Antonio Delfim Netto
Sem subestimar a dimensão do problema, creio que podemos ser otimistas quanto à evolução da economia no governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Em primeiro lugar, em razão da escolha correta das prioridades, o que demonstra que está plenamente consciente das limitações a que sua governança estará submetida neste primeiro ano de mandato. Ao anunciar que 2003 será um ano de aperto fiscal e que privilegiará o corte de despesas para não ter que elevar ainda mais a carga tributária, ele mandou um belo recado aos doutores em economia que passaram os últimos oito anos ignorando uma questão elementar: no combate à inflação, o corte das despesas públicas é a alternativa correta à elevação das taxas de juro. A primeira, reduz a demanda do governo, que é o caminho adequado e de menor custo social, enquanto que a elevação das taxas de juro corta a demanda do setor privado, produzindo desemprego, aumentando a pobreza e aprofundando o abismo social.
Essa postura do novo Presidente é que nos dá a esperança de que finalmente poderemos colocar um freio na derrama fiscal imposta à sociedade nos dois mandatos de Fernando Henrique Cardoso, quando se cometeu a inédita proeza de elevar a carga tributária de 27% para 35% do PIB. A União se apossou sozinha de uma arrecadação extraordinária de impostos de péssima qualidade, sem compartilhá-la com os com estados e municípios, permitindo-se, ao mesmo tempo, um crescimento de 6% anuais nas despesas do governo federal! Com toda a ciência de que se julgam portadores, os PhDs tucanos não enxergaram o que logo intuiu o futuro Presidente, que freqüentou o “chão de fábrica” e aprendeu que parar a produção e desempregar trabalhador é a opção menos inteligente para se produzir qualquer ajuste na economia, inclusive fiscal.
Um segundo fator a inspirar otimismo é a montagem do primeiro escalão do novo governo. O desenho que se conhece até agora é muito bom, com pessoas altamente qualificadas nos ministérios-chave: já me referi anteriormente às escolhas extremamente felizes de Antonio Palocci na Fazenda e Henrique Meirelles no Banco Central. São administradores competentes e que têm mostrado grande realismo na abordagem dos problemas . Roberto Rodrigues, na Agricultura e Luiz Fernando Furlan, no Desenvolvimento, têm tradição como homens de produção, são dois batalhadores de sucesso e líderes de reconhecida competência. Estou convencido que vão conduzir muito bem os negócios da produção agropecuária e a expansão das exportações brasileiras. Uma bela surpresa também foi a escolha da senadora Marina Silva para o Meio Ambiente: é uma inteligência privilegiada, excelente debatedora, articulada e com presença de espírito e, mais importante, com um conhecimento invejável dos problemas amazônicos, onde a presença do seu ministério é de fundamental importância .
Em conclusão, a orquestra é bastante boa. Se o Presidente tocar a batuta na direção correta, vamos ter uma bela sinfonia. Aproveito para desejar a todos os leitores um bom governo e um ótimo 2003.
(*) E-mail: depdelfimnetto@camara.gov.br