Marilene Volpatti
Tudo bem… mas o que ganhamos com isso?
Um calor de estourar mamona. Ventilador do teto ligado, para tentar dormir um pouquinho melhor. Às três horas ele levanta e diminui a velocidade; 3h30: ela aumenta… E a noite toda é voltada a este degradante espetáculo. Uma luta entre duas pessoas que não conseguem entrar num acordo, cada uma decidida a fazer o outro abrir mão do que quer por amor, evidentemente.
O ventilador está longe de ser o único causador da discórdia dos parceiros. Com certeza a louça do café vai cheirar mal, na pia, antes que um deles desista de descobrir de quem é a vez e resolva entrar em ação para deixar a cozinha em ordem. Esta luta de vontades é mais do que comum. Em qualquer relacionamento – com amigos, namorados, companheiros, colegas de trabalho, irmãos… – chega, inevitavelmente, o momento em que a pergunta aparece: vai ser a maneira de quem? Uma voz que vem lá do fundo começa a esgoelar: a minha, a minha! O problema, portanto, não está em querermos as coisas do nosso jeito (o que é humano), mas no fato de alguns precisarem que seja dessa maneira, o tempo todo, mesmo à custa dos sentimentos alheios. Que se danem os sentimentos alheios. Quando a necessidade de dar as cartas se torna tão fundamental, o amor vai encolhendo para segundo, terceiro, quarto, vigésimo plano.
Verdade Única
Se o quadro descrito é igual a alguém que você ama, ou mesmo se parece com você, será de grande ajuda compreender o que existe por trás do problema. Para início de conversa, há a sedução de assumirmos o controle seja lá que situação for. Deixar claro que queremos as coisas da nossa maneira indica que temos auto-estima, auto-confiança e coragem para assumirmos responsabilidades. Seria ótimo se fosse só isso, mas como a lua, este comportamento também tem seu lado escuro. Ter sob controle uma situação faz crescer o ego, dá uma inebriante sensação de importância e poder. Resultado: muitas pessoas acabam brigando pelo poder mesmo quando não é necessário, sem saber que uma vitória nem sempre representa ganhar. Como exemplo, um homem controlador que vive exausto, reclamando com a companheira que tem que pensar em tudo. Quando ela se oferece para tomar uma decisão, em seu lugar, ele coloca mil defeitos na escolha e… faz do jeito dele.
Seria amor?
Muita gente acredita que amor é o outro nos colocar em primeiro lugar e ser inteiramente devotado a nos fazer felizes. Se pensarmos assim, o que ocorre? Começamos a testar a devoção de nossos parceiros. Como ele pode preferir almoçar sozinho, se eu quero almoçar com ele? Se me amasse de verdade faria o que eu quero, imagina. O que era uma simples questão de almoçar sozinho vira um ponto de honra.
Tanto homem como mulher submetem seus parceiros a esta provação e muitos nem percebem que podem estar enfraquecendo – senão destruindo – a união dos dois. A principal razão é que, ao fazermos exigências e nos mostrarmos ansiosos, nos tornamos menos atraentes e raramente despertamos o que há de melhor na união. Evidentemente que lutar para termos as coisas, à nossa maneira, às vezes é necessário. Por exemplo: a cunhada que coloca um ponto final nas tentativas de uma irmã de seu marido, de controlar sua vida, está agindo em legítima defesa – e em defesa do casamento. E se conseguir, sem cortar relações com a intrometida, será uma grande vitória. Algumas estratégias ajudam a manter sob controle o impulso para controlar.
Entregue as rédeas
Nós sabemos como as pessoas podem ser incompetentes. E como é fácil entregar as rédeas para outro, quando sabemos que faríamos melhor. Mesmo assim, delegue! Uma vez agindo assim, não critique, não corrija, não tente dar uma melhorada. Não significa dizer que se nosso companheiro for varrer a casa e deixar uma sujeirinha no meio do caminho, tenhamos de agradecer e manter a boca fechada. Depois com jeitinho, tiramos a sujeirinha para não desestimulá-lo.
Devemos desistir
Para uma pessoa decidida, para não dizermos competitiva, isso pode parecer antinatural. Mas lembremos de que qualquer mudança é antinatural por definição. Desistir é permitir que seu parceiro tenha algo que sempre quis sem precisar “lutar” por isso. A transmissão do futebol, na hora daquele programa de entrevistas que você tanto aprecia, é um exemplo. Só para dar uma variada, ligue no canal do jogo. Procure oportunidades de declarar um cessar-fogo.
Seus pais ficam agoniados quando você viaja e não dá notícias? Deixe o número do telefone onde possa encontrá-lo, antes que eles peçam.
O lado bom de desistir, de vez em quando, é que desarmamos nossos “adversários”. Quando eles estão prontos para a batalha, lá estamos nós dando a vitória de bandeja. Com certeza, à princípio ficarão desconcertados, depois desconfiados, a seguir agradecidos e, por fim, orgulhosos de nós. Porque sabem que não somos pessoas de tomarmos uma atitude dessas com facilidade. Logo, é evidente que estamos lhes dando bem mais que o controle de uma situação – nosso gesto, este sim, é uma prova de amor.
Existem indivíduos que não conseguem nem mesmo entender essa situação. Aí, então, o melhor é desistir definitivamente. Não vale a pena investir.
Serviço:
Consultoria: Drª Teresa P. Mendes – Psicoterapeuta Corporal – Fone: 236-9225