Teste o seu Português (739)

0
145
Algirdas Julius Greimas

Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman (*)

Terceira idade marca presença no Jornalismo Literário. (continuação).

As grandes reportagens do cotidiano estão entre as muitas técnicas de pesquisa das narrativas do vivido, incluídas no ramo da sociologia compreensiva, no dizer de pesquisadores das tecnologias do imaginário. Morin fala em “industrialização do espírito”, mas não reduz o imaginário à manipulação. O real, mais do que nunca, transformou-se em imaginário. Ivan Marsiglia, cronista do social, narrador do vivido, impactado pela história de vida de Beatriz, põe-se no lugar do outro para melhor senti-lo e descrevê-lo. Nasce o embate: o jornalista fere no peito o escritor. O escritor repele o jornalista, por esmagá-lo, tal a densidade da teia em que se enreda. Debate-se: estranha, entranha, mergulha totalmente no outro, finalmente retorna a si e a reportagem aparece. Nas suas palavras, em contato via telefone e em seguida via e-mail , tal qual no romance Se um viajante numa noite de inverno (1979), emerge o jornalista atormentado de Ítalo Calvino:
Através da luneta, o produtivo o vê pôr algumas linhas no papel, depois riscar tudo e reescrevê-las, para em seguida rasgar a folha e começar tudo de novo. Com o atormentado, as palavras parecem se deter, vacilar, avançar com cautela e rigor; assemelham-se a fragmentos que traçam perfis irretocáveis, evocam cenários perfeitos e acontecimentos capazes de conter uma multiplicidade sempre crescente de significados (1996 apud CASTRO; GALENO, 2002, p. 72).

Mesmo quando se diz que a Semiótica procura ‘compreender como se compreende, lendo ou escrevendo’, mantém-se o seu exercício, o mais das vezes, em um enfoque puramente cognitivo.
[…] Parece-nos que as recentes evoluções da disciplina modificaram um pouco essa apreciação. Bertrand (2003, p. 399 – 400).

Uma viagem: do inteligível ao sensível
E prossegue Bertrand:
Hoje procuramos menos analisar e racionalizar os diferentes níveis de articulação da significação textual, considerados alguns dos seus modelos como aquisições, do que ligar a efetuação do sentido com a enunciação viva, numa interação estreita entre o leitor e o texto; procuramos, em suma, apreender a palavra em ato (2003, p. 400).

Ao leitor cabe ativar, pela leitura, a gama de significados que jazem sob os signos e aí então construir, interpretar, avaliar, julgar, compartir ou rejeitar significações. Leitor: centro do discurso, não apenas destinatário ou receptor.
Da Semiótica Estrutural, ou do inteligível, à Semiótica do sensível. O próprio Greimas pontua ser “a Semiótica um ‘sistema de signos’ desde que ultrapasse esses signos”. (2008 apud Diniz, p. 08).

O “velho” Greimas não negou aquele da “maturidade”. Por que o teria feito? Os dois – quem duvidaria disso? – eram, e ficaram, o mesmo. Nada estranho nisso, já que, semioticamente, qualquer “identidade” é necessariamente uma forma de co-existência. Landowski (1995 p. 262).
Desvendando os segredos de Contaminada pela vida, buscando dar respostas às provocações e convocações do sujeito texto aos meus sentidos como leitora, percebo o percurso do inteligível ao sensível: o corpo do texto capturando o do sujeito. No corpo do texto as marcas das diversas ordens sensoriais aí inscritas, para, se articuladas, conduzirem às suas significações. Vale dizer: […] a rede relacional que estrutura o texto é dotada de propriedades tanto sensíveis quanto inteligíveis. Oliveira (1998, p. 101).

