Minha primeira coincidência de 2002: eu já havia redigido a presente crônica quando fui ler a revista Veja desta semana, onde a entrevista de abertura versa exatamente sobre superstição. Foi demais !
No sábado e domingo passados, recebi vinte e dois telefonemas de leitores comentando sobre as perguntas bíblicas que fiz pro Samuel desta vez. Minha irmã Loyde também me ligou para dizer que ainda não havia matado nenhuma das dez perguntas.
Nas outra vezes em que bati no Samuel com a Bíblia, andei recebendo ligações de presbiterianos, metodistas, independentes, batistas, adventistas, testemunhas de Jeová, e de membros da Congregação Cristã do Brasil e da Assembléia de Deus. Eles me deram as respostas ou queriam saber delas. Desta vez, entre os que me ligaram, alguns me repreenderam dizendo que eu deveria ter piedade do Samuel e outros, cujos nomes nem posso dizer, me disseram rindo que queriam ver meu amigo estrepado porque ainda não me entregou a Bíblia de volta. Aqui entre nós, nem ele me telefonou ainda…
Aos leitores que gostam de Bíblia, publicarei todas as respostas e respectivas passagens na edição do outro domingo, dia de São Sebastião.
No dia em que escrevi "A Crônica de Meu Avô Manéco", recebi apenas dois telefonemas de leitores.
Um deles me pediu para explicar porque acontece dos filhos serem mais parecidos com os avós do que com os pais. Respondi que isto é uma sabedoria da Mãe Natureza: o adulto que tem o pai vivo verifica que as manias do velho são as mesmas do filho dele. Isto facilita que tal adulto tolere e ampare melhor o pai dele velhinho. Por exemplo: tenho um neto que fala muito palavrão. Por causa disto, minha filha, nem meu genro estranham quando me ouvem dizer ou escrever um palavrãozinho qualquer…
O outro que me ligou foi para me corrigir porque na crônica do Meu Avô eu escrevi "macarrão óleo e alho" ao invés de "alho e óleo". Fui obrigado a explicar prá ele que eu falo isto automaticamente por superstição desde o tempo em que eu jogava baralho, embora atualmente não jogo mais.
Tenho uma filha Arquiteta, chamada Estela, que até hoje sabe de cor uma trova que fiz na década de setenta, a qual eu colocava no bolso quando ia jogar, porque me dava sorte:
" Guaracy quer toda hora
macarrão com óleo e alho
mas no sábado ele adora
um bom jogo de baralho."
Pois eu tenho um amigo, iniciais A.I., que somente jogava pif-paf com uma camisa desbotada. Ele me disse que, vestindo tal camisa, tinha sorte para entrar as cartas na racha… Estas e muitos outras são superstições de jogadores de baralho!
Existe no Direito uma palavra estranha: "supérstite". Essa palavra, de origem latina, serve para indicar aquele do casal que ficou vivo depois que morreu o cônjuge ou para indicar, num caso de desastre, aquele que sobreviveu. Eu não tenho certeza absoluta, mas meus conhecimentos de Latim me fazem crer que a palavra "superstição" tem a mesma origem, dando idéia daquele que foge de certas situações por crendice ou expectativa de que irá sobreviver mais tempo.
Entre as definições da palavra "superstição" estampei lá no canto aquela que menciona as coincidências, que estou sempre falando que me rodeiam o tempo todo.
Às vezes eu falo de coincidências que me acontecem e as pessoas até duvidam, como até eu próprio duvidaria. Meu lance é sempre fotografar para poder ilustrar e provar aquilo que conto…
Já que mencionei a primeira coincidência deste ano, vou contar a última do ano 2001, que me aconteceu logo depois do Natal, lá em Ribeirão Preto. Fui lá para levar os presentes natalinos para meus quatro netos e resolvi passar antes no local de trabalho de minha filha, na Rua Barão do Amazonas.
Eu nunca havia ido lá e não sabia onde ficava tal rua. Parei logo depois do Carrefour e perguntei a um transeunte. Ele me disse: "Segue em frente; quando chegar na avenida, pega ela e você vai encontrar a Barão."
Ele não explicou, mas eu deduzi que a avenida que ele disse seria a Nove de Julho. Cheguei nela e entrei. O trânsito estava repleto e adoidado, sendo difícil pedir outras informações.
A certa altura, emparelhei-me com uma Brasília, dirigida por um velhote que me pareceu simpático. De dentro do carro, eu gritei prá ele: "Oh meu, me ajuda a localizar a Barão do Amazonas!" Ele me respondeu prontamente: "Pode vir atrás de mim que também vou prá lá."
Melhor impossível. Posicionei-me atrás dele com meu problema já praticamente resolvido.
Qual não foi minha surpresa quando verifiquei que as letras da chapa dele eram GLC, exatamente as iniciais de meu nome. Se não bastasse, o número da chapa era 2612, que era a data depois do Natal.
Foi demais. Se eu não estivesse com a máquina para fotografar o carro, os leitores iriam custar a acreditar em mais essa coincidência das muitas que vivo todos os dias, desde que me conheço por gente.
No fim da tarde, nós regressamos para nossa Bela Araraquara. Ao passar por Bonfim, eu reduzi a marcha ao mínimo possível. A Cilene estranhou minha baixa velocidade e me perguntou o motivo.
Fiquei bem quieto e somente expliquei prá ela depois que já estávamos na rodovia novamente. Minha explicação foi a seguinte: Com tantas coincidências, eu tenho medo de passar por essa cidade e ir pros quiabos porque o nome dela é BOM FIM…
Aqui entre nós, superstição é bobagem, mas é melhor não facilitar…