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Sem pressa…

Antonio Delfim Netto (*)

O Brasil só vai se libertar do “círculo desastroso” em que está enredado (altos juros, câmbio valorizado e baixo crescimento) quando o governo tiver coragem finalmente de aprofundar o ajuste fiscal. Foi exatamente porque não teve a coragem de completar a reforma monetária iniciada com o Plano Real que governo FHC encerrou seus dois mandatos com a economia estagnada, dívidas constrangedoras (interna e externa) e os mais altos níveis de desemprego de nossa história republicana. Trinta e dois meses depois, mesmo às voltas com todo esse “imbróglio” político, a economia brasileira readquiriu algumas das condições necessárias (embora não suficientes) para reencontrar o desenvolvimento.

São plenamente identificáveis os obstáculos para iniciativas dessa natureza mas vou continuar insistindo que o caminho da liberdade passa por um choque fiscal absolutamente transparente, que empenhe todos os segmentos do governo, sem exceção. Se quiser exercer a condição de liderança, o presidente Lula tem como convencer os agentes econômicos que seu governo vai reduzir a relação Dívida/PIB, seja perseguindo o objetivo de eliminar o déficit nominal, seja por outro meio qualquer. É preciso usar a credibilidade de sua política econômica para levar o mercado a antecipar uma redução importante e definitiva da taxa de juro real de curto prazo, construindo as condições para a venda de papéis pré-fixados e de prazos mais longos, dentro de uma curva de juro normal como os papéis soberanos do Brasil no exterior. Daí para a frente não haverá motivos para que a taxa de juro anual real de 30 dias seja superior a 3% ou que os papéis de 10 anos paguem mais do que 8% ou 10% .

A partir do primeiro movimento de redução da taxa SELIC, com a inflação convergindo para um nível inferior à própria meta, não há mais razões para manter a ciranda de altos juros que aumenta a dívida interna, dificulta os investimentos, sobrevaloriza o câmbio atrapalhando as exportações, eterniza o crescimento medíocre da economia e sustenta níveis indecentes de desemprego. Aturamos as maiores taxas de juro do mundo por um período demasiado longo, 10 anos! Mesmo com este início de baixa, temos hoje uma taxa de juro real de 14%, sem muita perspectiva de redução rápida: se nos guiarmos pelas expectativas capturadas pelo boletim FOCUS que o Banco Central publica, devemos contar com uma taxa SELIC de 18% no final de 2005; com inflação de 4.5%, ainda teremos uma taxa de juro real da ordem de 13.5%, o que nos manterá no topo da estatística dos maiores juros do mundo! Para 2006 as perspectivas são terríveis, pois apontam para uma taxa de juro real de 12% ao final do ano, o que significa que se aceitarmos esse ritmo, sem nenhuma pressa, vamos ter que esperar 120 meses ou 10 anos para voltar a ser um país “normal”, quer dizer igual aos países nossos competidores que pagam 3% ao ano de juro real …

(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br

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