Clara Peckmman Mendonça (*)
Não cogitamos tachar a Diretoria do Gaspa de traiçoeira. Referimo-nos ao Sr. Orisvaldo Miranda que nos desrespeitou.
Ele foi contactado por nós, no pátio da Facira em 22 de agosto de 2001. Na Secretaria da Saúde recebemos o Sr. Miranda quando foi marcado contato com os componentes do PAISA para um trabalho de prevenção da AIDS. Esse Sr. chegou com quase uma hora de atraso e o grupo já havia partido, porém, colocamo-lo em contato com um dos membros que lá permaneceu. Posteriormente, o Sr. Miranda voltou à Secretaria para solicitar verba para panfletagem no Dia Mundial da AIDS. Foi informado sobre a impossibilidade de acatar o seu pedido.
Para surpresa nossa, ele retorna (convidado por um conselheiro) e, sem solicitar licença, toma a palavra e com ar arrogante fala sobre o Gaspa e o que havia conseguido no Gabinete do Prefeito.
Ao Sr. Miranda queremos dizer que jamais reclamamos da situação financeira do Gaspa, conduzido muito bem pela sua Tesoureira, pois tínhamos em banco mais ou menos 20 mil reais (conseguidos com muita luta e guardados para alguma eventualidade, especialmente para suprir medicamentos aos pacientes).
O setor de sócios e contribuintes avulsos continuava indo muito bem, assim como, os trabalhos manuais feitos por voluntários e atendidos. Com bazar permanente rendiam o suficiente para conduzir a Entidade. Nossas campanhas de leite em pó enchiam nossas prateleiras e tínhamos gêneros alimentícios com fartura, distribuídos com freqüência. As visitas domiciliares eram constantes, assim como as hospitalares. As famílias recebiam as orientações necessárias.
O que nos afligia era a impossibilidade de estar sempre presente. A vice-presidente havia se afastado e procurávamos alguém para substitui-la. Mais uma pessoa para enfrentar o excesso de responsabilidade.
Preocupava-me pelo Gaspa porque sempre estivemos à frente, nos momentos mais difíceis de sua formação. Não por vaidade ou orgulho porque se tivesse que sentir algum orgulho ou vaidade seria pela vida honesta, de respeito, digna com que sempre conduzimos.
O Sr. Miranda enganou-se de que naquela época temíamos que o Gaspa fosse fechar suas portas. Não havia razão, jamais foi abandonado, mesmo com prejuízo das horas de descanso, não só nosso, mas de todos que lá estavam.
Rapidamente o Sr. Miranda conseguiu envenenar ou foi envenenado pois, com raríssimas exceções, aqueles que já fizeram parte das Diretorias do Gaspa e os numerosos voluntários e mesmo atendidos continuaram nossos amigos e infelizmente, na sua grande maioria, afastaram-se da ONG.
Nunca demos nenhuma liberdade ao Sr. Miranda para compor nova Diretoria, pois para isso sempre poderíamos contar com outras pessoas que estavam lá.
Será que o Sr. Miranda lembra-se da reunião onde se apresentou como candidato à presidência e, em bom tom, com poucas palavras pôs-nos para fora?
No dia da eleição, chegou com atraso e trouxe papel com vários nomes e, logicamente, surpreendeu-nos a escolha do seu diretor-secretário. Essa pessoa trabalhava na Secretaria de Saúde, foi afastado do cargo (ele sabia que não era a nosso pedido, mas, por ordem superior e nós até que o defendemos como profissional), tornou-se graciosamente injusto e indelicado, atacando nossos atos na Secretaria. Levou problemas sérios para a Câmara Municipal. Então, preocupávamos sim com o Gaspa, colocando-o nas mãos de pessoas que forneciam notícias falsas ou erradas para um vereador. Tivemos que ir a Câmara (a convite da Vereadora Vera Botta), em audiência pública, afirmar que jamais deixamos de cumprir nossos deveres, principalmente em relação a AIDS. Ele havia fornecido dados irreais de que nós havíamos perdido a verba do POA destinado a AIDS, por negligência.
Provamos que o Ministério estava iniciando a distribuição e que naquele dia estava em Araraquara uma equipe do Ministério reunido com representante de toda a Regional dando orientação de como utilizar a verba. O Vereador Anuar Filho, de público, aceitou nossa contestação e pediu desculpas.
Quanto às contas do Gaspa é um problema da Diretoria e não nos interessa saber o quanto existe e se o patrimônio está intacto. Mas quanto ao dinheiro do projeto de Reciclagem, por que o Sr. Miranda não perguntou à Sra. Tesoureira? Várias vezes procurei saber se havia recebido alguma notícia do Ministério e a resposta foi negativa. Além da Tesoureira existiam mais duas representantes legais do projeto.
O Sr. Miranda precisa ser informado de que seria ilógico não se ter copia de um projeto de nossa autoria, com colaboradores. Tínhamos igualmente uma cópia de aceitação do projeto pela UNESCO com a resalva de não poder comprar veículo para o projeto. Não estava engavetado na Secretaria de Saúde e sim foi levado para fornecer a ele um xérox, embora tivéssemos a certeza de ter mais uma cópia no Gaspa.
Apesar de ter “um coração generoso e desprendido” Sr. Miranda, não significa que tenha a obrigação de ceder algo de minha família graciosamente, pois gratuito sempre foi o nosso trabalho junto à Comunidade. O Gaspa sempre alugou telefone, talvez o Sr. Miranda não se recorde dos tempos difíceis para se conseguir uma linha telefônica. Certa feita ficamos sem telefone e como nossa família tinha uma linha comercial alugada, conseguimos encaminhá-lo ao Gaspa para resolver o problema. Agora está fácil contratar linha telefônica, naquela época não.
O importante é que temos consciência tranqüila, trabalhamos para a Comunidade de Araraquara mais de 50 anos e especificamente para a AIDS mais de 16 anos. Honramos a confiança a nós depositada, assim como sempre repartimos as homenagens recebidas com aqueles que nos ajudaram, nunca subimos em palanques para dizer “eu fiz isso ou aquilo”.
É bom que o Sr. Miranda reconheça que a vaidade e o orgulho destróem o homem. É necessário ser um pouco mais humilde e analisar bem os fatos quando deixamos a essência do Evangelho se dissipar e nos abrilhantamos com palavras soltas ao vento.
Afinal, qual a Diretoria do Gaspa? Vice-presidente e a Tesoureira solicitaram demissão há tempos. Em reunião de outubro de 2002 o restante da Diretoria foi demissionária. A pedido, permaneceriam algum tempo para regularizar situações. Atualmente soube que o 2º Tesoureiro também se demitiu e que apenas duas voluntárias dirigem o Gaspa. O Sr. Miranda apesar de ter acertado tudo, continua indo, de vez em quando.
Infelizmente na vida temos que enfrentar situações desagradáveis. Pedimos desculpa pela mazela exposta, mas, essa é uma realidade. É difícil poder sentir as pessoas e por isso confessamos nosso erro em ter pedido ajuda a um suposto “amigo”.
Acredite, nossa preocupação maior não está na disputa pelo poder mas, no sentimento de que o assunto envolve. Não “picuinhas”, mas sim gente, vidas humanas que merecem nossa atenção. Não nos apegamos a credenciais, mas aos serviços que já trouxeram e que poderão ainda trazer à nossa Comunidade mais conhecimentos, orientações em busca de uma vida mais tranqüila.
(*) Foi Professora Doutora da Unesp e fundadora do Gaspa.