Prof.ª Dr.ª Terezinha de Jesus Bellote Chaman (*)
Não há saberes fechados sobre uma obra…
“Diante do texto, no percurso inverso de quem o escreveu, é preciso perfurar as camadas superficiais para, encontrando a motivação semântica original, voltar à superfície e ali descobrir: ‘sob a pele das palavras há cifras e códigos’.”
Três homens, três poetas, três gerações, três fases de um movimento, modernista, manifestado especialmente pela arte, mas manchando com violência os costumes sociais e políticos. Prenunciador e preparador de um estado de espírito nacional, “impondo” a criação de um espírito novo, a reverificação e mesmo a remodelação da inteligência nacional.
O livro organizado por Flora Süssekind (2001), reunindo 104 documentos, trocados entre os três homens de criação, incluindo cartas, bilhetes, telegramas, poemas, cartões, revela, à luz do olhar de José Castello, o processo de autodescoberta do poeta de pedra, João Cabral.
Sob o exercício da palavra, em tom ora crítico, ora ensaístico, ora formal, carente de subjetividade, o material epistolar se revela a leitores específicos, em forma de livro; mas, pelas mãos do jornal, do escritor-jornalista, dilata-se e ganha uma multiplicidade de leitores, numa tiragem, hoje, de 570.000 exemplares. Que belíssima convivência: o jornalismo especializado em literatura no jornalismo periódico.
E como num círculo, a leitura da crítica jornalística nos remete à obra e esta nos revela:
Um Cabral, da geração de 45, com um racionalismo que o subtrai da arte expressiva dos românticos e o aproxima do construtivismo clássico. Um Bandeira, da geração de 22, cuja trajetória mostra a evolução poética brasileira do século XX, fazendo emergir sua refinada consciência técnica na manipulação do verso livre. Drummond, da geração de 30, revelando, numa emoção controlada, ora brincando, ora escarnecendo, uma linguagem que é misto da parataxe oswaldiana, do registro oral de um Mário de Andrade ou da acentuação musical de um Manuel Bandeira, sem deixar, é claro, de revelar certos registros de clássicos da língua.
Castello nos avisa à entrada do texto:
Cartas não têm compromissos com escolas, com princípios estéticos, com a tradição literária; o bom nas cartas, território da liberdade íntima, é que, em geral, elas nos trazem pequenos tesouros delicados, que não temos a consciência de procurar (2001, p. D4).
E todo o discurso do texto desenvolve-se sobre os pilares da correspondência entre a tríade que nos dá uma lição de poesia, numa linguagem de sujeito comunicador que sabe ser o signo dialético e dialógico. Isto é:
[…] todo signo, toda palavra resulta desse imenso diálogo social que se estabelece a cada momento na sociedade: entre os indivíduos, entre as classes, entre os segmentos das classes, entre as gerações, entre os domínios, entre a infra-estrutura e a superestrutura (BACCEGA, 1998, p. 88).
Teste o seu Português:
01 – Ignácio de Loyola Brandão, você sabia que, principalmente aqui, em Araraquara, você tem leitores _________?
a ( ) aciduos;
b ( ) asciduos;
c ( ) assíduos.
02 – Pergunto o que significa a sigla (RG). Puxe pelo seu ________!
a ( ) raciocínio;
b ( ) rassiosínio;
c ( ) rasciocinio;
d ( ) raciosinio.
03 – Atualmente, algumas panelas são fabricadas com _________.
a ( ) anti aderente;
b ( ) antiaderente;
c ( ) anti-aderente;
d ( ) anteaderente.
04 – Espero que, nas próximas eleições, a ____________ seja melhor utilizada.
a ( ) conciência;
b ( ) consiência;
c ( ) consciência;
d ( ) conssiência.
05 – O ____________ explode em flores vermelhas ou amarelas.
a ( ) flamboaiã;
b ( ) flamboyant;
c ( ) flamboiã;
d ( ) flamboiam.
06 – Qual a forma aportuguesada da palavra “strogonoff”?
a ( ) istrogonofi;
b ( ) estrogonofe;
c ( ) estrogonofi;
d ( ) istrogonofe.
07 – Faz muito __________ o carnaval no Rio de Janeiro.
a ( ) suceso;
b ( ) sussesso;
c ( ) suceço;
d ( ) sucesso.
08 – D. Maria presenteou-me com um lindo __________, confeccionado por ela mesma.
a ( ) cachecol;
b ( ) caichecol;
c ( ) caxecol;
d ( ) caixecol.
09 – ________ refere-se à briga, desavença, contenda.
a ( ) Rinxa;
b ( ) Rincha;
c ( ) Richa;
d ( ) Rixa.
10 – Salário que lembra contracheque denomina-se:
a ( ) hollerite;
b ( ) olerite;
c ( ) holeriti;
d ( ) oleriti;
e ( ) holerite.
(*) Pesquisadora do GEPEFA – Grupo de Estudos e Pesquisas sobre Famílias – UNESP/Franca.
RESPOSTAS
Resp 1.: c – Ignácio de Loyola Brandão, você sabia que, principalmente aqui, em Araraquara, você tem leitores assíduos?
Resp 2.: a – Pergunto o que significa a sigla (RG). Puxe pelo seu raciocínio?
Resp 3.: b – Atualmente, algumas panelas são fabricadas com antiaderente.
Antiaderente (= que não deixa grudar, que impede a aderência).
Outros exemplos: anticaspa, antiderrapante.
Resp 4.: c – Espero que nas próximas eleições a consciência seja melhor utilizada.
Resp 5.: a – O flamboaiã explode em flores vermelhas ou amarelas.
OBS.: A forma flamboyant é francesa. A forma portuguesa é flamboaiã.
Resp 6.: b – A forma aportuguesada da palavra “strogonoff” é: estrogonofe.
OBS.: Ambas as palavras (“strogonoff” e estrogonofe) são usuais, mas a forma aportuguesada é bem mais frequente (Neves – 2003).
Resp 7.: d – Faz muito sucesso o carnaval no Rio de Janeiro.
Resp 8.: a – D. Maria presenteou-me com um lindo cachecol, confeccionado por ela mesma.
Cachecol (= agasalho para o pescoço).
Resp 9.: d – Rixa refere-se à briga, desavença, contenda.
Obs.: Não confunda com rinchar = relinchar; rincho = relincho (refere-se a animais).
Resp 10.: e – Salário que lembra contracheque denomina-se: Holerite, forma aportuguesada de hollerith, palavra de origem inglesa.
OBS.: Colunista semanal dos jornais Diário do Grande ABC (SP) e Jornal de Araraquara (SP), Jornal Independente – Dois Córregos (SP), Jornal de Nova Odessa (SP), Diário da Franca – Franca (SP) e Diário de Sorocaba – Sorocaba (SP) – Jornal de Itatiba – Itatiba (SP) – O Liberal Regional – Araçatuba (SP) – Diário da Serra.
