Antonio Delfim Netto (*)
Não existe nenhum país do mundo que tenha se desenvolvido sem a participação do Estado, sem que os governos tenham acionado alavancas importantes de estímulo aos investimentos. Para não ir mais longe na História, desde a primeira revolução industrial na Inglaterra, o desenvolvimento só se realizou porque o Estado construiu estradas e portos e permitiu o funcionamento de um sistema de crédito que financiou os investimentos; foi assim nos Estados Unidos, na França, na Itália, na Escandinávia, em todos os países que souberam se desenvolver. No Brasil, até 20 anos atrás, o Estado foi além dos estímulos: ele foi um ator importante no processo de implantação da siderurgia, na construção de rodovias, portos e usinas hidrelétricas. Foi com a participação do Estado que a economia brasileira passou de quadragésima oitava para a nona posição no mundo, uma posição de liderança dentre os países em desenvolvimento.
Desde a época do governo Collor, no entanto, o Brasil se deixou dominar por uma idéia atrasada, segundo a qual bastava vender o Estado e depois algemá-lo, deixando que o “mercado” e o setor privado comandassem todo o processo de desenvolvimento. Essa “ideologia”, vendida como a “vanguarda da modernidade”, resultou no seguinte: faz 15 anos que a economia patina, a renda per capita estagnou, vendemos às pressas o patrimônio público para pagar juros das dívidas mas continuamos endividados até a alma, enfim o país estagnou e a população empobreceu. Ficou mais pobre e caiu para o décimo quinto lugar na classificação no “ranking” econômico mundial. Tal “política” (que até hoje tenho dificuldade em qualificar) nos acompanhou até o final do governo FHC e manteve algemado o governo Lula em seu primeiro ano.
Semana passada criou-se a oportunidade de romper as algemas com o lançamento de um projeto de política industrial, tenazmente defendido pelo ilustre ministro Luiz Fernando Furlan. Ele pretende dar ao setor industrial o suporte que se tem dado à agricultura (onde o Moderfrota é um exemplo bem sucedido) setor que vem salvando o Brasil do desastre das contas externas há três anos. O projeto de política industrial precisa ser aperfeiçoado. Ele ainda está em aberto, mas se a nova política for levada a sério, bem gerenciada e com coordenação inteligente, poderá fazer a grande diferença de qualidade que todos nós esperamos do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Ela será o complemento importante do extraordinário resultado da política de estabilização do ministro Antonio Palocci. Estabilidade que todos sabemos ser fator necessário, mas não suficiente para melhorar a condição de vida do brasileiro que só virá com novos investimentos para o rápido crescimento da produção e a criação de empregos.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br