Antonio Delfim Netto (*)
Tem razão a Confederação Nacional da Indústria quando registra que não são confiáveis os dados sobre o “produto potencial” usados pelo Banco Central para sustentar a idéia que o Brasil não pode crescer mais que 3,5%, sob pena de produzir a volta da inflação. É claro que existem limites ao crescimento, mas com certeza não é 3,5%. Há quase um ano venho tentando convencer as pessoas que este é um número falso, uma “invenção estatística” que pode ser aplicada tanto para o Brasil de 2004 como para 1999 ou 2000. Encontraríamos os mesmos 3,5% cabalísticos… Trata-se de mera construção a que se dedicam tarólogos e economistas que formam no clube dos tarometristas, capazes de traduzir abstrações como se fossem a mais avançada ciência. São coisas que até poderiam ser úteis na sala de aula, como exercício para entender alguns problemas do desenvolvimento mas não para fixar limites ao crescimento do país.
É muito saudável que a indústria desconfie de estimativas sobre os níveis de ocupação que misturam funções de produção tão díspares quanto a de uma usina de alumínio em Sorocaba e a da sorveteria de Votorantin. Como é possível que entre na cabeça de alguém que o resultado final tenha o significado que lhe atribuem? A CNI vem esquentar o debate num momento em que alguns economistas do governo (do próprio Banco Central e do IPEA) começam a se render à idéia que o tal produto potencial é falho, uma abstração muito grande. Nosso desenvolvimento tem sido vítima de uma série de mitos que são uma combinação de má teoria econômica com ideologia: “o Brasil não pode crescer porque não tem poupança interna”; “não podia ter equilíbrio em conta-corrente por causa dos déficits das contas públicas”. Esse mitos, muito populares no governo anterior, foram desmontados pela realidade.
Esta nova realidade – o crescimento de 4,8% do PIB em 2004- mostra que o “espírito do desenvolvimento” vai enterrando a mitologia. Ele se incorporou ao setor produtivo, primeiro na agroindústria, na expansão do comércio exterior e depois no setor industrial que está crescendo 8% este ano. Foi incorporado também pelo presidente Lula (a bem da verdade desde o início de seu mandato), embora tolhido no primeiro ano pela necessidade de pôr ordem na casa. Ninguém deve duvidar da disposição do Presidente de acelerar o crescimento e de sua crença que é o setor privado que deve fazer o desenvolvimento. Ele transmitiu essa mensagem esta semana em duas ocasiões muito especiais, na posse de Paulo Skaff na presidência da FIESP e no evento dos 40 anos da Odebrecht, na sede da CNI em Brasília. Pediu mais ousadia aos empresários, mas garantiu-lhes que vai aprofundar a política de desoneração tributária nas exportações e nos investimentos produtivos, que vai acelerar a redução das alíquotas do IPI e que seu governo não vai deixar no caminho quem assumir os riscos de investir no aumento da produção.
(*) E-mail: dep.delfimnetto@camara.gov.br