizavam questões fundamentais acerca do pensamento marxista. Pelas mãos de Aluysio pudemos conhecer um marxismo menos preso aos determinantes estruturais e isso teve influência fortíssima em minhas, em nossas trajetórias. Nas aulas de Aluysio, nas quais muitas vezes o cigarro e o giz eram trocados e os cabelos do mineiro embranqueciam na marra, discutíamos e nos apaixonávamos pelo desafio de trabalhar com a construção da unidade da teoria e da práxis. Está ai a parcela de responsabilidade do Aluysio na minha busca de encontrar, na política, elos de construção com o conhecimento teórico. Com Aluysio, igualmente aprendi a ver com bons olhos e como um exercício de continuada aprendizagem a perspectiva de uma auto-crítica. Entretanto, as lições do nosso querido mineiro foram muito mais profundas. Passaram as nossas vidas, aos nossos valores, aos nossos princípios, ao nosso ser. Aluysio foi, no sombrio ano de 1964, um ponto de luz.

Uma questão de reconhecimento

Dedicou-se de corpo e alma à construção da universidade, da editora da Unesp, à preservação de sua história. Nunca cedeu aos apelos do poder, nem precisou se render à política do “faz de conta” para ser aceito no mundo acadêmico. Fez escolhas de vida e ficou no seu mundo. Cumprindo um ciclo, voltou à nossa Morada, onde fincou raízes. Aqui, Aluysio deixou a porta sempre aberta e o convite foi sempre sincero aos amigos. Sempre encontrou tempo para sonhar e realizar muitas festas de Babette. O sentimento de compartilhar. A comunidade unespiana tem em você, Aluysio, a referência viva de pertencimento. E isso não se apaga. Guarda-se no peito, como o afeto que tenho por você, talvez o irmão que nunca tive e sempre me acolheu. Todos os que estiveram no Sesc nesta noite especialíssima sabem, com certeza, que professores como Aluysio, Fausto Castilho significam muito para nossa Morada do Sol. São situações como estas que nos fazem sentir que não se pode deixar de lado apelos da alma, sentimentos e valores, estando ou não vivendo crises…

A Coluna fica por aqui. Domingo é dia de valorizar a democracia e resgatar a ética. Tem eleição no PT. Independentemente dos resultados, o que vale é investir em mudanças de rotas…com esperanças…sem medos… Boa semana a todos. Até a próxima!!!

(*) É pesquisadora da Uniara e colaboradora do JA.

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