O sono é uma função vital em nossas vidas. Se nós adultos passamos cerca de um terço de nossas vidas dormindo, as crianças passam ainda mais: cerca de metade da infância é passada dormindo.
Segundo a pediatra Cristiane Fumo dos Santos, presidente do Departamento de Medicina do Sono da Criança e do Adolescente da Sociedade de Pediatria de São Paulo (SPSP), o sono tem papel na nossa memória, no aprendizado, na imunidade, no balanço dos nossos hormônios, no controle do humor e também, claro, na nossa capacidade de atenção (ou não, se não dormimos bem) no dia seguinte. “O sono é determinado por três processos: o ciclo claro e escuro, o acúmulo de sono (chamado de processo S) e o ritmo circadiano, nosso relógio interno (chamado de processo C). Para um sono de boa qualidade, esses três processos devem estar alinhados”, explica a médica.
Durante o horário de verão, de acordo com a especialista, esse processo não fica alinhado: “Nosso relógio interno continua no horário anterior, mas o relógio externo está mostrando um horário diferente. Esse descompasso faz com que nosso sono não tenha a mesma qualidade que durante o horário regular”, afirma Cristiane, esclarecendo que crianças pequenas geralmente têm dificuldade em se adaptar ao horário de verão, tanto no início quanto no final, porque seus relógios internos não conseguem, como os nossos, ser ajustados com base cognitiva (por exemplo: “eu não estou com fome na hora do almoço, mas não terei oportunidade de almoçar outra hora, então vou comer agora”).
“Isso facilita a sincronização parcial que acontece durante a mudança de horário. Porém, as crianças pequenas não têm capacidade cognitiva de perceber essa alteração, mantendo seus ritmos alinhados com o horário anterior por mais tempo”, afirma a pediatra. Já na adolescência, fisiologicamente, a secreção do hormônio melatonina acontece de uma a duas horas mais tarde, voltando para o horário pré-adolescência por volta dos 20 anos. “Se no horário habitual vemos muitos adolescentes com dificuldade de iniciar o sono, dificuldade de acordar no horário de ir para a escola, dificuldade em concentrar-se nas primeiras aulas da manhã devido à sonolência, isso fica ainda mais exacerbado durante o horário de verão”, destaca, ressaltando que não é incomum esses adolescentes estarem com três horas de descompasso entre o horário interno e o relógio externo.
A médica revela que a Academia Americana de Medicina do Sono posiciona-se contra o horário de verão há tempos. “Nós, do Departamento de Medicina do Sono da Criança e do Adolescente da SPSP, também entendemos que o horário de verão traz inúmeras consequências negativas para a faixa etária pediátrica. Assim, nos colocamos contra o retorno do horário de verão, pelos efeitos deletérios na saúde e aprendizado de nossas crianças e adolescentes. Saúde e aprendizado estes que já foram bastante comprometidos desde a pandemia”, finaliza Cristiane.
(Vérité Comunicação)
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