Diorindo Lopes Júnior (*)
Não sou economista, não entendo absolutamente nada de economia (a não ser a que sou obrigado a fazer), e tenho cá comigo que os economistas, principalmente quando assumem postos nos governos, também pouco sabem da matéria. Tampouco compreendo o economês que falam.
Mas numa coisa eu posso me considerar bastante bom: graças aos meus pais e aos meus professores, aprendi a ler e a compreender o que leio.
Falo de um relatório oficial do Banco Central justificando a manutenção das taxas de juros. Televisões mostraram, rádios falaram e jornais reproduziram. “Especialistas” foram entrevistados, até quem não tinha nada com isso deu palpite.
Agora, eu também dou o meu.
Dizia este documento que os juros oficiais não poderiam ser rebaixados porque havia “um forte indício inflacionário” a caminho. Imagino que sim, principalmente porque os preços que deveriam ser administrados ou controlados ou, ainda, vigiados, pelo governo estão sempre sendo reajustados.
(Já os salários de quem paga esses reajustes…)
Imagine, leitor, até eu que sou mais bobo, diante de uma notícia dessas, faria exatamente igual ao dono de um pequeno comércio: depois de um dia inteiro na faina, ao saber de qualquer risco inflacionário, “preventivamente” eu passaria a noite remarcando os meus produtos (nuns módicos 5%, para não dar tanto na vista), repassando para o consumidor meu eventual lucro menor. E, cinicamente, justificaria minha atitude responsabilizando a alta da energia, da loteria, dos combustíveis, chuvas, remédios, entressafra, sei lá mais o quê.
Respaldado ainda por um documento oficial, eu sequer ficaria vermelho.
O mais interessante é que a maioria dos “entendidos” consultados (“autoridades monetárias” do próprio governo, inclusive, pasmem!) afirmaram categoricamente que não há, tecnicamente (não sei o que isso quer dizer), qualquer possibilidade de o dragão inflacionário retornar lançando chamas pelas ventas.
Agora, pelo menos, não. É o que dizem os “entendidos”.
Mas não é da inflação que pretendo falar e, sim, chamar atenção para a irresponsabilidade de um órgão oficial em escrever e assinar sobre um perigo cujas possibilidades de ocorrer são remotas. Para começar, a maioria da população mal tem como pagar as contas em dia e botar comida na mesa, muito menos com os preços (oficiais e de supermercado do dia-a-dia) subindo constantemente.
Alertar é um dever, amedrontar com hipóteses e alimentar tais aumentos de preços com subterfúgios vagos é terrorismo mesmo.
É bom acabar com isso.
(*) Diorindo Lopes Júnior (diorindo@uol.com.br) é jornalista e autor de O Sol em Capricórnio.