O caminho se faz caminhando
O pesquisador está no pesquisado; que se torna pesquisador para melhor caminhar. O caminhante faz, chamando à cena Heidegger, o caminho do pensamento. Caminho feito por um caminhante que, nos rastros de Rimbaud, precisa saber: “o eu é um outro”.
A frase do mestre a Landowski: “Élevez le regard”, ecoando como um incessante desafio, fá-lo voltar a atenção às condições de emergência da significação na dinâmica dos discursos e das práticas sociais “reais”, práticas sociais vividas. No ensaio, Aquém ou além das estratégias a presença contagiosa, Landowski aponta como a semiótica estrutural evoluiu dos discursos enunciados a uma semiótica das situações, aportando na semiótica do sensível: […] o mundo se apresenta como uma totalidade que faz sentido: é de nosso próprio estar-no-mundo que nasce imediatamente a possibilidade de que exista sentido para nós, no plano vivido (2005, p. 17).
Prossegue ainda, o discípulo de Greimas, aludindo a modelos propostos em termos de tensividade, a partir de Semiótica das Paixões de Greimas e Fontanille, traduzido para o português em 1993.
Eis, doravante, o texto aberto ao “mundo natural” e a significação articulada em duas direções: uma manifestada e realizada, outra manifestante e realizante. Vamos nos ater à segunda direção, em que a percepção, as sensações, o sensível, a intencionalidade, a cognição, o contexto social são elementos relevantes. Infere-se daí, com Fontanille, a necessidade de reformulação do slogan greimasiano: “Fora do texto não há salvação”. Passa-se a pensar e refletir em:
Fora das Semióticas – objeto não há salvação (apud Diniz, 2008, p. 17).
E prossegue Fontanille:
Se é verdade, como diz Hjelmslev, que os dados do linguista apresentam-se como sendo os do ‘texto’, isso não é mais uma verdade para o semioticista, que trabalha também com ‘objetos’, com ‘práticas’ ou com ‘formas de vida’ que estruturam áreas inteiras da cultura.
Segundo Fontanille (1993, p. 12), uma grande parte da semiótica narrativa foi construída em torno de uma única forma de vida, procedente de um único tipo de intencionalidade: a da busca, organizada e convocável em discursos graças ao sintagma – tipo que é o esquema narrativo canônico. Com a teoria das modalidades e das paixões outros caminhos surgem, ou outras maneiras de ‘dar sentido à vida’ emergem e a semiótica tem de dar conta dessas variedades, a partir de culturas individuais e coletivas, para começar a compreender como uma teoria geral da significação poderia incluir essa imensa variedade de experienciar e sentir o mundo que, ao mesmo tempo, se vislumbra e se teme. apud Nascimento (Revista O Cruzeiro e formas de vida da mulher da década de 40).

Teste o seu Português

01 – Veja se você descobre qual a frase menos adequada.
Aponte-a:
a ( ) Esta é a cidade em que aconteceu o jogo.
b ( ) Esta é a cidade que aconteceu o jogo.
c ( ) Esta é a cidade onde aconteceu o jogo.

02 – Vou presenteá-lo com uma gata __________.
a ( ) ciameza;
b ( ) siameza;
c ( ) siamesa;
d ( ) ciamesa.

03 – Foi _________ que aquele cidadão morreu de ___________.
a ( ) detequitado – asfiquicia;
b ( ) detetado – asfichia;
c ( ) detectado – asfixia.

04 – Aquele indivíduo foi _________. Disse não ter presenciado a ___________.
a ( ) omisso – colisão;
b ( ) omiço – colizão.

05 – Neymar, _____________ jogador do Barcelona, adora ________ seus _________.
a ( ) essepcional – dibrar – adeversarios;
b ( ) excepcional – driblar – adversários;
c ( ) exepcional – dribrar – adiversarios.

06 – Aquele camarada é muito _________. Tomou um __________, e fugiu de medo.
a ( ) froxo – isbarrão;
b ( ) froucho – hesbarrão;
c ( ) frouxo – esbarrão.

(*) Pesquisadora do GEPEFA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Famílias – UNESP/Franca.

RESPOSTAS

Resp 1.: A frase menos adequada é a – b: Esta é a cidade que aconteceu o jogo. Por quê?
Se o jogo aconteceu, aconteceu em algum lugar (cidade em que; cidade onde).
Resp 2.: c – Vou presenteá-lo com uma gata siamesa.
Siamês (= raça de gatos facilmente domesticável).
Resp 3.: c – Foi detectado que aquele cidadão morreu de asfixia.
Detectar (= descobrir). Borba 2002 (DUP registra: detectar, detetar)
Asfixia (= suspensão da respiração e da circulação do sangue).
Resp 4.: a – Aquele indivíduo foi omisso. Disse não ter presenciado a colisão.
Omisso (= descuidado, negligente).
Colisão (= ato de colidir, choque de dois veículos ou dois corpos).
Resp 5.: b – Neymar, excepcional jogador do Barcelona, adora driblar seus adversários.
Excepcional (= muito bom, extraordinário, excelente).
Driblar (= fintar, iludir, enganar, ludibriar).
Adversário (= concorrente, rival, antagonista).
Resp 6.: c – Aquele camarada é muito frouxo. Tomou um esbarrão, e fugiu de medo.
Frouxo (= medroso).
Esbarrão (= encontrão, tropeção).

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Tribuna do Norte – Natal (RN), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra – Tangara da Serra (MT) – Gazeta Penhense – Penha/SP – Gazeta do Ipiranga/SP.

 

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.