Teste o seu Português (735)

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Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman (*)

Críticas de Chamie causam mal-estar em intelectuais.

Privado da força do criador, vinga-se dele arvorando-se em árbitro, respaldando-se no código da instituição literária para proferir condenações e absolvições. Não sendo nem mesmo literatura, a crítica pretende ser a consciência da literatura, isto é, seu deus”. (PERRONE MOISÉS, 1973, p. 15).

Para Perrone-Moisés, o crítico sempre foi um ser incompleto, mutilado, dependente, sempre “precisou do apoio do escritor-criador para existir” (1973, p. 15). Segundo ela, Sainte-Beuve julgava o crítico o impotente; Georges Poulet, o cego; Roland Barthes, o afásico do eu, o escritor em “sursis” (1973, p. 15).
O crítico Castello perscruta o universo criador do poeta e crítico Chamie e dele desvenda ao leitor motivos suficientes para que, reaberto o debate poético, reabram-se também juízos de valor exteriorizados e, por consequência, muitos silêncios e poucas manifestações às considerações publicadas no “Estado”, por parte de críticos e poetas.
As palavras são corpos vivos. Não vítimas passivas dos contextos. Desse estado de vítimas que as leva ao equívoco e à diluição, elas se defendem sozinhas. E o seu campo de defesa é, exatamente, o poema. Não pretendemos dizer que a palavra não deva ser multívoca; o que afirmamos é que sua multivocidade deve ser realizada no seu espaço próprio de autonomia. Esse espaço próprio é o poema — campo de defesa (TELES, 1976, p. 353).
O trecho do manifesto que Chamie põe como posfácio de seu livro de poemas Lavra-lavra, de 1962, embora o texto seja datado de outubro de 1961, segundo Teles, evoca-nos uma grande modernidade, se observarmos a manifestação de Chamie frente à perspicácia de Castello: “[…] continuo fiel à coragem de desconfiar de todo e qualquer consenso” (2001) e ainda: “Os ensaístas e intelectuais de hoje não escrevem crítica. O que eles fazem é a celebração seletiva de um nicho de escolhidos” (2001). Continua polêmico, mais astuto do que nunca, maduro em suas articulações linguísticas, recriando a linguagem poética e querendo, como outrora, fazer o debate ficar na história e arder em brasas, não se importando a quem agradar e/ou machucar. Paradoxal é que aberto o diálogo, só ou quase que só o silêncio respondeu.
Ao tomar consciência das cifras e códigos que as palavras carregam sob a pretensa neutralidade, o Jornalismo encontra-se com a Literatura. São verdadeiros silêncios eloquentes.
O que escrever quer calar? O conteúdo? Se escrever é antes de tudo dar forma, escrever é penetrar. Melhor cala quem melhor escreve. A Literatura é uma forma de dizer o mesmo com outras palavras. O Jornalismo é um conteúdo dito de forma que se perca o mínimo.
O Jornalismo e a Literatura, atividades que se aproximam, porque sobrevivem do mesmo meio, a palavra e do mesmo fim, a conquista de leitores. Tanto melhor a Literatura, quanto nela mais couber o que de mais importante há no Jornalismo: a sedução.
Castello aponta mal-estar e silêncio às considerações tecidas por Mário Chamie. Cada qual resguardou-se a seu modo. Quem cala consente? Quem cala se omite? Quem cala foge ao debate e aí permite que o não dito venha à tona? O jornalista-escritor elenca omissões e/ou posições dos intelectuais. E seu texto revela a força do Jornalismo, carregando a Literatura para dentro do texto, permitindo a magia da palavra compartida. “Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência, a vossa!”, já escreveu Cecília Meireles (1985, p. 442).
Eis aí a grandeza do Jornalismo: fazer emergir a resistência frente à passividade e à desmemorização do homem. Eis aí a beleza da Literatura: dar visibilidade à resistência frente à trivialização do mundo. Dois saberes: uma dialogia.
Assim, dessa dialogia, construídos os discursos, histórico, ficcional ou da comunicação, emergirão os universos de um e de outro, possibilitando a construção do sentido, já que a comunicação só se efetiva no encontro do produtor e do receptor, do enunciador e do enunciatário.
Na leitura crítica da mídia, um feixe de sentidos decodificados e apreendidos por intelectuais, revelando uma construção de linguagem ideológica, nada inocente, como mostra Santaella:
“Toda linguagem é ideológica porque, ao refletir a realidade, ela necessariamente a retrata. […] As linguagens que dão corpo às ideologias, na dimensão de cada cultura historicamente determinada, trazem inevitavelmente as marcas da posição política dos agentes sociais. […] Não há linguagem possível, consequentemente, que não seja um feixe inicial de tensões políticas”. (1996, p. 330-331).
Sabemos que o jornalismo e a comunicação formam um campo específico. Sabemos também, que ao sujeito comunicador, no discurso da comunicação, compete não a reprodução da análise da história, mas a elaboração dessa. E Castello demonstra isso muito bem. Chamemos o testemunho de Baccega:
“Tal qual o discurso literário, o da comunicação será a confluência de todos os discursos sociais. Para tanto, o sujeito comunicador há que saber ler esses discursos sociais, sobretudo os da história e da literatura, fontes nas quais ele deve banhar-se permanentemente. A história, que vai possibilitar-lhe condições para o rearranjo do pensamento forçosamente presente no seu texto e na sua formação, através da palavra, ‘prática social solidificada’ a literatura, que lhe dará condições de melhor aproximar-se das emoções, que fervilham na existência humana e o conduzirá no caminho da descoberta das possibilidades históricas”. (BACCEGA, 1998, p. 63, grifo nosso).

Teste o seu Português

01 – Aos domingos, o Carlos passa a manhã toda ___________ na cozinha.
a ( ) intertido;
b ( ) entretido;
c ( ) intretido;
d ( ) entertido.

02 – Pelé __________ grande influência sobre os _______________ por futebol.
a ( ) ezerce – aficcionados;
b ( ) eserse – aficxionados;
c ( ) exerce – aficionados;
d ( ) eserce – afixionados.

03 – Não deixe de depositar seu _________, sempre que for à igreja.
a ( ) hóbulo;
b ( ) hóbolo;
c ( ) óbulo;
d ( ) óbolo.

04 – Você tem alguma _________ quanto ao horário de verão?
a ( ) obgeção;
b ( ) objeção;
c ( ) obgessão;
d ( ) objessão;
e ( ) objesão.

05 – Então, esta é a ______________ questão?
a ( ) milesima;
b ( ) milezima;
c ( ) milésima;
d ( ) milézima.

(*) Pesquisadora do GEPEFA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Famílias – UNESP/Franca.

RESPOSTAS

Resp 1.: b – Aos domingos, o Carlos passa a manhã toda entretido na cozinha.
Entretido (= distraído, absorto).
Resp 2.: c – Pelé exerce grande influência sobre os aficionados por futebol.
Exerce (= desempenha).
Aficionado (= afeiçoado, entusiasta).
Resp 3.: d – Não deixe de depositar seu óbolo, sempre que for à igreja.
Óbolo (= donativo, esmola).
Resp 4.: b – Você tem alguma objeção quanto ao horário de verão?
Objeção (= restrição).
Resp 5.: c – Então, esta é a milésima questão?

OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra.

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